Texto de Maria Domingas Carvalhosa, CEO da Wisdom Consulting
O COVID19 trouxe-nos mais dúvidas que certezas, mas parece-me acertado afirmar que o nosso futuro, em convivência com o vírus, sem medicamentos de cura ou vacinas, será melhor ou pior conforme o equilíbrio que se obtiver entre a necessidade de contenção do vírus e a necessária promoção da atividade económica.
Temos que reduzir, cada vez mais, o número de mortes pela doença e temos que proteger as famílias cuja sobrevivência depende da atividade económica do país. Não é um equilíbrio nada fácil de encontrar já que a economia adoece com o confinamento e os portugueses que integram os grupos de risco podem morrer devido ao desconfinamento.
Será um lugar comum afirmar que a solução tem que necessariamente assentar no bom senso. Mas é a mais pura das verdades. As decisões políticas, empresariais e pessoais têm de ser tomadas, neste contexto, com enorme ponderação.
E o bom senso diz-nos que não podemos ser aquele país exemplar cuja sociedade civil se fecha, exemplarmente, ao vírus ainda antes de o Governo o exigir formalmente e, em simultâneo, o país que mal vê o estado de emergência levantado sai para a rua, aos magotes, como se não houvesse amanhã.
A experiência que vivemos com esta pandemia foi muito negativa. Bastantes portugueses morreram ou estão a morrer e os portugueses não só vivem numa situação financeira mais difícil como assistem ao acentuar das desigualdades socioeconómicas do país. No início de maio, a Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa, apresentou os resultados de um inquérito realizado junto de cerca de 4000 pessoas que conclui que 48% dos portugueses já sofreram perdas de rendimento desde o início da pandemia e um quarto das famílias que auferem menos de 650€ mensais perderam todo o seu rendimento.
Mas também nos reservou algumas surpresas positivas. Uma delas é o facto de, nalguns setores de atividade, o teletrabalho poder funcionar, nem que seja parcialmente e de uma forma híbrida.
Esta eficácia do teletrabalho, total ou parcial, em certas áreas de atividade levou-me a pensar que uma boa forma de evitar o alastramento do contágio seria a de deixar a ‘rua’ para quem necessita de estar fisicamente presente no seu posto de trabalho e de se deslocar para o mesmo. Essa atitude levaria ao descongestionamento dos transportes públicos e do espaço público. Esta poderia ser uma situação a implementar até ao surgimento de medicamentos para a cura e/ou vacinas anti-Covid19. E permitia-nos manter o tão necessário funcionamento da economia.
Não sabemos o dia de amanhã. E um segundo estado de emergência nacional seria dramático.
Sabemos que é possível já que os números nos dizem isso mesmo. Segundo a Pordata, em 2019, trabalhavam no comércio e serviços 3 430 600 pessoas. Mesmo excluindo o comércio, acredito que mais de um milhão e meio de pessoas podiam manter a sua atividade profissional nesse registo.
Estando eu integrada neste grupo poder-me-iam perguntar se não me custaria manter o confinamento, mesmo que parcial? Claro que custaria. Mas estou solidariamente disponível para contribuir para uma solução que permita não só arrancar com uma ’nova’ normalização da economia como permitir uma redução do número de contágios.
E porque não promover este confinamento solidário?
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