Diz quem sabe que o sócio deve ser uma pessoa que conheçamos bem, mas Filipa Júlio e Maria Cunha cruzaram-se num concurso de empreendedorismo, onde a primeira apresentou a ideia de uma marca de sapatos rasos e a segundo era jurada. Dizem os manuais que uma empresa deve nascer bem fundamentada num estudo de mercado, mas as empreendedoras da Josefinas nunca o realizaram, e até tinham dúvidas se os sapatos rasos seriam suficientemente apelativos num universo feminino que remete para os saltos altos. Alertam os entendidos que o empreendedor deve dominar a alma do seu negócio, mas nenhuma delas percebia de calçado.
Se as regras fundamentais não foram seguidas por estas duas mulheres, a sorte poderá ter protegido a sua audácia. Mas a verdade é que, além de apostarem na excelência do produto, Maria Cunha e Filipa Júlio concretizaram uma ideia de negócio bem-sucedida, sempre com muita criatividade e irreverência. Lançaram as primeiras sabrinas, “feitas à mão, com muito amor”, em 2013. Num golpe de sorte (ou de visão?) as Josefinas (nome da avó da fundadora, que a levava ao ballet) foram recomendadas no blogue Stylist por Maria Guedes, e, em 2015, chegaram às bloggers internacionais, a começar por Chiara Ferragni, do The Blonde Salad, que catapultaram a marca para os mercados mundiais.
As Josefinas transformaram-se num must-have das it girls e a sua reputação consolidou-se quando, no verão de 2016, abriu uma loja em Nova Iorque, um projeto temporário com duração de um ano. A passos largos, juntou outros modelos ao seu universo: ténis, sandálias, sapatos, botas, chinelos e malas, todos de cariz muito feminino, valorizando sempre, como no primeiro dia, a arte artesanal de mestres sapateiros com décadas de conhecimento acumulado.
Tudo é pensado para gerar um grande “UAU” quando se abre a caixa fabricada à mão e se revelam os sapatos, vendidos entre 150 e 1000 euros. Remetendo para o universo do luxo, em que se move, a Josefinas permite a personalização das sabrinas e cada par é expedido com um cartão assinado pela equipa e o nome do artesão que o fez. À qualidade dos materiais e do trabalho artesanal, junta-se, assim, o marketing sofisticado.
É difícil imaginar que tudo isto é pensado e gerido no último andar de um prédio de habitação, em Braga, e que sapatos produzidos em São João da Madeira, numa oficina de mestres sapateiros com décadas de experiência, são vendidos em todo o mundo.
“Há uma coisa que aprendi: temos de fazer contratos acerca de tudo. Não se pode confiar só porque são amigos, ou família. As coisas têm de ser muito claras, para que as pessoas nunca se desentendam. Se tudo estiver salvaguardado, as pessoas estão sempre bem. Previnam-se! O dinheiro gasto em advogados é muito bem empregado. Isto é das coisas mais importantes; mas às vezes facilita-se muito. O que é que eu mudaria? Teria feito mais contratos no início, para precaver situações aborrecidas. E há que ter muito cuidado com a quota cedida a novos sócios. Na minha perspetiva, demos de mais.”
Maria Cunha é uma das dez empreendedoras entrevistadas no livro O Sucesso Não Cai do Céu, de Isabel Canha e Maria Serina. Compre-o aqui.