Atraída desde cedo pela área da tecnologia, mudou-se de Trás-os-Montes para a Invicta para se formar em Matemática Aplicada, na Universidade do Porto, onde fez, mais tarde, o mestrado em Análise de Dados e Sistemas. Com uma carreira consolidada de duas décadas na MC, Liliana Bernardino, Head of Data, AI & Analytics Center of Excelence, orgulha-se de ter feito todo o seu percurso profissional na empresa de retalho alimentar, onde começou como analista de dados júnior, em 2004. Ao fim de sete anos, já liderava uma equipa de mais de uma dezena de pessoas com foco em Analytics e Data Science, estando hoje a comandar o departamento analítico da empresa. Afirma que o segredo desta relação duradoura, “baseia-se na confiança e na meritocracia”, garantindo que sempre que foi desafiada a liderar novos projetos “a empresa deu-me o espaço necessário para ser inovadora, o que me permitiu evoluir enquanto profissional.” Considera que o seu maior desafio foi ter feito o Executive MBA da Porto Business School, que lhe proporcionou, em grande parte, um ponto de viragem na carreira. “Foi uma experiência que me desafiou a pensar de forma diferente e a ser mais resiliente, o que, sem dúvida, impactou a forma como encaro os desafios do dia a dia.”
Formou-se em Matemática Aplicada e fez um mestrado em Análise de Dados e Sistemas de Apoio à Decisão e dirigiu a sua carreira para a tecnologia. O que é que a atrai nesta área, fortemente dominada pelos homens?
O que me atrai na área da tecnologia, especialmente na Inteligência Artificial, é a capacidade de resolver problemas complexos e criar soluções inovadoras com impacto real nas organizações e na sociedade. Desde cedo, a curiosidade por desvendar estes desafios, despertou em mim um interesse profundo. A Matemática Aplicada deu-me as ferramentas analíticas, enquanto o mestrado em Análise de Dados me permitiu transformar esses dados em decisões estratégicas. A tecnologia é um setor em constante evolução, onde o pensamento crítico e a inovação são essenciais. O valor aqui é medido pela capacidade de se entregar resultados e de inovar continuamente, o que se alinha com a minha crença em progredir e fazer diferente. Embora seja uma área tradicionalmente dominada por homens, vejo a tecnologia como um espaço inclusivo e em constante mudança, onde as mulheres têm um papel crucial a desempenhar. Para mim, não se trata apenas de enfrentar barreiras, mas de mostrar, através da competência e da visão estratégica, que podemos moldar o futuro. A verdadeira força da tecnologia reside na diversidade de pensamento e na capacidade de questionar o status quo, e é por isso que continuo tão apaixonada por este campo.
Tem a particularidade de ter feito toda a sua carreira, que soma já duas décadas, na mesma empresa. Qual o segredo da longevidade da sua relação com a Sonae MC?
A minha relação de duas décadas com a MC baseia-se na confiança e na meritocracia. A MC é uma empresa que aposta fortemente na inovação e oferece continuamente oportunidades para os seus colaboradores crescerem e mostrarem o seu valor. Ao longo dos anos, fui desafiada a liderar projetos estratégicos e a explorar novas tecnologias, desde a análise de dados até à Inteligência Artificial. A empresa sempre me deu o espaço necessário para ser inovadora, o que me permitiu evoluir enquanto profissional e contribuir para o sucesso da organização. O segredo desta longevidade está no facto de a MC ser uma empresa da qual muito me orgulha em fazer parte. Sempre senti que, à medida que eu mostrava resultados, mais portas se abriam para continuar a crescer e a inovar, além da incrível sensação de sentir o nosso trabalho ‘como cliente’, o que é, sem dúvida indescritível. O apoio contínuo que recebi permitiu-me não só liderar iniciativas táticas, como mais recentemente a criação de um novo departamento que será certamente um vértice na estratégia digital e de democratização do analytics na organização, mas também demonstrar que a inovação é uma força motriz dentro de uma organização que ainda sinto hoje como senti no primeiro dia, em agosto de 2004.
Embora seja uma área tradicionalmente dominada por homens, vejo a tecnologia como um espaço inclusivo e em constante mudança, onde as mulheres têm um papel crucial a desempenhar.
Quais as principais etapas do seu percurso profissional e que mais-valias retira de cada uma dessas experiências?
Cada etapa da minha carreira foi uma oportunidade para aprender e crescer. A primeira etapa foi a minha formação em Matemática Aplicada e os primeiros anos de carreira em análise de dados, onde desenvolvi uma base sólida de pensamento lógico e analítico. Essa fase permitiu-me compreender a importância dos dados na tomada de decisão e como traduzi-los em informações estratégicas que podem transformar um negócio. Sinto que a posterior transição para tecnologias mais avançadas, como o machine learning e a Inteligência Artificial, abriu portas para automatizar e otimizar processos de forma eficiente. Este, foi um momento crucial em que percebi que a verdadeira inovação vem da proatividade e da capacidade de prever e responder a desafios futuros de maneira estratégica e essa etapa deu-me as competências técnicas que uso hoje na gestão de projetos tecnológicos de grande escala. A realização do Executive MBA na Porto Business School, foi também um ponto de viragem. O MBA permitiu-me desenvolver uma visão mais abrangente e estratégica do negócio, complementando o meu perfil técnico. Preenchi algumas lacunas naturais no que concerne a gestão de equipas multidisciplinares, a lidar com complexidades organizacionais e a estruturar projetos com impacto global. O MBA foi fundamental para me preparar para liderar novos projetos holísticos e estratégicos na empresa onde vejo todas as experiências convergirem numa visão com a qual muito me identifico. Costumo autointitular-me como uma “afortunada que sempre fez as escolhas certas” e não tenho dúvidas de que essas escolhas, combinadas, me deram uma base sólida, tanto técnica quanto de liderança, que me permite hoje enfrentar os desafios disruptivos da transformação digital na MC.
A liderar uma equipa de análise de dados, considera que as mulheres continuam a ver a tecnologia como uma área ainda muito masculina e onde é mais difícil de progredir? Porquê?
A tecnologia tem sido tradicionalmente vista como um domínio masculino, mas acredito que esta perceção está a mudar. Embora ainda existam barreiras, vejo cada vez mais mulheres a abraçar a área tecnológica, especialmente em campos como a ciência de dados e a Inteligência Artificial, onde a capacidade de resolver problemas complexos e a criatividade são altamente valorizadas e acredito que, com a meritocracia como base, é possível transformar cada vez mais essa realidade. O verdadeiro desafio para muitas mulheres não é tanto a falta de oportunidades, mas a ausência, por parte de grande número das empresas, de modelos e redes de apoio que possam inspirar e guiar a progressão na carreira. Enquanto líder, procuro criar um ambiente onde o talento e a inovação são reconhecidos e encorajados, independentemente do género. Acredito firmemente que à medida que mais mulheres assumem papéis de liderança e se destacam em áreas tecnológicas, isso gera um efeito multiplicador, inspirando mais a seguir este caminho.
Atualmente, o maior desafio é gerir a mudança organizacional que acompanha a implementação de novas tecnologias e a transformação digital. Quando introduzimos inovações, como a utilização avançada de dados e ferramentas de Inteligência Artificial, é comum encontrar resistência à alteração de processos estabelecidos.
Quais os principais desafios que enfrenta atualmente na sua função e como os tem ultrapassado?
Atualmente, o maior desafio é gerir a mudança organizacional que acompanha a implementação de novas tecnologias e a transformação digital. Quando introduzimos inovações, como a utilização avançada de dados e ferramentas de Inteligência Artificial, é comum encontrar resistência à alteração de processos estabelecidos. Para ultrapassar isso, aposto numa comunicação contínua e numa capacitação das equipas, garantindo que todos compreendem o valor destas inovações e se sentem preparados para adotá-las. Outro desafio é a integração de novas soluções com sistemas já existentes, o que requer uma colaboração próxima com várias áreas da empresa, para assegurar uma transição suave. Além disso, é essencial gerir as expectativas sobre o tempo que estas mudanças levam a produzir resultados significativos. E isso, num negócio que é tão tradicional como o retalho, e mesmo em empresas com um ADN como a Sonae, nem sempre é fácil. No entanto, vejo cada um destes desafios como oportunidades de inovar e fortalecer a organização. E muito devo a uma abordagem técnica forte, mas principalmente ao espírito de colaboração para promover uma cultura de aprendizagem contínua e de alinhamento estratégico. A inovação não acontece de forma isolada: é resultado de uma cultura que promove a excelência e gera oportunidade, e é isso que estamos a construir, e muito me orgulha em fazer parte deste processo.
Qual o projeto de que mais se orgulha na sua carreira?
Felizmente, ao longo da minha carreira, tive a oportunidade de liderar vários projetos dos quais me orgulho profundamente, todos com impacto significativo nas operações e na estratégia da MC. No entanto, o projeto que marcou uma verdadeira viragem na minha trajetória foi a internalização do processo de personalização de ofertas promocionais em 2011. Muito pouco ainda se fazia no compito prescritivo em retalho e muito menos se fazia nesse âmbito em Portugal. Naquela altura, dependíamos de fornecedores externos para gerir as campanhas personalizadas, o que limitava a nossa agilidade e a capacidade de individualizar as comunicações com os clientes. Identifiquei a oportunidade de internalizar end-to-end este processo, desde a automação da recolha dos dados, ao modelo preditivo e à implementação do modelo de Investigação Operacional, o que nos permitiu não só reduzir custos, mas também ganhar controlo total sobre as campanhas e torná-las mais eficientes e direcionadas. Este projeto foi um divisor de águas, pois demonstrou como a gestão estratégica de dados e a automação podem transformar o negócio. A partir desse momento, passámos a usar os dados de forma muito mais eficaz, ajustando as campanhas em tempo real e aumentando significativamente o impacto das ações de marketing. Foi um marco importante que acelerou a minha carreira e mostrou o valor da inovação interna para a MC.
A evolução da minha carreira na MC é, em grande parte, fruto das competências que adquiri durante o MBA, onde aprendi a gerir melhor o meu tempo, a melhor estruturar projetos de grande escala e a liderar com ainda mais foco em resultados, implementando estrategas de longo prazo.
O que a levou a fazer o Executive MBA e porque escolheu a Porto Business School?
Decidi ingressar no Executive MBA porque queria expandir a minha perspetiva além da vertente técnica e adquirir uma visão mais estratégica e de liderança. O MBA foi uma oportunidade para aprofundar os meus conhecimentos sobre gestão, liderança e estratégia empresarial, áreas que são cruciais para liderar projetos de grande impacto, mas que estavam bem longe da minha formação académica. Escolhi a Porto Business School pela sua forte reputação em formar líderes com uma visão global e uma abordagem prática, e a ligação da escola ao setor empresarial foi um fator decisivo. O MBA não foi apenas uma experiência académica; foi um passo estratégico para elevar a minha carreira ao próximo nível. E posso hoje dizer que sinto esse impacto em muitas decisões que tomo no meu dia-a-dia.
Qual o impacto do MBA na sua carreira e na sua vida?
O MBA teve um impacto transformador tanto a nível pessoal quanto profissional. Deu-me as ferramentas para liderar projetos complexos com uma visão estratégica e a confiança para tomar decisões que têm um impacto significativo na organização. A evolução da minha carreira na MC é, em grande parte, fruto das competências que adquiri durante o MBA, onde aprendi a gerir melhor o meu tempo, a melhor estruturar projetos de grande escala e a liderar com ainda mais foco em resultados, implementando estratégias de longo prazo. Pessoalmente, o MBA permitiu-me alargar a minha rede de contactos e aprender com líderes de várias indústrias, o que me enriqueceu tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Foi uma experiência que me desafiou a pensar de forma diferente e a ser mais resiliente, o que, sem dúvida, impactou a forma como encaro os desafios do dia a dia.
Como conciliou o MBA com a sua atividade profissional e a vida pessoal?
Conciliar o MBA com a minha atividade profissional e a vida pessoal exigiu um alto nível de organização e disciplina. Foi necessário estabelecer prioridades claras e gerir o meu tempo de forma rigorosa, para garantir que tanto o meu trabalho quanto o MBA recebessem a atenção necessária. Felizmente, tive o apoio da minha equipa na MC, que sempre acreditou no meu potencial, e o apoio da minha família foi essencial para equilibrar todas as responsabilidades. Foi um desafio, mas também uma oportunidade de crescimento. Através de uma gestão cuidadosa do tempo e de um compromisso com os meus objetivos, consegui conciliar as exigências do MBA com o desempenho na MC e manter um equilíbrio na minha vida pessoal. Obtendo bons resultados em todas as frentes, o que me traz grande satisfação.
Que conselho deixaria a uma jovem executiva que queira fazer carreira na sua área?
O meu conselho seria: acredita no poder da meritocracia e não tenhas medo de arriscar. A área da tecnologia e dos dados oferece imensas oportunidades para todos os que estão dispostos a trabalhar arduamente, inovar e mostrar resultados, independentemente do género. Dir-lhe-ia que investisse na formação, se mantivesse curiosa e nunca deixasse de questionar como as coisas podem ser feitas de forma diferente e mais eficiente. A Inteligência Artificial e os dados são o futuro, e há um mundo de oportunidades para todos os que querem fazer parte dessa transformação. O talento é importante, mas a capacidade de executar e entregar valor é o que vai garantir o sucesso de qualquer um que se aventure.
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