Durante um ano, Marta Lowndes pouco mais fez do que estudar e aprender para tornar realidade um sonho que a acompanhava há mais de duas décadas. “Ser empreendedor é um verdadeiro teste à capacidade de aprender, criar e executar”, avisa. Mas Marta superou o desafio e hoje as suas peças embelezam as portuguesas que apreciam a sua inspiração na joalharia tradicional portuguesa. Nesta entrevista, a designer de joias e CEO da Braganzia, revela o seu percurso, as suas inspirações e deixa um conselho para todas as mulheres que acham que já é tarde para concretizar um sonho.
Como se tornou designer de jóias? Era um sonho? A Braganzia nasce inspirada no legado admirável da joalharia portuguesa. Os meus pais são co-responsáveis. Recordo com imenso afecto os momentos quando me sentava junto à minha mãe para admirar as peças da minha caixa de jóias. Por outro lado, a família do meu pai é de Viana do Castelo. Minhoto convicto e amante de todas as expressões da terra, cultivou em mim o amor pela as suas gentes, os costumes, as tradições e arte. Hoje tenho todas as peças essenciais da ourivesaria minhota, inclusive os brincos rainha em filigrana, que adoro.
Foi no programa intensivo Faststart, da Fábrica de Startups, que se testaram os pressupostos do negócio
Depois de estudar no Brasil e nos Estados Unidos voltei para Portugal e enamorei-me perdidamente pelas nossas joias antigas, a ligação entre pedras do Brasil e a joalharia portuguesa. Tinha adquirido a perspectiva de fora, o olhar estrangeiro e percebi o potencial. Mais do que um sonho, as peças da Braganzia são as minhas pequenas esculturas, o meu diálogo com o mundo.
Quais os maiores desafios que enfrentou nesta área? Fiz uma escolha difícil. Durante um ano dediquei-me exclusivamente à aprendizagem das matérias e das técnicas de joalharia e à análise da indústria a nível internacional, o mercado e as tendências a nível de distribuição. Tudo o resto, excluindo a minha família, ficou em segundo plano. Foi no programa intensivo Faststart da Fábrica de Startups que se testaram todas as alternativas e pressupostos do negócio. Encontrei ainda mais desafios na construção da loja online e no desenvolvimento da presença da Braganzia nos vários canais sociais. Um empreendedor tem de saber muito de tudo. Os recursos são limitados. É um verdadeiro teste à capacidade de aprender, criar e executar. Quando tirei o MBA nos Estados Unidos estudei imenso durante 2 anos, a ponto de não saber o que fazer nos fins de semana, mas criar a Braganzia conseguiu ser mais intenso. Aprendi como nunca nos últimos 2 anos!
Em que medida as suas experiências profissionais anteriores a ajudaram? Sempre fui muito criativa mas também tenho uma faceta lógica muito forte. A arquitetura e o MBA sedimentaram esta propensão para o raciocínio estruturado. Tenho um “minor” em Finanças. Estive sete anos à frente da Timex em Portugal. As multinacionais são excelentes plataformas para o desenvolvimento de métodos de trabalho. Foi nessa altura que surgiram as primeiras ideias em relação à Braganzia. Saí para apoiar o meu marido no desenvolvimento das empresas da Methodus, tendo, por fim, assumido a pasta financeira. A ideia da Braganzia acompanhou este percurso, mas foi somente quando percebi o potencial do mercado online que decidi por tudo a teste.
Mais do que pessoas, tenho marcas favoritas como a Tiffany, não tanto pelo design mas pelo imaginário que conseguiu criar
Como designer onde se inspira? As jóias antigas portuguesas são um enorme suprimento de ideias. Incorporei o conceito das parures, em particular das do século XVII, época de enorme esplendor na joalharia, quer em matéria quer em técnica. As parures apostavam na versatilidade de vestir. Os pendentes dos brincos destacavam-se para enfeitar o colar, os anéis também eram pulseiras, enfim imensas alternativas, adaptáveis ao vestido e à ocasião. Uma ideia muito moderna, completamente atual que proporciona à mulher de hoje várias opções e uma grande adaptabilidade quer às ocasiões quer à expressão do seu estilo. Por outro lado a arquitetura e as artes tradicionais portuguesas são uma fonte infindável de inspiração.
Quem são os seus designers favoritos? Mais do que pessoas, tenho marcas favoritas como a Tiffany, não tanto pelo design mas pelo imaginário que conseguir criar e manter actual. Gosto muito da linha que a Paloma Picasso criou para a Tiffany. A Dianne Von Fustenberg desenhou uma linha modernamente clássica para a H. Stern e o Antonio Bernardo conquistou-me pelo design apurado em peças de ouro. Adoro todos os novos conceitos que apostam na ergonomia e na utilização muito criativa de novos materiais. A Braganzia tem assumidamente um design clássico-moderno, mas as fontes fluem de todos os lados.
Que tipo de mulher procura as suas joias? A cliente Braganzia mantém uma actividade profissional, é executiva e líder. Precisa portanto de alternativas para diversas ocasiões e, sobretudo, quer expressar a sua personalidade e estilo.
A mulher tem um papel muito importante na criação de novas empresas e pode fazer a diferença
Qual a sensação de se cruzar com alguém que usa as suas peças? Em última análise é o selo de aprovação mais importante!
O que diria a uma mulher que tenha um sonho por concretizar há muito tempo? O melhor conselho é que aposte no sonho, que converse com empreendedores para avaliar se vale a pena, e que utilize os incentivos da União Europeia. A mulher tem um papel muito importante na criação de novas empresas e pode fazer a diferença.
E que conselho deixaria a uma jovem que queira entrar nesta área? Para as designer de joias: força, conquistem o mercado! Tradicionalmente a indústria tem sido dominada pelos homens. Mas são as mulheres que melhor percebem o que as mulheres precisam. Quero ver cada vez mais joias criadas no feminino: de mulher para mulher!