Uma investigação sobre disparidades salariais do novo Observatório Género, Trabalho e Poder, recém-criado pelo ISEG, revela as assimetrias remuneratórias e laborais entre homens e mulheres, que em Portugal se têm vindo a acentuar desde 2018. Dados divulgados no primeiro Barómetro do Diferencial Remuneratório entre Homens e Mulheres (Gender Pay Gap), produzido pelo Observatório, que tem como missão promover a investigação e a disponibilização regular de informação sobre os temas da desigualdade de género, mostram que as diferenças salariais podem chegar a 18,4% na remuneração ganha, se considerados fatores como idade, nível de escolaridade e antiguidade da relação laboral semelhantes. É nesta remuneração ganha, que inclui não só a retribuição base, mas todas as prestações regulares que o diferencial aumenta, caindo para 12,5%, quando se considera apenas a remuneração base.
Segundo o barómetro, coordenado por Sara Falcão Casaca, investigadora e professora catedrática do ISEG, as diferenças salariais são mais acentuadas quanto maior é o nível de escolaridade (22,3% quando há um nível superior de escolaridade) e de qualificação. Chegam quase aos 24% entre os quadros superiores e a cerca de 19% entre os profissionais altamente qualificados. O documento aponta ainda que estas desigualdades aumentam com a idade no decurso do percurso profissional, atingindo o valor máximo no escalão etário dos 50 aos 64 anos, 21,3%. De destacar uma conclusão ainda mais significativa deste estudo: cerca de 70% da diferença salarial entre homens e mulheres não tem qualquer explicação objetiva, que não seja o preconceito.
Para enquadrar estes dados e ter a total compreensão do contexto nacional, em comparação com a realidade da União Europeia, o Observatório divulgou em simultâneo outro barómetro, o Barómetro da Participação Laboral de Homens e Mulheres, também liderado pela investigadora do ISEG. São consideradas outras dimensões importantes da participação laboral, nomeadamente: a influência do nível de escolaridade no emprego, assim como da maternidade e da paternidade; a distribuição do emprego pelas várias profissões; os regimes de tempo de trabalho; a expressão do teletrabalho, dos vínculos laborais de natureza limitada (contratos temporários) e do desemprego.
De acordo com este barómetro, a realidade portuguesa contraria a tese que nos diz que as mulheres participam menos no mercado de trabalho, tendem a desvincular-se mais do mundo laboral com a maternidade e a trabalhar mais a tempo parcial. Portugal apresenta uma taxa de emprego feminina mais elevada que a maioria dos países da UE (70,3% e 65,7%, respetivamente). Verifica-se uma tendência crescente na taxa de emprego das mulheres com níveis de formação intermédia e uma situação de quase paridade entre géneros ao nível da escolaridade superior (87,8% e 87,3%, respetivamente). Portugal destaca-se ainda por ser um dos poucos países europeus (sete, no total) onde as mulheres demonstram o comportamento oposto: aquelas que são mães de crianças pequenas (menores de seis anos) têm taxas de emprego superiores às trabalhadoras sem filhos.
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