Mulher dos sete ofícios, foi economista, professora, jornalista e escritora, com 25 livros editados. Mas também se interessou pelo design de joias e pela cozinha. Com a oposição do pai, licenciou-se em Economia pelo ISCEF – Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, onde foi a melhor aluna do seu curso. Foi a primeira mulher a ingressar nos quadros técnicos do Banco de Portugal e desempenhou vários cargos de chefia na Administração Pública. Sempre quis ter iguais oportunidades e fazer escolhas com a mesma liberdade com que um homem as faz.
Helena Aires de Sacadura Cabral nasceu em Lisboa às 00 horas de 7 de dezembro de 1934. A mãe, muito progressista para a época, teve um papel pre- ponderante na sua vida. Foi ela quem lhe incutiu a ideia de que deveria ser totalmente independente, não depender de um homem.
Em 1957 casou com o arquiteto Nuno Portas. Os filhos nasceram em 1958 (Miguel Portas) e 1962 (Paulo). A principal dificuldade foi conciliar a carreira e a família. Recorda a imagem do bebé Miguel no berço, no escritório.
Hoje, com 81 anos, mantém a jovialidade que sem- pre se lhe conheceu e que extravasa nas suas gargalhadas. Não tem paciência para as amigas que só se queixam das doenças. E afirma que se voltasse atrás “teria feito mais umas coisitas que não fiz”.
O seu pai era autoritário, mas a sua mãe respeitava as suas escolhas. Como foi ser criada nesta dualidade de posições?
Julgo que muitas crianças cresceram nesse dualismo entre o que o pai e a mãe pensavam, que nem sempre coincidia. O que acontecia nessa época é que a maioria das mães abdicava da sua opinião para não criar conflitos com o marido.
Em criança, o que queria ser quando fosse grande?
Quando todos queriam ser bombeiros, eu dizia que queria ser médica da cabeça, para mexer lá dentro. Queria ser médica cirurgiã numa altura em que as mulheres o não eram. Lembro-me de que a única de quem se falava na altura, Cristina Bermudes, era obstetra. Portanto, ainda uma área ligada aos problemas das mulheres. Em alternativa também gostava de poder ter sido escultora.
“Achava que a Economia era uma ciência que permitia ensinar aos políticos os caminhos a seguir para fazerem melhor. Levei 30 anos a descobrir que é exatamente o contrário: os políticos pedem aos economistas que lhe façam umas contas que justifiquem o que eles querem.”
O seu pai opunha-se a que prosseguisse os estudos. Que consequências teve essa posição?
A de estudar com uma bolsa, na tentativa de mostrar ao meu pai que podia fazê-lo a expensas próprias. Foi por isso que comecei a dar explicações muito nova, quando fiz 14 anos. Por outro lado, como nasci em dezembro, entrei na faculdade com 15 anos e, para pagar os meus livros, fui “sebenteira”. Ou seja, era dos meus apontamentos que se faziam as sebentas de estudo das matérias, nos casos em que os professores não faziam senão sumários.
Como decidiu o curso que queria?
Acreditava que a Economia podia ajudar a transformar o mundo, juntamente com outras ciências sociais. Achava que a Economia era uma ciência que permitia – imaginem a minha candura! – ensinar aos políticos os caminhos a seguir para fazerem melhor. Levei 30 anos a descobrir que é exatamente o contrário: os políticos pedem aos economistas que lhe façam umas contas que justifiquem o que eles querem.
O meu pai dizia que eu daria uma boa advogada de barra. Mas na minha família são todos médicos ou advogados. Como o meu pai não queria que eu estudasse, eu não lhe ia fazer o jeito de ter o mesmo curso que ele, para herdar o escritório. À distância acho que ele tinha razão.
Ele também tinha na cabeça que eu me casaria com um senhor determinado. Hoje seria rica, teria uns terrenos a norte do Tejo, portanto ninguém teria ocupado as minhas terras, o homem já tinha marchado há muitos anos e eu teria um estado muito mais fino, que é o de viúva, em lugar de divorciada (risos).
Também não teria tido os filhos que teve…
Não… e também não teria tido as dores de cabeça que qualquer um me deu. Isto tem tudo um lado bom e um lado mau (risos).
Como era o ambiente estudantil?
A faculdade tinha um ambiente muito fechado, mas eu tive grandes professores como Teixeira Pinto, Bento Murteira, Bento Gonçalves e, tirando um, Leite Pinto, todos os outros não faziam distinções de sexo. E devo referir um assistente espantoso, de Álgebra, o Dr. Laginha, a quem muito devo na minha paixão pelas matemáticas.
Foi a melhor aluna do seu curso. Como é que os colegas homens encaravam esse facto?
Confesso que na faculdade não tive grandes problemas. Talvez porque uma parte significativa dos colegas com quem me dava mais era do último ano. Porquê? Não sei responder. Éramos muito poucas mulheres e eu entendia-me melhor com os colegas mais velhos do que com os do meu curso.
Dois dias depois de terminar o curso conseguiu encontrar emprego. Era comum na altura?
Não era comum, de facto. Mas foi um professor meu que me convidou para trabalhar na Comissão de Coordenação Económica porque, penso, tinha a classificação mais alta do curso e ele sabia que eu não queria enveredar pelo ensino. Fui ganhar um belíssimo salário: 1250 escudos.
Alguma vez foi a uma entrevista para arranjar emprego?
Nunca. Tive sempre convites para trabalhar. Ainda hoje, felizmente!
Como era socialmente considerada a sua profissão, economista?
A Economia era um setor dominado por engenheiros e juristas. Os economistas mais conhecidos nessa altura estavam no ensino superior e eram poucos os que trabalhavam como tal. Estavam sobretudo na Banca. A explosão veio com o 25 de Abril.
Quais eram as expectativas de quem entrava na profissão?
Para as mulheres era sobretudo o ensino médio ou a Administração Pública. Foi, aliás, nesta última que comecei. Mas se não tivesse tido a classificação de curso que tive não teria sido convidada.
“Fui, de facto, a primeira mulher a entrar nos quadros técnicos [do Banco de Portugal, em 1973]. No início não foi fácil, mas tive um colega, o Ernâni Lopes, que me ajudou muito a integrar no meio e no trabalho.”
Como evoluiu depois a sua carreira?
De acordo com o esforço que fazia fui sempre mudando para melhor. Da Comissão passei para o Ministério das Comunicações e Transportes, também convidada por um professor meu, o Doutor Bento Murteira, de quem fui a melhor aluna. Depois, dentro do mesmo ministério, subi na carreira quando o Eng. Correa Gago me levou para a Aeronáutica Civil. A partir daí passei para a banca, que acumulei com o ensino universitário. E comecei, então, uma segunda carreira na escrita. Deixaria, 18 anos decorridos, o Banco de Portugal (BdP) para me dedicar a projetos de imprensa escrita. Ajudei a fazer a Máxima, a Fortuna, a PM-Política Mesmo e outras.
Foi a primeira mulher a ser admitida nos quadros técnicos do Banco de Portugal. Como foi recebida?
Fui, de facto, a primeira mulher a entrar nos quadros técnicos. No início não foi fácil, mas tive um colega, o Ernâni Lopes, que me ajudou muito a integrar no meio e no trabalho. As histórias dessa época eram mais ligadas à situação da Mulher enquanto profissional do que propriamente ao Banco de Portugal. Não se esqueça de que entrei no banco em 1973…
No princípio, abriam a porta do gabinete, espreitavam e tornavam a fechar. Ao fim de dois meses, o Ernâni disse-me para ir para o gabinete dele e que eles deixariam de espreitar.
Nessa altura, que empresas eram mais apetecíveis?
Um dia decidi ir para a atividade privada, onde se ganhava melhor. Tive um convite e fui para o Banco Português do Atlântico, trabalhar no Gabinete de Estudos, chefiado pelo Doutor Xavier Pintado. Daí sairia para o Banco de Portugal, a convite do Dr. Ramos Pereira, administrador com quem aprendi muito. O Banco de Portugal foi a minha grande escola. Orgulho-me muito de ter tido Jacinto Nunes e Silva Lopes como governadores com quem trabalhei de perto.
Quais as principais preocupações que então estavam na agenda no Banco de Portugal?
O Banco de Portugal era uma instituição respeitadíssima, onde qualquer bom economista sonhava trabalhar, mas na qual só entravam os melhores. O seu papel no mercado financeiro era vital e os seus poderes de fiscalização e controlo eram levados muito a sério. O ministro das Finanças não fazia nada sem ouvir o Banco de Portugal.
Confesso que, na altura, com muitas dúvidas sobre a capacidade de sobrevivermos à confusão que, no início, se instalou. Não se esqueça de que de um lado tínhamos os militares e do outro o Partido Comunista e de que o FMI acabaria por ser chamado para nos “ajudar”…
E como foi no Banco de Portugal?
Eu e a Teodora [Cardoso] fizemos uma revolução quando entrámos no Banco de Portugal em 1973. Em 1974 dá-se a revolução. Houve um Senhor Mouta Liz que era um rapaz que virou para a esquerda, mas tinha um Triumph descapotável, e que achou que eu e a Teodora teríamos de ser avaliadas para saber se politicamente estávamos à altura de continuar a desempenhar as funções técnicas que desempenhávamos, por sermos mulheres. Lembro-me de os contínuos do Banco de Portugal andarem de camisa aberta até cá abaixo e de dizerem “Oh camarada”. De um Senhor Lopes, que foi meu contínuo, se recusar a levar os Boletins do Banco de Portugal de um edifício para o outro porque o ACTV – Acordo Colectivo de Trabalho Vertical não previa essa tarefa. Há inúmeras histórias destas, do que foi viver a revolução no Banco de Portugal, que era o banco mais tradicional e hierarquizado (por exemplo, tinha elevadores forrados a cabedal verde onde só o Governador podia subir).
E, mais tarde, em 1986, a entrada de Portugal na Comunidade Europeia?
Para variar, com algumas dúvidas, que se mantêm ainda hoje. Eu tinha trabalhado nos primórdios da EFTA, mas a adesão a uma moeda única levantava-me muitas incertezas. Preferia que a entrada na Zona Euro tivesse sido feita mais tarde e de outro modo.
Mas só este ponto daria um livro… que Ferreira do Amaral já escreveu. Houve, julgo eu, alguma precipitação.
Como é que os trabalhadores viviam a empresa?
De modo menos engajado que antes, porque a clivagem entre patrão e trabalhador, entre capital e trabalho, se agravou com o 25 de Abril e a sindicalização das forças produtivas.
“Quando nasceram os meus filhos eu não tinha direitos. Não havia férias de parto. Não podia ausentar-me para o estrangeiro sem autorização do marido (…). Não podia exercer certas profissões cujas carreiras me estavam vedadas. As mulheres eram sempre propriedade de alguém…”
Quais foram os principais marcos de mudança?
A maior e mais importante terá sido a liberdade de expressão. Mas a transformação do papel da Mulher na sociedade e no mundo profissional foi também grande. Apesar disso ainda ficou muito por fazer. Basta ver quantas mulheres estão na gestão das grandes empresas ou na política. A maternidade e a falta de trabalho a tempo parcial ainda marcam muito as escolhas para os lugares de topo.
E antes, como era?
Quando nasceram os meus filhos eu não tinha direitos. Não havia férias de parto. Não podia ausentar-me para o estrangeiro sem autorização do marido nem podia agregar os meus filhos no passaporte sem que o pai autorizasse. Não podia também exercer certas profissões cujas carreiras me estavam vedadas: a diplomacia ou a magistratura, por exemplo. As mulheres eram sempre propriedade de alguém…
Como era ser mulher e simultaneamente ser profissional, fazer carreira?
Era difícil e doloroso, porque o sentimento de culpa das mães que trabalhavam era, nesse tempo, muito bem explorado.
Os momentos mais difíceis passei-os quando os meus filhos eram pequenos e não compreendiam que eu tivesse de ir trabalhar. Nas doenças que tiveram foi terrível. Mas não cedi e fiz bem, creio, porque hoje seria uma mulher muito frustrada se não tivesse a atividade profissional que ainda tenho.
Como conjugava a vida profissional com a privada? Dividia tarefas com o marido?
Conjugar não será bem o termo. Nem sempre consegui. Mas consegui o mais importante que foi libertar-me do sentimento de culpa. O meu marido não era dado a partilha de tarefas. Era um liberal, não me coarctava, mas não ajudava. E isso criou algumas tensões entre nós. Felizmente que existiam umas tias do seu lado que foram pessoas maravilhosas e me ajudaram muitíssimo, dado que a minha mãe vivia em África.
Quando se divorciou sentiu que esse facto poderia prejudicar a sua carreira?
Divorciei-me em 1967 e se esse facto não me prejudicou também não ajudou, porque uma mulher inteligente e com dois palmos de cara era sempre um “potencial perigo” para os outros casais…
Alguma vez se sentiu discriminada?
Senti sim. Não pelo facto de ser divorciada, mas pelo facto de me ter divorciado de “quem” me divorciei. O meu marido era um progressista e eu fui vista, durante algum tempo, como a reacionária que não soubera compreender e acompanhar o “intelectual” com quem tinha tido o privilégio de casar…
Todavia o tempo havia de provar quem eu era realmente!
Assédio sexual?
Por bem ou por mal, nunca tive assédios desses. Julgo que assustava os homens. Felizmente. O que dá mais valor a quem teve a coragem de me amar.
“Tive de trabalhar mais do que os homens. Mas não me queixo, porque foi isso que fez de mim a profissional que sou hoje.”
Ganhava o mesmo que os homens e sentia que lhe eram dadas as mesmas oportunidades?
Ganhava o mesmo, mas não tinha as mesmas oportunidades. E para ganhar o mesmo trabalhava mais do que os homens.
Então, para ascender na carreira teve de provar que era melhor do que os seus colegas?
Tive de trabalhar mais do que eles. Mas não me queixo, porque foi isso que fez de mim a profissional que sou hoje. Até agradeço!
Alguma vez sentiu que as outras mulheres podiam dificultar-lhe mais a vida do que os homens?
Senti. Não há pior inimigo de uma mulher que outra mulher. Se tivesse sido feia teria sido mais fácil.
Qual a vitória profissional que mais gozo lhe deu ou que mais lhe custou alcançar?
Ser a melhor do meu curso.
Por que razão não há mais mulheres em cargos de topo?
Porque a escolha é feita por homens que temem as consequências da maternidade na produtividade laboral feminina e porque não há trabalho a tempo parcial, que seria uma boa opção para a mulher não deixar o mercado laboral e ser mãe ao mesmo tempo.
Como vê o futuro das mulheres na gestão de empresas?
Um pouco nebuloso, se não for resolvido o enquadramento família/profissão de que falei atrás.
O que pensa dos programas para aumentar a diversidade de género nas empresas?
Julgo que nas grandes empresas essa diversidade é uma mais-valia que se não encontra nas pequenas.
E as quotas?
Compreendo a posição, mas não partilho dela. Quero ser escolhida por critérios de qualidade e não pela quota de género. É um pouco humilhante…
O que deixou para trás para ter uma carreira de sucesso?
Não sei se a carreira foi ou não de sucesso. Foi aquela que eu pude e quis fazer. Mas poderia ter feito muita coisa de que gostaria e que me estava vedada pelo facto de ser mulher. Apesar do preço que paguei, ainda fiz bastantes coisas.
Que coisas foram essas que deixou de fazer?
A carreira diplomática é o que eu teria seguido, mas não era aberta às mulheres. Gostaria também de ter sido juiz, mas a magistratura não era aberta às mulheres. A cirurgia não era vedada às mulheres, mas não era facilitada, a não ser a ginecológica. Teria gostado de pilotar um avião e também não deixavam; mas tirei o brevet.
Abdiquei de muita coisa. Quando conheci o meu marido ele queira ser realizador de cinema. Eu disse-lhe que primeiro terminava o curso de arquitetura porque eu não ia ser casada com o Senhor Portas. Depois até podia ir para Paris lavar pratos se fosse preciso. Acabou o curso e havia que escolher quem se doutorava. Como eu estava grávida do Miguel, doutorou-se ele. Como se a gravidez fosse doença! Fiquei à espera da minha oportunidade. Não tive na altura as coisas de que gostaria, mas mais tarde não deixei de ter todas as que pude. O pai dos meus filhos foi o grande beneficiário de eu achar que a minha primeira obrigação era que a família que eu tinha constituído vivesse e funcionasse da melhor maneira possível – e não estou arrependida.
O que mudou entre o seu tempo e os dias de hoje?
Quase tudo. A forma de “ser” e o modo de “ter”. Apesar de todos os excessos, valeu a pena.
Acha que teria sido uma profissional diferente com as tecnologias que existem hoje?
Sem qualquer dúvida. Tenho vinte e cinco livros publicados em vinte e quatro anos. Nem se pode comparar o trabalho desenvolvido para cada um deles.
Como se impunha sendo mulher (e mais jovem), talvez num ambiente predominantemente masculino?
Nunca tive dificuldades nesse campo porque a maioria dos meus colegas via-me como igual. Os que não viam não ganharam nada com isso porque, manifestamente, eu era areia em demasia para a camioneta deles.
Há algum episódio engraçado que lhe tenha acontecido enquanto chefe?
Mandar uma senhora, que vestia calções bastante curtos no trabalho, trazer uma garrafa de água de casa, porque de cada vez que ela se debruçava sobre o repuxo do corredor saiam metade dos homens do serviço…
Acha que foi uma gestora diferente pelo facto de ser mulher?
Estou convencida de que terei sido mais sensível do que um homem aos problemas familiares das pessoas – homens ou mulheres – que trabalharam comigo.
“Fui uma negociadora difícil, justamente porque era temida enquanto mulher. (…) Limitei-me a pôr no lugar quem pensou que poderia “amolecer-me” pelo facto de eu ser mulher.”
Quais são para si, então, as características de uma mulher líder?
Exatamente as mesmas de um homem: autoridade e responsabilidade. Coragem e bom senso.
Ouviu algumas vezes epítetos de “durona”, “mandona”…?
Não muitas. Mas os que ouvi entraram a 100 e saíram a 1000.
Notava que as mulheres se comportavam de maneira diferente da dos homens nas empresas?
No início masculinizaram-se muito. Hoje penso que não há grandes diferenças. O que há é poucas mulheres nessas funções.
Considera que houve decisões que lhe foram mais difíceis de tomar do que seriam para um homem?
Houve, algumas. Mais por razões de temperamento do que por género propriamente dito.
Quando negociava, achavam que poderia ser mais mole?
Pelo contrário. Fui uma negociadora difícil, justamente porque era temida enquanto mulher. Por isso não tenho “estórias” dessas. Limitei-me a pôr no lugar quem pensou que poderia “amolecer-me” pelo facto de eu ser mulher.
É sobrinha de Sacadura Cabral e aprendeu a pilotar aviões!
Porque a paixão dos aviões vem de família e porque trabalhar na Aeronáutica Civil me aguçou essa vertente. Mas tive sempre os pés bem assentes na terra…
Qual a sua máxima de vida ou de gestão?
Não tenho propriamente máximas de vida ou de gestão. Limito-me a partilhar alegrias e a consumir, em privado, os meus desgostos.
Cometeu algum erro? O que aprendeu com ele?
Muitos. Corrigi alguns e, ao corrigi-los, pratiquei outros. Mas vivi a vida que quis, dentro dos limites das escolhas viáveis.
Algum hobby?
Cozinhar, ler, ouvir música, ir ao cinema, fazer crochet ou tricot, sair com os amigos, dançar. A fusão ideal entre o que é tradicional e o que é moderno!
Define-se (também) como escrevinhadora. Além dos livros, mantém alguns blogues. Como definiria essas duas experiências de escrita e de contacto com os leitores?
No meu caso, defino-as como o casamento perfeito.
A Helena é conhecida pelas suas gargalhas e riso fácil. O humor pode ser uma arma?
O humor é uma arma e uma terapia. Começo por saber rir-me de mim. Depois, foi sempre por usar o humor que não tive assédios sexuais. E o humor pode ser mais eficaz do que uma revolução!
“Não sou uma avó tradicional. Não faço bolinhos para os meus netos – e tenho cinco livros de cozinha publicados –, não vou buscar os meninos à escola. Nada disso eu faço. Mas trabalho para eles.”
Como vê hoje o estado do país?
Com alguma angústia, confesso. A democracia partidária funciona mal, o país está demasiadamente politizado ao nível das cúpulas e o povo está pouco esclarecido por causa dessa terrível doença que se chama “partidarite”. A consequência é que as escolhas não recaem sobre os melhores ou mais eficazes, mas sim nos mais devotados às causas dos partidos que estejam no poder. É algo que precisa de ser corrigido e afasta da política os mais competentes.
O que é para si um luxo?
Ter saúde, ter tempo e ter amor.
Como consegue manter a boa disposição?
Devo ser das mulheres mais bem dispostas da minha geração. Porque faço muita maluqueira que ninguém entende. Tenho uma amiga que me diz: “Tens meia hora para fazer a mala. Vamos para Marraquexe”. Não sou uma avó tradicional. Não faço bolinhos para os meus netos – e tenho cinco livros de cozinha publicados –, não vou buscar os meninos à escola. Nada disso eu faço. Mas trabalho para eles. Se se meterem na política, têm o caldo entornado porque lhes corto o mal pela raiz. Depois de terminado o curso, podem fazer o que quiserem.
Esta entrevista consta do livro “Memórias de Executivas”, publicado em 2015, onde encontra outras histórias de pioneiras que deixaram a sua marca no mundo dos negócios. Saiba mais aqui.