Vanessa Zdanowski assumiu o cargo de diretora executiva da Escola 42 em Portugal depois de mais de duas décadas enquanto consultora da multinacional Korn Ferry, onde era senior partner. Vanessa Zdanowski é licenciada em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa, começou a sua carreira em Lisboa e, mais tarde, abraçou a carreira internacional no Brasil, onde se destacou e assumiu a liderança do escritório da Korn Ferry no Rio de Janeiro, tornando-se uma das partners mais jovens da empresa. Posteriormente, liderou os escritórios de Barcelona e, mais recentemente, o de Lisboa.
A Escola 42 é considerada uma das melhores e mais inovadoras escolas de software development do mundo, com mais de 18 mil alunos em 31 países, espalhados por 52 campus. Oferece um método inovador e gamificado, que promove a aprendizagem sem salas de aula, sem horários e sem professores. Nesta escola aprende-se de forma prática, desenvolvendo projetos entre pares, num modelo que parece um jogo. Assim, para além das competências técnicas, cada aluno desenvolve a capacidade de comunicação, trabalho em equipa e resolução de problemas, bem como a criatividade, autonomia e resiliência. O programa da Escola 42 é 100% gratuito para os alunos (as propinas são totalmente pagas por mecenas) e não exige background académico ou experiência em programação. Em Portugal abriu portas em julho de 2020 e, desde outubro deste ano, é liderada por Vanessa Zdanowski.
O que a levou a trocar a Korn Ferry pela liderança da Escola 42?
O projeto da Escola 42 foi “amor à primeira vista”. A missão da 42 está absolutamente alinhada com o meu propósito profissional e com a minha trajetória em consultoria. O que me move é a transformação das organizações e da sociedade através das pessoas, é cultivar talentos — agora alunos —, ajudá-los a alcançar o seu potencial, dando-lhes uma abordagem prática e disruptiva de aprendizagem.
Qual a missão que lhe foi entregue?
A minha grande missão é garantir que o modelo da 42 ganha escala e que tem impacto em Portugal. Temos a ambição de formar os futuros profissionais de referência em software development que estarão preparados para serem líderes na área tecnológica, seja através do empreendedorismo/criação do próprio projeto ou da sua integração em empresas estabelecidas. Em última instância, tornar a Escola 42 na primeira escolha de qualquer pessoa que queira ser software developer.
Quais os principais desafios que está a enfrentar?
Concentro-me fundamentalmente em três desafios essenciais: a sustentabilidade financeira da escola, a sua divulgação e atratividade, e o aumento do seu impacto através da empregabilidade dos nossos alunos.
Relativamente ao primeiro desafio, como todos sabemos, em Portugal, as práticas de mecenato e filantropia são à nossa escala, por isso é necessário encontrar estratégias complementares e criativas para garantir a operação de cada uma das Escolas com quase 500 alunos cada. Para o segundo desafio, investir em partilhar o nosso modelo de aprendizagem junto de potenciais candidatos a alunos e dar a conhecer tantas e tantas histórias de sucesso que nos chegam de toda a Network 42, que reúne ao redor do mundo mais de 50 Campus. Para o terceiro desafio, estamos a desenvolver todos os esforços para impulsionar a empregabilidade dos alunos no mercado tecnológico, quer através da sua preparação para o mercado de trabalho, quer por via de acesso a estágios. É incrível a capacidade de desenvolvimento dos nossos alunos, e um orgulho em receber feedback das empresas que os empregam!
Dos mais de 1250 alunos que passaram pela Escola 42 cerca de 17% são mulheres. É uma realidade até mais interessante quando comparamos com os cursos de Engenharia Informática em Portugal onde a percentagem é ainda mais baixa.
Em que medida as suas experiências profissionais anteriores lhe estão a/vão ser úteis nesta nova fase?
A minha experiência em consultoria deu-me a capacidade para pensar estrategicamente, planear de forma muito rigorosa, cultivar relações corporativas com parceiros, empresas e mecenas da Escola 42. Esta habilidade em construir e manter colaborações sólidas, bem como em compreender as necessidades do setor, será vital para o sucesso da 42.
Depois, e como vivi muitos anos fora de Portugal, trabalhei com culturas muito diferentes, geri equipas muito jovens e outras muito seniores e especializadas, participei em projetos muito complexos, por isso consegui desenvolver habilidades de adaptação a ambientes dinâmicos, capacidade de liderar pessoas com elevada tolerância à ambiguidade: sem dúvida serão ativos valiosos que pretendo aplicar nesta nova fase!
Qual a percentagem de mulheres entre os alunos que já passaram pela Escola 42?
Desde o início da 42 em Portugal, em 2020, já passaram mais de 1250 alunos pela Escola, sendo que cerca de 17% são mulheres. A nossa realidade não está muito distante da maioria das 42 pelo mundo e é até mais interessante quando comparamos com os cursos de Engenharia Informática em Portugal onde a percentagem é ainda mais baixa. Mas quando procuramos referências que nos inspirem, escolhemos a 42 Paris ou a 42 Berlin que atingiram a paridade de género recentemente. Acreditamos que a tecnologia tem um potencial enorme para as mulheres explorarem e o seu crescimento nesta área é inevitável.
Gostava que a 42 fosse um “porto de abrigo” para as mulheres que queiram ter uma carreira na área da tecnologia, sabemos que em ambientes maioritariamente masculinos, como este, uma mulher acaba muitas vezes por se sentir isolada ou deslocada.
Aumentar o número de mulheres a trabalhar em tecnologia é um dos objetivos da Escola? Que medidas concretas tem nesse sentido?
Naturalmente! Até porque a diversidade faz parte da génese da Escola 42 e é determinante para a igualdade de oportunidades, para a inovação, para o crescimento e para o desenvolvimento económico. Por isso, a promoção da diversidade também passa por aumentar a representação de mulheres na tecnologia. E para atingir esse objetivo estamos a desenvolver uma série de medidas concretas, nomeadamente:
– Programas de mentoria, já que uma das estratégias será aumentar a exposição das alunas a role models com sucesso profissional em áreas ligadas à tecnologia;
– Parcerias com organizações focadas em equidade de género, como a Women in Tech, onde temos organizado conferências sobre temas tech específicos, a grande maioria das vezes apresentados por mulheres;
– Iniciativas para inspirar mais mulheres a ingressarem e prosperarem na 42, como OpenDays aos nossos Campus, onde possam ouvir testemunhos das nossas alunas e onde as visitantes possam expor as suas dúvidas e inseguranças.
Gostava que a 42 fosse um “porto de abrigo” para as mulheres que queiram ter uma carreira na área da tecnologia, sabemos que em ambientes maioritariamente masculinos, como é o caso desta área, uma mulher acaba muitas vezes por se sentir isolada ou deslocada.
Gostava também de poder levar a 42 de forma massiva ao ensino secundário: dar a conhecer a 42 de forma proativa e indiscriminada a miúdas e miúdos que estão prestes a decidir, mas ainda não sabem que próximo passo dar.
Que conselhos deixa a uma jovem que esteja hesitante em seguir uma carreira em tecnologia?
Para qualquer jovem hesitante, independentemente de ser mulher ou homem, com maior ou menor experiência profissional ou académica em tecnologia, diria: confia nas tuas capacidades, abraça a curiosidade e não tenhas receio do desconhecido nem de falhar. E, se tens dúvidas, há muitas atividades ou comunidades com quem te podes envolver para as esclarecer. A tecnologia é um campo vasto e empolgante, cheio de oportunidades para aprender e crescer.
Para as mulheres um conselho adicional: não acredites que a tecnologia é “só para homens”, exige o teu lugar, acredita na tua natural capacidade para superar desafios, constrói uma rede de apoio e lembra-te de que o caminho para o sucesso é construído passo a passo.
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