Inês Odila, Chiara Bassi e Julia Abarca Muro têm em comum o facto de serem country manager da Coverflex nos seus países – Portugal, Itália e Espanha. A empresa foi fundada, em 2019, por cinco homens — Luís Rocha (ex-TUI Musement), Miguel Santo Amaro (ex-Uniplaces), Nuno Pinto (ex-Kide), Rui Carvalho (ex-Unbabel) e Tiago Fernandes (ex-Bitmaker) —, que decidiram apostar em mulheres para a internacionalizarem. As três têm a desafiante missão de apresentarem nos seus mercados uma solução de compensação flexível, que permite às empresas reduzir custos e maximizar o potencial de rendimentos dos seus colaboradores. As empresas podem agregar a gestão da compensação para além do salário, com benefícios, seguros, subsídio de refeição, budgets e descontos exclusivos. Por seu lado, os colaboradores podem desbloquear o seu potencial de rendimentos, personalizar o pack de compensação, fazendo escolhas sobre como gastar o orçamento naquilo que melhor lhes convém, utilizando o cartão pessoal VISA e a aplicação.
Inês Odila, Chiara Bassi e Julia Abarca Muro despertaram a nossa atenção por serem três mulheres no mundo da tecnologia — que continua a ser predominantemente masculino, especialmente ao nível dos cargos de topo — e a desbravarem novos mercados, porque é essa a missão de cada uma delas nos respetivos mercados.
Inês Odila, country manager de Portugal, começou a carreira na academia, tendo depois integrado a Sonae e a Farfetch, onde participou em projetos de e-commerce e liderou iniciativas internacionais de integração de marcas de luxo. Antes de se juntar à Coverflex, passou pela CLOO – Behavioral Insights Unit, onde desenvolveu projetos de ciências comportamentais éticas. Em 2024, recebeu o prémio de Portuguese Women in Tech, que reconhece os sucessos e contribuições das mulheres na área de tecnologia em Portugal.
Chiara Bassi, country manager de Itália, trabalha no mundo digital há mais de 15 anos, gerindo a expansão no mercado italiano de start-ups internacionais em rápido crescimento, consolidando as suas operações e criando comunidades de grande impacto nos seus 3 ‘unicórnios’: Groupon, WeWork e Domestika.
Julia Abarca Muro, country manager de Espanha, traz uma vasta experiência com o seu percurso de 12 anos no ecossistema das start-ups. Antes de se juntar à Coverflex, foi fundamental para impulsionar os esforços de expansão e de aumento de escala da empresa americana WeWork no Sul da Europa como diretora regional. A sua visão estratégica e liderança permitem-lhe enfrentar os desafios e agarrar as oportunidades dos ambientes de crescimento rápido.
Qual o fio condutor da vossa carreira até chegar à Coverflex?
Inês Odíla (Portugal) – Sou Mestre em Bioengenharia pela Universidade do Porto e enquanto estudava sempre me motivei a frequentar atividades complementares como foi integrar o Conselho Pedagógico na Faculdade de Engenharia, ser líder do departamento de Ação Social da Associação de Estudantes de Engenharia ou pertencer à Tuna Feminina de Engenharia.
Após concluir o curso, iniciei o meu percurso profissional como Investigadora na área da Medicina Regenerativa no atual I3S, enquanto frequentava um outro Mestrado em Gestão pela Universidade Católica Portuguesa. Foi também nesta universidade que lecionei as disciplinas de Sistemas de Informação e Gestão de Operações.
Com vontade de estar mais perto da tecnologia, trabalhei na Sonae e na Farfetch, mais tarde juntei-me à CLOO – Behavioral Insights Unit como Growth and Strategy Director, onde desenvolvi projetos de Ciências comportamentais éticas. Mais recentemente, integrei a Coverflex em 2020, onde liderei as equipas de clientes e, em janeiro de 2023, fui convidada a liderar o negócio em Portugal.
Chiara Bassi (Itália) – No meu caso, o fio condutor da minha carreira foi sempre trabalhar em algo que tenha forte impacto e trabalhar com pessoas com muita ética. Não importa a indústria, preciso de acreditar fortemente na missão. Jogue limpo para ir longe.
Julia Abarca Muro (Espanha) – O meu princípio orientador sempre foi impulsionar mudanças e inovações impactantes nos setores tecnológico e empresarial. Fui motivada pela oportunidade de fazer a diferença, especialmente em áreas onde as mulheres estão sub-representadas, como a tecnologia e o imobiliário.
Chiara Bassi (Itália): “Quanto mais me torno “experiente” nesta área, mais jovens são as pessoas com quem trabalho, e esta é uma fonte incrível de crescimento e energia.”
Ainda há poucas mulheres a trabalhar em empresas de tecnologia e ainda menos a liderá-las. O que as atraiu e a vos mantido nesta área?
Inês Odila (Portugal) – A minha entrada no mundo da tecnologia foi, em grande parte, uma progressão natural, influenciada pela minha formação na faculdade de engenharia. Após uma passagem pela investigação, comecei a trabalhar em empresas tecnológicas, e sempre fui muito motivada pela dinâmica, pragmatismo e acima de tudo pela velocidade destas empresas.
Chiara Bassi (Itália) – A mentalidade das pessoas, a energia, o ritmo. Você pode realmente ter autoridade, porque os efeitos das suas decisões são visíveis no curto prazo — e isso funciona tanto para as boas quanto para as más, é claro. Quanto mais me torno “experiente” nesta área, mais jovens são as pessoas com quem trabalho, e esta é uma fonte incrível de crescimento e energia.
Julia Abarca Muro (Espanha) – Sempre fui atraída pelas infinitas possibilidades de inovação e pela oportunidade de estar na vanguarda da construção do futuro. Apesar da sub-representação das mulheres na tecnologia, o que me manteve nesta área foi a oportunidade de causar um impacto tangível, de fazer parte da promoção da mudança e de preparar o caminho para as futuras gerações de mulheres na tecnologia.
Julia Abarca Muro (Espanha): “Os colaboradores procuram benefícios personalizados que se alinhem com os seus estilos de vida, enquanto as empresas reconhecem o valor de oferecer diversas opções para atrair e reter talentos.”
O que as fez aceitar a proposta da Coverflex?
Inês Odila (Portugal) – A Coverflex combina a minha paixão pela tecnologia e pela educação. Acredito que a melhor ferramenta que podemos ter para evoluir é a educação. Educarmo-nos para termos acesso a mais informação e tomarmos as decisões que consideramos mais acertadas.
Chiara Bassi (Itália) – Os fundadores. Eu não sabia nada sobre a indústria naquele momento, mas eles foram ótimos em mostrar o potencial do projeto e o poder da missão que tinham em mente para a Itália: abanar e penetrar num enorme mercado que ainda era governado apenas por dinossauros.
Julia Abarca Muro (Espanha) – Aceitar a proposta da Coverflex foi uma progressão natural para mim, pois a dinâmica da indústria tecnológica apresenta constantemente novos desafios e oportunidades de crescimento, o que alimenta a minha paixão e me mantém tão envolvida.
O que está a mudar no seu mercado na forma como colaboradores e empresas olham para a remuneração e benefícios?
Inês Odila (Portugal) – No mercado atual, a remuneração e os benefícios deixaram de ser apenas aspetos operacionais, mas sim o reflexo do compromisso mútuo entre empresas e colaboradores. As empresas estão mais conscientes da importância de garantir a satisfação dos colaboradores. E esse caminho é feito trabalhando na personalização e flexibilidade porque todos os colaboradores se querem sentir únicos e valorizados.
Chiara Bassi (Itália) – Consciencialização e educação sobre o tema, que faltavam no passado. Mas também a experiência de utilizador do colaborador. Se antes o bem-estar corporativo era apenas um “privilégio concedido” com ênfase em quem o dava (a empresa), agora o foco está em quem o recebe (o colaborador).
Julia Abarca Muro (Espanha) – No cenário dinâmico de hoje há uma mudança notável na forma como os colaboradores e as empresas percebem a remuneração e os benefícios. Flexibilidade, personalização e transparência são cada vez mais importantes. Os colaboradores procuram benefícios personalizados que se alinhem com os seus estilos de vida, enquanto as empresas reconhecem o valor de oferecer diversas opções para atrair e reter talentos.
O que traz a Coverflex de novo e como está a vossa proposta de valor a ser acolhida nos vossos países?
Inês Odila (Portugal) – A Coverflex destaca-se no mercado ao oferecer uma plataforma inovadora que integra cinco produtos de compensação num único sistema, incluindo subsídio de alimentação, benefícios, budgets, seguros e acesso ao salário ganho. Esta abordagem all-in-one é única em Portugal e simplifica significativamente a gestão de compensação tanto para as empresas como para os colaboradores. A nossa app e cartão proporcionam aos colaboradores a liberdade de escolher onde desejam utilizar a sua compensação, de forma simples e intuitiva, adicionando conveniência ao processo.
O sucesso da Coverflex é evidente, sendo já milhares as empresas que confiaram em nós para melhorar a forma como entregam compensação. Com apenas três anos de mercado, conquistámos mais de 130 mil utilizadores, o que reflete o acolhimento que tivemos no mercado. Orgulhamo-nos de democratizar a compensação, tornando-a acessível a empresas de todos os tamanhos, desde pequenas empresas com apenas um colaborador, até grandes organizações com 13 mil colaboradores.
Chiara Bassi (Itália) – Quase tudo é novo. A experiência dos colaboradores com um cartão voucher, a maior rede de bem-estar empresarial em Itália, a digitalização total do processo para os gestores, um modelo sustentável que já não sobrecarrega os comerciantes com comissões, mas ajuda as empresas a crescer. Nada que o mercado tenha visto antes.
Julia Abarca Muro (Espanha) – A proposta de valor única da Coverflex reside na sua capacidade de fornecer soluções de benefícios personalizáveis e flexíveis que se adaptam às necessidades individuais dos colaboradores e aos objetivos estratégicos das empresas. A nossa abordagem está a ser bem recebida no mercado, pois abrange todo o mundo da remuneração, não apenas benefícios, graças aos nossos produtos Flexpay e Budgets.
Chiara Bassi (Itália): “A presença feminina na Coverflex é massiva. É a primeira empresa em que trabalho com tantos cargos relevantes preenchidos com sucesso por mulheres.”
Quais os principais desafios com que têm lidado?
Inês Odila (Portugal) – Um dos pilares que mais nos move é o desafio da literacia financeira em Portugal e como podemos contribuir para a aumentar não só para os colaboradores, mas também para as empresas.
É um tema que vai além da simples compreensão de como gerir o dinheiro, trata-se de capacitar pessoas e organizações a compreenderem plenamente os conceitos financeiros.
Encaramos este desafio como uma oportunidade significativa para fazer a diferença. Ao descomplicar a questão da compensação e abordar abertamente o tema, podemos capacitar os colaboradores e as empresas a tomarem decisões financeiras mais conscientes e alinhadas com os seus objetivos. Para isso é essencial fornecer acesso à informação e a tecnologia que seja acessível e compreensiva.
Chiara Bassi (Itália) – Toda a indústria era muito tradicional, tanto a oferta quanto a procura, e você pode ser disruptiva e ágil, mas se tiver de lidar com stakeholders tradicionais, terá de ajustar o seu ritmo e, às vezes, ser mais lento. Isso aconteceu, por exemplo, com negociações com grandes redes de supermercados, que demoraram um pouco mais do que o esperado, mas agora estão a funcionar. E no início também o reconhecimento da marca. Quando começámos, há mais de um ano, ninguém nos conhecia em Itália. Agora, depois de várias campanhas, estratégias de marketing de crescimento, projetos de relações públicas, eventos, boca a boca… é um mundo diferente.
Julia Abarca Muro (Espanha) – Um dos principais desafios com que tenho lidado gira em torno de navegar pelas complexidades do cenário de mercado em evolução dentro da Coverflex. Embora as empresas estejam cada vez mais conscientes da importância do mercado de benefícios, ainda há um trabalho significativo a ser feito em termos de educação e alinhamento com o cenário em rápida evolução. Além disso, o quadro regulamentar limitado acrescenta outra camada de complexidade, obrigando-nos a antecipar e a adaptar-nos proativamente a potenciais mudanças no ambiente regulamentar.
O facto de a Coverflex ter três mulheres a liderar os seus três mercados é uma mensagem de esperança para tantas mulheres que continuam tão longe de funções de liderança?
Inês Odila (Portugal) – A presença de mulheres na liderança dos três mercados na Coverflex vai para além de ser apenas uma mensagem de esperança; é um exemplo palpável de possibilidade e igualdade. Que seja relevante para que outras mulheres possam alcançar posições de liderança e sucesso em qualquer campo, incluindo tecnologia e negócios. É essencial que isso se torne uma norma, onde o talento e a competência são reconhecidos independentemente do género.
Chiara Bassi (Itália) – A presença feminina na Coverflex é massiva. É a primeira empresa em que trabalho com tantos cargos relevantes preenchidos com sucesso por mulheres. E não falo apenas de country managers: cientistas de dados, engenheiras, designers, desenvolvedoras de software, chefe de produto, chefe de operações e muito mais. Tornar-se diretora-geral (felizmente) não é o sonho de todas as mulheres, mas as profissionais ainda enfrentam dificuldades para abordar assuntos STEM devido à perda de oportunidades. Tenho orgulho na mensagem de meritocracia, acessibilidade e verdadeira igualdade de género que a Coverflex trabalha arduamente para partilhar diariamente. É uma responsabilidade, mas também algo para se orgulhar.
Julia Abarca Muro (Espanha) – A vontade da Coverflex em ter as mulheres no comando dos seus mercados não só significa progresso, mas também sublinha a importância de promover uma cultura de empoderamento e igualdade dentro das organizações. Ao defender a diversidade de género e ao proporcionar oportunidades às mulheres para prosperarem em cargos de liderança, empresas como a Coverflex estão a estabelecer um precedente a ser seguido por outras.
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