Carla Rebelo é diretora mundial do negócio de recrutamento permanente da Adecco.
Como podem as pessoas ajudar a transformar as organizações de modo a que estas sejam mais inteligentes, mesmo sem a tecnologia? Chegará a inteligência humana para tanto?
Pesquisas recentes desenvolvidas pelo MIT começaram por abordar este tópico medindo a inteligência individual dos indíviduos através dos testes de QI (quociente de inteligência) e algumas técnicas estatísticas para medir a inteligência coletiva dos grupos de pessoas.
Descobriram os investigadores que, tal como no caso individual, existe uma fator específico que consegue prever quão bem o grupo irá desempenhar uma variedade de tarefas. Chamaram a este factor de “inteligência coletiva” e conseguiram provar que está correlacionado apenas moderadamente com a inteligência individual (o tal QI) de todos os elementos desse grupo.
A questão central posta a descoberto neste estudo é que existem três outros factores que são, esses sim, fortemente correlacionados com o grau de inteligência colectiva.
O primeiro, é a perceção social ou inteligência social de cada um dos indivíduos do grupo e foi medido através de um teste que pretende aferir a capacidade de ler a mente através da expressão dos olhos (reading the mind in the eyes), no qual as pessoas vêm imagens de olhos de outras pessoas e tentam adivinhar qual a emoção que a pessoa em causa está a sentir. Quando se tem um conjunto alargado de pessoas que é boa nisto, então o grupo é colectivamente mais inteligente.
O segundo factor descoberto é o quanto as pessoas do grupo participam igualmente nos tópicos conversados e discutidos pelo próprio grupo. Quando apenas uma ou duas pessoas dominavam a discussão, em média o grupo era colectivamente menos inteligente do que um grupo onde todos participam de modo mais equitativo.
Finalmente, o terceiro factor de inteligência colectiva refere-se à forte correlação com a proporção de mulheres no grupo. Mais mulheres está correlacionado com grupos mais inteligentes. É interessante notar que este último resultado foi explicado estatisticamente pelo resultado da perceção social (o tal factor 1), ou por outras palavras, as mulheres têm em média um resultado mais elevado na percepção social do que os homens.
Por outro lado, uma outra experiência complementar realizada pelos investigadores consistiu em submeter o teste de inteligência colectiva em dois subgrupos diferentes: pessoas a trabalhar em grupo face to face e pessoas a trabalhar em grupo mas online, sendo que neste último caso apenas comunicando através do envio de texto.
O que se descobriu foi que o grau de perceção social do grupo era igualmente predictivo da inteligência do grupo em ambos os subgrupos.
Dito por outras palavras, mesmo no caso das pessoas que estavam no grupo em que não se conseguiam ver (grupo online), quando estas tinham um nível alto individual de perceção ou inteligência social, conseguiram formar um grupo com uma maior inteligência colectiva.
Assim sendo, o teste de leitura de emoções não mede apenas aquela habilidade específica de identificar a emoção das pessoas a partir dos olhos, mas sim um conjunto de competências interpessoais a que chamamos de inteligência social. E estas competências capacitam as pessoas para prever o que outros podem estar a pensar apenas pelo que escrevem, como poderão eventualmente reagir ao que será escrito, sendo no final, e em modo mais abrangente um conjunto de habilidades que ajuda as pessoas a trabalhar bem com outras pessoas.
Estas experiências desenvolvidas pelo MIT demonstram que existem pelo menos dois elementos que são necessários para conseguir empresas inteligentes.
Em primeiro lugar e talvez não surpreendentemente, são necessários individuos inteligentes e esses indivíduos em conjunto devem ter as competências para executar seja qual for a tarefa.
Mas, em segundo lugar, e talvez não tão óbvio, estes individuos têm que conseguir trabalhar bem juntos.
Para as pessoas, isto quer dizer que precisam de ter competências interpessoais e estas são ainda mais importantes do que julgamos no mundo eletronicamente conectado de hoje e mais ainda do futuro.
Para os computadores, significa que devem ser desenhados de um modo que consigam trabalhar bem com as pessoas, o que por si só será crítico para criar organizações inteligentes.
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