É sempre temerário arriscar uma resposta. No entanto, há aspectos consolidados e tendências que vão nortear o seu destino.
Depois do extraordinário desenvolvimento internacional do luxo nas duas últimas décadas do final do século XX, face às crises que grassam na Europa e na América do Norte é legítimo questionar de que forma o setor se comporta e como reage à retração económica.
O consumidor tornou-se mais criterioso nas escolhas que faz.
Segundo o BCG a partir de 2005 o comportamento do consumidor alterou-se: este tornou-se mais criterioso nas escolhas que faz. A crise veio reduzir o consumo imprudente porque se dá maior valor ao dinheiro. Por outro lado, há como que um grilo das consciências a alertar para o facto de se gastar desordenadamente, enquanto outros passam por enormes dificuldades. No entanto, o mercado do luxo enfrentou com resiliência a crise e continua forte e rentável.
Luxo socialmente responsável
As novas categorias de mercado continuarão, certamente, o caminho iniciado nos anos 80 do século passado. Foram-se impondo timidamente os denominados mercados verdes ou mercados dos produtos socialmente responsáveis, na expressão de Kapferer e Bastien: produtos e serviços menos nocivos ao ambiente e derivados do aproveitamento sustentável dos recursos naturais, tal como foram delineados na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, retomados na Comissão Brundtland de 1983, trabalhos cujos resultados foram publicados em 1987 no Relatório Our Common Future. Como nota Gilles Lipovetsky , vêm registando, desde 2001 um importante incremento de vendas e notoriedade, criando a consciência coletiva da necessidade de defender e melhorar o ambiente humano para as gerações actuais e futuras, a par do desenvolvimento socioeconómico e da paz. As empresas por seu lado, tentam não defraudar estes novos consumidores mais conscientes e informados, acompanhando a tendência.
A perpétua função ostentatória
A continuidade social histórica do luxo mantém-se em meios restritos, como sublinha Gilles Lipovetsk: ”Não há qualquer dúvida, com efeito, que em diversos meios muito ricos (monarcas, príncipes, magnatas, industriais e financeiros) se perpetua a tradicional função social das despesas sumptuárias ostentatórias. Exibir o seu nível de riqueza, gastar em vão, mostrar-se um mãos largas e mecenas, nada disto desapareceu e continua a funcionar, em todos os aspectos como uma norma social obrigatória”.
Fora desse âmbito reduzido, existem os “comuns mortais”, com as suas aspirações naturais. No meio da sua enorme diversidade cultural, o homem, mantém a sua essência. A sua natureza psíquica é imutável pelo que, enquanto existir o homem existe sonho.
Gastam quantias fabulosas para manter os seus excêntricos estilos de vida.
Daí que se possa afirmar que o luxo é eterno: existirá enquanto o ser humano habitar o mundo. A frase de Shakespear é lapidar: “ O último dos mendigos tem sempre qualquer coisa de supérfluo! Reduza-se a natureza às necessidades da natureza, e o homem é um animal.”
A par de indivíduos com sonhos modestos, existem outros que gastam quantias fabulosas para manter os seus extravagantes e excêntricos estilos de vida, sempre na busca do the best of de best. Já houve alguém, que se tornou no primeiro turista espacial e que gastou mais de 22 milhões de euros para viajar numa nave interplanetária. Quem sabe se estas viagens não se tornarão no futuro tão vulgares como se tornaram na actualidade as viagens de avião que, no princípio da sua existência, foram, também, um exclusivo de reduzido número de pessoas. Quem sabe?
Outros capítulos de “A deslumbrante história do luxo”
Capítulo 1. Introdução: tudo o que luz é luxo
Capítulo 2. Paleolítico: o luxo espiritual
Capítulo 3. Antiguidade: o luxo torna-se ostentação
Capítulo 4. Esbanjar para impressionar
Capítulo 5. Idade moderna, paixão por antiguidades
Capítulo 6. O luxo das amantes e do champanhe
Capítulo 7. O brilho da corte do rei Sol
Capítulo 8. As mulheres e amantes de Luís XIV
Capítulo 9. As mulheres que brilharam na corte do Bem Amado
Capítulo 10. Maria Antonieta, Madame Déficit
Capítulo 11. D. João V, o Rei Sol Português
Capítulo 12. Alta costura e boas maneiras
Capítulo 13. Da Belle Époque a guerra mundial
Capítulo 14. Alta costura, o luxo superlativo
Capítulo 15. O novo luxo
Capítulo 16. O novo luxo global
Capítulo 17. A civilização do hiper-consumo