O papel da perspectiva feminina na liderança

Sara Pestana dos Santos, da Natixis em Portugal, reflete sobre esta perspetiva nas várias dimensões da sua vida e também sobre o impacto que poderá ter, de forma transversal, para os líderes nas organizações.

Sara Pestana dos Santos é Team Leader da equipa Anti-Fraud & Reconciliation na Natixis em Portugal.

Sara Pestana dos Santos, Team Leader da equipa Anti-Fraud & Reconciliation na Natixis em Portugal

 

Há uns anos, quando realizei a minha licenciatura em Psicologia Social e das Organizações, a literatura vigente sobre liderança baseava-se, sobretudo, nos tipos de liderança existentes e pouco se falava sobre a integração e papel do líder no seio da organização. A perspectiva era muito conceptual; na melhor das hipóteses, abordavam-se características pessoais – como poder e carisma – que impactavam na liderança, mas com praticamente nenhuma referência ao impacto do líder na sua equipa. Da mesma forma, era raro lermos sobre as questões de género no âmbito da liderança, pois, no fundo, era como se estivesse implícito que o líder a que nos referíamos seria um homem. Mas o mundo está a mudar e hoje sabemos que a liderança feminina aporta uma visão única às organizações: a força da liderança e a “cara da gestão” perante as equipas, combinadas com uma perspectiva colaborativa e orientada às pessoas. A liderança feminina, ou uma perspectiva de liderança mais feminina, bem como a diversidade no meio corporativo, continuarão a enriquecer e a transformar as organizações.

Atualmente, estamos perante uma transformação significativa da liderança. E os dados comprovam-no. Não só as mulheres estão cada vez mais presentes em cargos de liderança – a percentagem de mulheres nos Conselhos de Administração das empresas em Portugal é de, em média, 27%, face aos 22% registados em 2018 –, como também são mais influentes nos cargos que exercem.

Anos após concluir a minha formação, e durante a primeira função de liderança, perguntaram-me como me sentia. Lembro-me de me sentir um pouco como a “secretária” de toda a equipa. Pouco tempo depois, numa formação sobre liderança, pediram aos participantes para indicar uma palavra que os descrevesse enquanto líderes. Houve quem dissesse “exigente”, “trabalhador”, “comunicativo”, entre outros adjectivos semelhantes. Eu, muito a medo, escolhi a palavra “mãe”. Confesso que me senti envergonhada por reconhecer que essa era a palavra que mais sentido me fazia.

Hoje não tenho dúvidas que esta palavra faz todo o sentido. Acredito que um líder deve procurar inspirar e apoiar a sua equipa e uma das suas principais missões deve ser formar novos líderes. É essencial que o líder seja mentor e acompanhe de forma próxima todos os elementos da sua equipa. Se considerarmos a maternidade como o processo de preparar o outro para ser independente, entendemos que também um líder deve desprover-se do seu ego e preparar os seus membros para serem os líderes de amanhã. Só podemos abraçar esta missão a partir de um lugar de serviço ao outro. De outra forma, não é uma liderança real e, por isso, não é eficaz. Muitos são os autores, como Simon Sinek, que argumentam que os líderes eficazes não se devem focar apenas em resultados, mas também nas pessoas. Por isso, é cada vez mais importante criar um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam valorizadas, seguras e inspiradas, dando ênfase à empatia, à comunicação e às relações interpessoais nas equipas.

É com esta convicção que tenho feito o meu percurso profissional e foi esta visão que me permitiu evoluir e hoje ter a oportunidade de liderar uma equipa de 12 pessoas como Team Leader de Anti-Fraud & Reconciliation na Natixis em Portugal. Hoje assumo, sem medos, que sou muita coisa enquanto líder: sou “mãe” e também “secretária”. Sobretudo, procuro apoiar a minha equipa, prepará-la para evoluir, aliviar a sua carga de trabalho e defendê-la sempre que possível.

No entanto, é primordial continuar a trabalhar para uma distribuição mais equitativa dos cargos de liderança, para que sejam realmente representativos da diversidade (de género, mas não só) da massa corporativa. Só assim se tornarão as empresas mais ricas e capacitadas para enfrentar os desafios que as novas gerações impõem sobre o mercado de trabalho e, cada vez mais, sobre os seus líderes.

 

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