Célia Vieira: “As profissões não têm género”

Célia Vieira é CEO da Neotalent, empresa do Grupo Novabase que recruta talento das Tecnologias de Informação para várias partes do mundo. Apesar dos esforços em contratar mulheres, elas são apenas 32% da sua força de trabalho. A executiva deixa um desafio: "Se tiverem como missão tornar a vida das pessoas mais simples e mais feliz através da tecnologia, não deixem que os preconceitos vos demovam desse caminho".

Célia Vieira é CEO da Neotalent.

Licenciada em Administração de Empresas pelo ISLA, Célia Vieira iniciou o seu percurso profissional na FAS, Sistemas de Informação, em 1997. Chegou à Novabase em 2001, como business manager na área de telecomunicações. Em 2008, Célia Vieira assumiu a liderança da Neotalent, empresa que nasceu como uma unidade de negócio do Grupo Novabase e hoje conta com mais de 900 colaboradores. A empresa é especialista em encontrar o melhor talento de TI para as necessidades e desafios de negócio dos mais de 90 clientes ativos que tem em sete geografias. Em 24 anos de atividade, a Neotalent desenvolveu uma forte presença ibérica, e está a crescer nos mercados da Europa do Norte, em especial no Reino Unido e Irlanda. Trabalha com as principais referências ibéricas nos vários setores de atividade, desde a banca e seguros ao setor da energia e dos transportes, passando pela tecnologia e pelo terceiro setor.

Com mais de 20 anos de experiência no setor das tecnologias de informação, Célia Vieira e garante que continua a aprender a cada dia que passa. Tem quatro filhos, adora viajar, passar tempo em família, praticar Pilates e petiscar na companhia de bons amigos.

 

Quais os principais desafios que a Neotalent enfrenta atualmente?

Sendo nós uma empresa especializada em fazer o match perfeito entre profissionais de TI e desafios tecnológicos, o nosso principal desafio é mesmo a atração de talento. Num setor tão dinâmico como o das Tecnologias de Informação, e num mercado concorrencial global, recrutar (e reter) nunca foi tão desafiante.

Qual o impacto da pandemia no vosso negócio?
O impacto foi localizado. A operação em Espanha foi a mais atingida, por estar muito dependente do setor industrial. A indústria sofreu com a ida para lay-offs, e tivemos mesmo projetos que foram suspensos. Em Portugal, notou-se algum conservadorismo. O lançamento de novos projetos foi, em larga medida, adiado, e a prospeção acabou por estagnar. Por outro lado, pelo facto dos clientes existentes terem tido de acelerar a sua transformação digital, isso acabou por colmatar algum arrefecimento, e conseguimos mesmo crescer num contexto adverso.

E como é que o clima de incerteza e de inflação vos está a afetar?
Somos privilegiados por estarmos num setor vibrante. As Tecnologias de Informação estão cada vez mais presentes em qualquer empresa de qualquer setor, e isso explica o crescimento constante. De acordo com os resultados deste primeiro semestre e com as previsões até ao final de 2022, estamos confiantes de que este será mais um ano de crescimento.

 

“Na área das TI as empresas já não têm a opção de definir trabalho 100% presencial”

Que mudanças na atração e retenção de talento vieram para ficar?
Na área das TI, já tínhamos assistido à “deslocação do centro de força” da entidade empregadora para o profissional, isto é, já não é a empresa que escolhe o profissional, mas o inverso. Por sua vez, a pandemia veio acentuar as mudanças na forma como o talento encara o mercado de trabalho — e as suas oportunidades.
A preocupação pela saúde mental e a garantia de um work-life balance, por exemplo, passaram a ocupar os papéis principais no momento de abraçar um novo desafio profissional. A componente salarial deixou de ser o único motor da atração e retenção de talento, dando-se cada vez mais primazia à experiência 360º do colaborador, incluindo os valores que a empresa defende, a forma como investe nas pessoas, as políticas de trabalho que implementa e os benefícios que dá (flexibilidade horária, seguro de saúde, plano de carreira, trabalho remoto).
Uma das mudanças mais profundas é a valorização do teletrabalho. Atualmente, nesta área, as empresas já não têm a opção de definir trabalho 100% presencial: se o fizerem, perdem os seus colaboradores e não conseguirão atrair novos. Este foi um legado profundamente transformador da pandemia.

E que tendências se notam no mercado?
Num momento em que a atração e a retenção de talento são duas prioridades máximas das empresas, torna-se incontornável mencionar a necessidade de um engagement contínuo com os profissionais.
Como forma de atrair mais talento, temos assistido à procura de profissionais além-fronteiras, ao lançamento de programas de referenciação com prémios para novas contratações, ou à implementação de modelos de trabalho híbridos ou 100% remotos.
Para reter talento, as empresas têm apostado em programas de mobilidade interna, na adoção de políticas de diversidade e inclusão, ou no desenvolvimento de planos de formação especializados.

 

“Trazer mais mulheres para as tecnologias precisa de uma ação conjunta”

Estão na área da tecnologia, onde continua a haver poucas mulheres. Qual a percentagem de mulheres que têm nesta área?
Esta é uma preocupação nossa. Temos um Plano de Igualdade de Género, Diversidade e Inclusão, e fizemos recentemente um levantamento e estudo interno para conhecer a situação em todo o grupo Novabase. Na Neotalent em Portugal, 32% dos colaboradores são mulheres (dados de junho de 2022).

O que continua a afastar as mulheres das tecnologias e o que pode ser feito para alterar esta situação?
A questão não é tanto o que as está a afastar…. mas mais o que não as está a atrair. O facto é que inverter uma assimetria desta natureza precisa de uma ação conjunta. Não basta que as empresas tenham políticas de igualdade e diversidade, que tenham uma cultura inclusiva, que façam um recrutamento o mais isento de viés de género possível.
Na Neotalent não contratamos mais mulheres porque não as encontramos. A realidade é que, proporcionalmente, há menos mulheres no mercado de trabalho (ainda menos no pós-pandemia), há menos mulheres nos cursos profissionais e superiores de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (chamada STEM), há menos mulheres na vertente de Ciências e Tecnologia no ensino secundário, e por aí adiante.
Enquanto empresas temos a responsabilidade de contribuir para uma comunidade mais representativa. Afinal, como pode a tecnologia solucionar os problemas de todas as pessoas, se só considerar metade da população mundial? No entanto, este esforço tem de ser consertado e resultar num contributo conjunto entre organizações privadas, entidades de ensino, organismos governamentais, e outras instituições que têm o poder e a capacidade de moldar o desenvolvimento da sociedade como um todo.

Têm estratégias específicas para atrair mais talento feminino?
Temos estratégias específicas para atrair o melhor talento da área de TI, seja este feminino ou masculino. Uma vez na Neotalent, temos programas de mentoria e de desenvolvimento individual específicos para mulheres. Estes são, maioritariamente, disponibilizados através de parcerias que estabelecemos com associações como a PWN Lisbon (Professional Women´s Network) ou a PWIT (Portuguese Women in Tech), que nos ajudam a capacitar e a capitalizar o talento feminino, ajudando as nossas colaboradoras a distinguirem-se e a evoluírem nas suas carreiras.

O que diria a uma jovem sobre trabalhar na área da tecnologia?
Que as profissões não têm género, e que se ela tiver como missão tornar a vida das pessoas mais simples e mais feliz através da tecnologia, para não deixar que os preconceitos a demovam desse caminho. E diria também que temos sempre um lugar para as melhores na Neotalent.

 

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