Teresa Lopes Gândara: “Já ninguém pensa em empregos para a vida, mas sim em experiências desafiantes”

Teresa Lopes Gândara, diretora de Capital Humano na Noesis, assume que um dos seus maiores desafios é corresponder às ambições os mais jovens. Já não procuram empregos para a vida, mas sim experiências enriquecedoras e desafiantes e um equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Teresa Lopes Gândara é diretora de Capital Humano na Noesis.

Teresa Lopes Gândara tem 30 anos de experiência em multinacionais no setor das tecnologias, nos últimos anos com foco em Estratégia e Desenvolvimento de Recursos Humanos. Licenciada pelo ISCTE, iniciou a carreira como consultora de gestão, na área de organização e processos, e posteriormente como implementadora de ERP (Planeamento de Recursos Empresariais), o que lhe permitiu conhecer as várias vertentes de uma empresa e a dotou de uma valiosa experiência quando se focou no Capital Humano. Trabalhou na Ernst & Young, tendo colaborado posteriormente na Capgemini e na Logica (atual CGI), até integrar a Noesis em 2008. É nesta empresa tecnológica, que conta atualmente com 900 colaboradores espalhados por Portugal, Holanda, Irlanda, Brasil e Estados Unidos, que tem hoje sob a sua responsabilidade as direções das áreas de gestão de Capital Humanos e Sistemas Internos.

 

O seu percurso profissional tem sido feito sobretudo em empresas de tecnologia, onde o talento feminino ainda está em minoria. Que análise faz da presença feminina nesta área?

Tendo desenvolvido toda a minha carreira na área das Tecnologias de Informação, não tenho sentido desigualdade de géneros e de oportunidades. Ainda assim, além da preocupação com a igualdade de géneros, é importante garantir igualdade de oportunidades e é nessa questão que devemos colocar os nossos esforços nas organizações. Sinto que esse trabalho tem vindo a ser feito e tem trazido, cada vez mais, mulheres para a tecnologia.

Atualmente, vemos muitas jovens nas universidades e nos institutos politécnicos em cursos que, há uns anos, eram exclusivamente frequentados por estudantes do sexo masculino. Na área tecnológica não há qualquer distinção de género nas diferentes funções a desempenhar, por isso, esta evolução e aumento do número de mulheres que estudam e trabalham nestas áreas é bastante positiva.

Além disso, o número de mulheres em cargos de direção tem vindo a aumentar e estou certa de que esta será a tendência nos próximos anos. Assistimos a mudanças significativas no mercado de trabalho, na forma de trabalhar e na forma como as novas gerações olham para a sua carreira, para as suas ambições e propósitos. Se olharmos para o nosso setor, e para a nossa empresa, a gestão de competências e de carreiras é feita independentemente do género, razão pela qual vemos, cada vez mais, mulheres em cargos de relevância.

Cerca de 30% do headcount da Noesis são mulheres, uma percentagem que sabemos ser acima da média em Portugal e no nosso setor.

Que preocupações tem a Noesis em relação a este tema e como tem evoluído a presença feminina na empresa?

Na Noesis comprometemo-nos a contribuir para o empowerment das nossas mulheres, fomentando o seu sucesso, desenvolvendo as suas competências e dando as mesmas oportunidades aos homens e às mulheres. Atualmente, cerca de 30% do headcount da Noesis são mulheres, uma percentagem que sabemos ser acima da média em Portugal e no nosso setor.

A atratividade da empresa para este segmento está intimamente relacionada com as condições que são disponibilizadas para todos os nossos talentos: uma gestão por objetivos, políticas de remuneração justas e transparentes, flexibilização do horário de trabalho, um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal, os benefícios atribuídos, como é o caso, por exemplo, da excelente cobertura que temos no nosso seguro de saúde para partos e do incentivo à família que atribuímos.
Não sendo condições especificamente direcionadas para as mulheres, sabemos que são um fator decisivo na hora de escolher ingressar numa organização.

Quais as principais questões e receios que as jovens lhe colocam na altura do recrutamento?

Numa fase inicial, à saída das universidades, a principal preocupação de todos os jovens é ter a garantia de que poderão aprender, evoluir, ter experiências inovadoras, internacionais, e estar integrados numa equipa e numa empresa em que a cultura seja inspiradora.

Já ninguém pensa em empregos para a vida. A experiência tem de ser enriquecedora e desafiante. E é assim ao longo da vida profissional. Mudamos de empresa para ter melhores condições remuneratórias, mas principalmente por sermos desafiados com projetos novos, oportunidades de crescimento, para ter um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Valorizamos uma força de trabalho diversificada e inclusiva e, por isso, promovemos também, nas redes sociais, as iniciativas que desenvolvemos interna e externamente.

A área tecnológica é uma das áreas em que o talento mais escasseia. O que faz a Noesis para atrair e reter talento, e em especial o talento feminino?

A Noesis tem vindo a apostar, cada vez mais, numa estratégia de employer branding e recruitment marketing, que passa por refletir a nossa cultura, a nossa visão, missão e valores. Valorizamos uma força de trabalho diversificada e inclusiva e, por isso, promovemos também, nas redes sociais, as iniciativas que desenvolvemos interna e externamente, de que são o exemplo a celebração do Dia da Mulher e do Dia das Mulheres e Raparigas na Ciência. Em conjunto com a Girls In Tech, um movimento que pretende promover e contribuir para uma maior diversidade de género em cursos STEM (Science, Technology, Engineering, Math), organizámos o Girls’ Tech Day, onde as nossas profissionais tiveram a oportunidade de partilhar a sua experiência no mundo IT com jovens estudantes. Participamos também em algumas iniciativas organizadas pela Portuguese Women In Tech, nomeadamente a Portuguese Women In Tech Hackathon e o Mentorship Program, onde é disponibilizada mentoria a estudantes e recém-licenciadas. Regularmente damos voz às nossas profissionais, que abordam o papel das mulheres no mundo IT e organizamos Open Days para partilhar esta realidade junto dos nossos candidatos.

O grande objetivo é desmistificar a ideia de que o que o IT e as áreas tecnológicas são um mundo de homens, pelo contrário. Temos cada vez mais mulheres a trabalhar na Noesis. Acreditamos que esta é a melhor forma de promover o IT junto do talento feminino e assim reter e atrair profissionais.

Acredita que as mulheres trazem uma perspetiva diferente a uma área que é ainda muito masculina?

Trazem uma perspetiva diferente como pessoas que foram socializadas de forma diferente em relação aos homens. As mulheres são regra geral extremamente organizadas, focadas, dedicadas, muito orientadas ao detalhe, trazem também uma maior sensibilidade e espírito crítico. É a complementaridade destas suas caraterísticas com as de caráter mais masculino que trazem à equipa no seu todo uma mais-valia.

Com o processo de transformação digital que temos vindo a viver, cada vez mais conseguimos juntar num mesmo evento colaboradores dos vários continentes e isso traz-nos desafios muito interessantes, como ultrapassar barreiras linguísticas e fusos horários.

Tendo colaboradores em outras geografias, notam diferenças no interesse das mulheres pela vossa área e adotam políticas diferentes em cada mercado?

A Noesis conta atualmente com mais de 900 colaboradores que atuam nos diferentes mercados onde estamos presentes, nomeadamente, Portugal, Holanda, Irlanda, Brasil e Estados Unidos. Não temos práticas ou políticas de recursos humanos diferenciadas para cada um dos países, mas temos, naturalmente, o respeito pelas diferenças culturais em cada um. Ainda assim, não notamos diferenças significativas no interesse das mulheres pela tecnologia e diria que a situação nesta matéria é muito equivalente entre as várias regiões onde atuamos.

Quais os principais desafios de gerir uma força de trabalho de 900 pessoas espalhadas por 5 países?

O principal desafio, qualquer que seja o país, é sermos capazes de atrair os melhores profissionais e, posteriormente, de os reter na empresa. Atuamos num mercado altamente competitivo, global, onde a disputa pelo talento e a escassez de mão-de-obra qualificada é uma realidade.

Por isso, a preocupação de atrair e reter os melhores é global e procuramos atuar nessas vertentes, de forma transversal a todas as geografias. Com o processo de transformação digital que temos vindo a viver, cada vez mais conseguimos juntar num mesmo evento colaboradores dos vários continentes e isso traz-nos desafios muito interessantes, como ultrapassar barreiras linguísticas, fusos horários, entre outras.

A procura por talento é cada vez maior e quem tenha interesse em ingressar nesta área, encontrará, certamente, muitas oportunidades para crescer.

O que mais a tem surpreendido na sua relação com essa diversidade de experiências e culturas?

A diversidade de géneros, de experiências e de culturas contribui para a diversidade de soluções e de perspetivas numa organização e a Noesis tem tido imensa sorte por contar, cada vez mais, com uma força de trabalho diversificada. As diferentes visões permitem criar sinergias e um ambiente colaborativo para todos os intervenientes e para o enriquecimento e crescimento da organização.

Que conselho deixa a uma jovem que goste de tecnologia, mas que receie que essa seja uma área onde as mulheres não têm muitas oportunidades de evoluir?

Se gostam de tecnologia, devem ser persistentes e apostar na sua formação, investigando e explorando cursos nesta área. Há inúmeras áreas que podem explorar, bem como, cada vez mais associações que ajudam a aproximar as jovens estudantes à tecnologia. Esta é uma área bastante dinâmica, com um crescimento exponencial e com uma aposta constante na inovação, por isso, é uma área com muitas oportunidades de desenvolvimento de carreira. A procura por talento é cada vez maior e quem tenha interesse em ingressar nesta área, encontrará, certamente, muitas oportunidades para crescer.

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