Onde param as mulheres

Representam 48,6% da população ativa em Portugal, mas ocupam apenas 27,4% dos cargos de liderança, desempenham 32% das funções de gestão e direção e exercem 8,9% das funções de direção geral. Estas são as principais conclusões do estudo “Presença feminina nas organizações em Portugal”

Chegar a cargos de decisão é uma meta que poucas portuguesas alcançam

As empresas ainda estão longe de tirar o melhor partido do talento feminino. A presença feminina na gestão das organizações tem aumentado nos últimos anos, mas as mulheres continuam sub-representadas nos cargos de decisão económica. Apesar de representarem 48,6% da população ativa em Portugal, ocupam apenas 27,4% dos cargos de liderança, desempenham 32% das funções de gestão e direção e exercem 8,9% das funções de direção geral. Estas são as principais conclusões do estudo  “Presença feminina nas organizações em Portugal” (que analisa o período de 2011 a 2014). O estudo é realizado pela Informa D&B com o objetivo de compreender qual a participação das mulheres na liderança e na gestão das empresas portuguesas e de sensibilizar os gestores para a importância da diversidade dos géneros nas empresas. O histórico de cinco edições consecutivas do estudo realizado pela Informa D&B, permite traçar um retrato da situação atual e monitorizar a evolução conseguida neste domínio.

 

MULHERES NAS ORGANIZAÇÕES

No período analisado (2011 a 2014), existia uma média de 410 mil organizações ativas do setor público, privado, cooperativo ou social, com uma média de 910 mil funções de gestão e direção por ano. Apesar de a maioria das funções de topo continuar a ser desempenhada por homens, a presença feminina nas organizações em Portugal tem aumentado nos últimos anos.

Ascende a 55,1% a proporção de organizações que têm pelo menos uma mulher nos seus cargos de gestão e direção, apenas mais 0,2 pontos percentuais (pp) do que em 2011. As organizações com pelo menos um gestor/diretor masculino representam 87,8% deste universo (tendo registado uma diminuição de 2,1 pp desde 2011).

Apenas 32% das funções de gestão e direção são desempenhadas por mulheres, uma subida de 1,5 pp em relação a 2011. As mulheres que lideram as organizações são ainda em menor número (27,4%), apesar de terem registado um crescimento de 4,1 pp de 2011 para 2014. Nas funções de direção geral, em que o crescimento da presença feminina tem sido mais lento (0,8 pp), as mulheres representam apenas 8,9% do total. Perto de 88% das empresas têm pelo menos um gestor/diretor masculino; esta proporção baixa para 55,1% quando se refere às que têm pelo menos um gestor/diretor feminino.

Liderança feminina nas organizações

A equipa de gestão ou direção é exclusivamente masculina em 44,9% dos casos, enquanto apenas 12,2% das organizações tem uma equipa de gestão exclusivamente feminina. Este último indicador aumentou 2,2 pp desde 2011. Só se encontram equipas de gestão ou direção mistas em 42,9% das organizações. Estes indicadores permitem concluir que os homens participam em 87,8% das equipas de gestão, enquanto as mulheres estão presentes apenas em 55,1%, e que mais de metade das organizações nacionais é gerida, ou só por homens, ou só por mulheres.

Diversidade de género nas equipas de gestão/direção

Mais de metade das organizações nacionais é gerida ou só por homens, ou só por mulheres

No setor social e cooperativo procedeu-se à análise de alguns subsetores. Nas cooperativas de solidariedade social encontra-se a maior percentagem de mulheres em cargos de gestão (51%). As misericórdias (79%) e as cooperativas de solidariedade social (57%) e as fundações (56%) são as organizações com maior percentagem de funções diretivas preenchidas por mulheres. Note-se que, neste tipo de organizações, as funções de direção podem ter um papel mais ativo do que o desempenhado pelos líderes. A liderança feminina é mais expressiva nas organizações internacionais (50%), nas cooperativas de solidariedade social (41%) e nas associações científicas e de investigação (29%). Estes são alguns dos subsetores em que a representatividade das mulheres é claramente superior à verificada, em média, nas organizações.

Nas instituições de representação diplomática, as mulheres também estão em minoria. Mas nos consulados a sua presença nos cargos de gestão (38%) é mais expressiva do que nas embaixadas (24%) e bastante superior à das organizações (32,4%). Contudo, quando se analisa a liderança, a presença das mulheres nas embaixadas (24%) e nos consulados (20%) é manifestamente inferior à verificada nas organizações (27,4%).

Com exceção das câmaras municipais, em que 60% das funções de direção são desempenhadas por mulheres, na Administração pública a presença feminina em cargos de liderança é substancialmente inferior à observada nas organizações.

É nas áreas da saúde e da educação que a presença feminina na gestão e liderança se faz mais notar, situando-se em torno dos 45%, ultrapassando largamente a verificada, em média, nas organizações (32,4% gestão feminina; 27,4% liderança feminina).

Presença feminina em algumas áreas de atuação

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MULHERES NAS EMPRESAS

Dentro do universo das organizações, analisou-se a situação do universo empresarial, que inclui uma média de 280 mil empresas e 675 mil funções por ano do período estudado. Também neste universo se constata que o género masculino é dominante. Apesar de todos os indicadores refletirem um aumento da presença feminina nos últimos quatro anos, eles sugerem a ideia de uma via que se afunila, à medida que se sobe na hierarquia. As mulheres representam 42,3% dos empregados, mas desempenham 33,8% das funções de gestão e 24,9% das funções de direção executiva. A liderança é feminina em apenas 28,2% das empresas, uma proporção ligeiramente superior à das organizações (27,4%). Este indicador regista uma melhoria de 5,3 pp desde 2011.

Presença feminina nas empresas

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As mulheres representam 42,3% dos empregados no universo empresarial, mas ocupam cargos de liderança em apenas 28,2% das empresas

Estudou-se em particular a composição dos Conselhos de Administração das empresas cotadas em bolsa e das sociedades anónimas. O aumento da presença feminina nos Conselhos de Administração destas empresas nos últimos anos (mais 2,6 pp nas sociedades anónimas e mais 4,2 pp nas empresas cotadas) é um sinal da mudança em direção a uma maior representatividade das mulheres nos cargos de decisão económica, que se poderá acentuar no futuro.

Porém, apenas 9,9% dos cargos de administração das empresas cotadas e 20,9% das sociedades anónimas são ocupados por mulheres. Não existe qualquer mulher a liderar uma empresa cotada e o líder é do género feminino em apenas 15% das sociedades anónimas. Este indicador registou um aumento de 1,8 pp entre 2011 e 2014.

Evolução da participação feminina nos Conselhos de Administração

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Para aprofundar o estudo da presença feminina na liderança das empresas considerou-se necessário analisar a proporção de mulheres em funções de direção executiva, pois estas poderão constituir uma antecâmara à sala do Conselho. As mulheres desempenham 24,9% das 37 753 funções de direção executiva, o que representa um acréscimo de 1,5 pp em relação a 2011.

Apenas 8,2% dos diretores-gerais são do sexo feminino. A direção de qualidade/técnica é a única função em que há mais mulheres (62,6%) do que homens. Seguem-se a direção de recursos humanos (47,8%), a direção financeira/contabilidade (33,5%) e a direção de marketing/comunicação (31,8%). As mulheres desempenham menos de um quarto das funções de direção de compras/logística, comercial, de operações/produção e de sistemas de informação.

Representatividade feminina em cargos de direção executiva

6Os indicadores estudados apontam para que o género do líder seja determinante na composição da equipa de direção. As empresas lideradas por mulheres registam uma maior presença feminina em todos os cargos de direção: 42,4% das funções de gestão, valor que compara com 21,4% quando o líder é um homem.

Mulheres em cargos executivos consoante o género do líder

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Este indicador também apresenta diferenças em função do género do líder. As equipas de gestão de empresas lideradas por homens são predominantemente masculinas, enquanto as mulheres preferem rodear-se por equipas constituídas por elementos de ambos os géneros.

As empresas lideradas por mulheres são as que têm mais equipas de gestão mistas (60,3% vs. 41,0% nas lideradas por homens). 39,3% das empresas lideradas por mulheres são constituídas por equipas exclusivamente femininas, o que compara com 58,8% de empresas lideradas por homens com gestão exclusivamente masculina. As equipas constituídas exclusivamente por elementos do género diferente do líder são quase inexistentes.

Equipas de gestão consoante o género do líder815

PRESENÇA FEMININA SEGUNDO O PERFIL DAS EMPRESAS

Em termos de antiguidade da empresa, concluiu-se que à medida que aumenta a idade da empresa, diminui a presença de mulheres na sua liderança. As empresas mais recentes apresentam valores mais elevados de líderes femininos. Em 31% das start-ups (menos de um ano de existência), o principal gestor é uma mulher. Nas empresas maduras, que têm 20 ou mais anos de existência, esta representação baixa para 26,8%. O que não surpreende tendo em conta que, quando foram criadas, as empresas mais antigas recrutavam sobretudo homens porque a força de trabalho feminina era mais escassa. A esta realidade não deverá ser também alheio o facto de haver cada vez mais mulheres a criarem novos negócios.

Presença feminina consoante a idade da empresa

9Quanto à dimensão da empresa, constatou-se quea participação feminina na gestão e na liderança das empresas diminui à medida que aumenta a sua dimensão (aferida pelo volume de negócios). Nas empresas com faturação até 2 milhões de euros, 34,6% das funções de gestão e 28,9% das funções de liderança são desempenhadas por mulheres. Em contrapartida, nas empresas com um volume de negócios superior a 50 milhões de euros esta proporção reduz-se para 11,5% nos cargos de gestão e 6,6% nos de liderança.

Presença feminina consoante a dimensão da empresa em volume de negócios

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A presença feminina nas empresas têm grandes diferenças entre setores. Os que têm maior número de empresas, Serviços e Retalho, são também aqueles em que a presença feminina na gestão e liderança atinge valores mais elevados. As mulheres ocupam 40% das funções de gestão e 36% das funções de liderança no setor dos Serviços. No Retalho são 37% e 32%, respetivamente. Segue-se o setor do Alojamento e Restauração, com 35% dos cargos de gestão e 32% dos cargos de liderança desempenhados por mulheres.

Os setores da Construção, das Indústrias e Grossista apresentam as menores representatividades femininas. A Construção é o mais masculino dos principais setores de atividade (apenas 11% dos trabalhadores são mulheres), e, curiosamente, é o único em que a percentagem de empregados do sexo feminino é menor do que a proporção de mulheres em funções de gestão (26%) e a desempenhar funções de gestor principal (16%).

Representatividade das mulheres por setor de atividade

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DESEMPENHO DAS EMPRESAS SEGUNDO O GÉNERO DO LÍDER

O desempenho das empresas apresenta ligeiras diferenças consoante o género do seu líder, segundo dados de 2012-2013. O crescimento do volume de negócios das empresas não difere significativamente em função do género. As companhias que têm uma mulher como líder veem a sua faturação diminuir em 51,6% dos casos, enquanto nas lideradas por homens isso acontece em 49,4%. Os líderes masculinos registam crescimento do volume de negócios das suas empresas em 46,1% dos casos, que compara com 43,6% dos líderes femininos.

Analisando a evolução do emprego, observa-se que as empresas lideradas por mulheres são as que mais mantêm o número de empregados (61,2% vs. 56,6% na liderança masculina). As empresas dirigidas por homens são as que mais crescem (18% vs. 15,95% das empresas dirigidas por mulheres), mas também são aquelas que mais reduzem o número de colaboradores (25,5% vs. 23% das lideradas por mulheres).

Desempenho das empresas segundo o género do líder

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SETOR PÚBLICO vs. SETOR PRIVADO

Com o objetivo de compreender o papel das mulheres na vida dos diferentes tipos de organizações, comparou-se a sua presença no setor público e no setor privado. Algumas diferenças são evidentes. Nas sociedades comerciais, a presença feminina nas funções de gestão (34%) e nas de liderança (28%) é mais elevada no setor privado. No setor público, a representatividade feminina é maior nas funções de direção (34% vs. 25% no setor privado).

Presença feminina nas sociedades comerciais (público vs. privado)

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No sector empresarial financeiro, o setor privado apresenta percentagens de mulheres em funções de gestão (20%) e de liderança (13%) mais elevadas do que o setor público. Já nas funções de direção do setor público encontra-se uma maior proporção de mulheres (27%).

Presença feminina no setor empresarial financeiro (público vs. privado)

14Adaptado por Raquel Fidalgo de “Onde param as mulheres – Presença feminina nas organizações em Portugal”, da Informa D&B.

FICHA TÉCNICA

Universo das organizações: Engloba as organizações ativas em cada ano, com sede em Portugal, que pertencem ao setor público (empresarial sociedades e administração pública), ao setor privado (empresarial sociedades e empresarial associativo) e ao setor cooperativo e social (cooperativas, associações, associações mutualistas, fundações e entidades religiosas). Os empresários em nome individual não integram este estudo. Consideram-se as organizações classificadas em todas as secções da CAE V3.0 nas quais existe, pelo menos, uma função de direção/gestão. O universo é composto por uma média de 410 mil organizações e 910 mil funções por ano.

Universo empresarial: Dentro das organizações, considera-se o universo de empresas públicas e privadas (sociedades comerciais não financeiras) com indícios de atividade comercial no ano. Integram este universo uma média de 280 mil empresas e 675 mil funções por ano.

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