Laura Antas é diretora de produção da fábrica de Braga da Bosch, onde se produzem-se vários produtos para eletrónica automóvel, responsável pela montagem final de painéis de instrumentos, sensores e sistemas de navegação, com uma equipa total de mais de 1200 colaboradores, composta também por outros níveis intermédios de gestão. Licenciada em Engenharia Eletrónica Industrial, pela Universidade do Minho, tem uma carreira de mais de 25 anos, sempre feita na Bosch. Neste entrevista Laura Antas conta como chegou às funções que hoje desempenha e como se impôs num mundo marcadamente masculino.
Como surgiu a opção pela Engenheira industrial?
Desde sempre que a tecnologia me fascinou e a área da engenharia surge naturalmente associada. A escolha da Eletrónica Industrial não foi desde logo uma paixão, mas foi algo que cresceu com o tempo e com a certeza de que o caminho a percorrer se teria de fazer no ramo industrial.
Mal terminou a universidade, ingressou na Bosch e aqui se mantém. Como foi o seu percurso?
O meu percurso profissional principal foi feito na Bosch, ainda que em áreas e funções distintas ao longo dos anos. A ligação inicial esteve associada à formação técnica. De seguida, durante uns anos, desempenhei funções ligadas ao planeamento de produção e programação de máquinas e, como consequência, iniciou-se uma carreira de gestão, começando pela responsabilidade de secções e desde 2011 passando a coordenar departamentos produtivos. Este desafio iniciou-se no departamento de inserção automática de módulos eletrónicos, que abrangia áreas da produção e manutenção, passando pela qualidade, programação de máquinas, etc. Atualmente, a liderança é da outra área produtiva da fábrica de Braga, responsável pela montagem final de painéis de instrumentos, sensores e sistemas de navegação, com uma equipa total de mais de 1200 colaboradores, composta também por outros níveis de intermédios de gestão.
Fez carreira sempre na mesma empresa. Que vantagens e desvantagens vê nessa situação?
Acredito que teria sido diferente se se tratasse duma pequena ou média empresa. Neste caso, trata-se duma grande empresa, sempre em busca da inovação, da melhoria dos seus processos e muito preocupada com a formação contínua dos colaboradores e sempre com projetos globais a decorrer. Isto é claramente uma vantagem para me manter ligada a esta família Bosch.
Quais os traços de personalidade e as competências necessárias para serem necessárias para se ser responsável fabril?
Em relação à personalidade, a resiliência tem mesmo de ser uma constante. Ao mesmo tempo, é necessária uma capacidade extra de trabalho sob pressão, flexibilidade e abertura à mudança. A tudo isto têm de ser acrescidas competências na área da liderança, que terão de englobar skills focados na comunicação, motivação das equipas, coaching, colaboração, cooperação e tantas outras…
Como surgiu o convite para diretora de produção?
Na altura já era responsável por uma secção produtiva e na Bosch planeavam-se algumas alterações organizacionais. Foi-me apresentado o desafio, que desde logo aceitei de braços abertos. Por natureza, gosto de sair da minha zona de conforto, definir novos objetivos e procurar novas motivações.
Qual a principal missão que lhe foi confiada ou que quis empreender enquanto responsável pela área?
Foi a missão da transparência e de conseguir demonstrar a todos de que esse é o caminho para a excelência. É necessária humildade para assumirmos o que está menos bem para de seguida lutarmos por soluções para melhorar. É importante criarmos a cultura que o bom não chega, o que pretendemos é a excelência!
Teve dificuldade em trabalhar num mundo tradicionalmente dominado por homens?
Obviamente que as dificuldades foram surgindo, não só porque a maioria dos outros gestores eram homens, mas também porque dentro da própria equipa a percentagem de homens era, na altura, consideravelmente maior. No entanto, a chave do sucesso foi a confiança. Criando-se um ambiente de confiança, presença e coerência entre o que apregoamos e o que praticamos, os colegas e colaboradores começam a ver-nos como gestores, deixando para segundo plano a questão do género.
Descreva-nos um dia de trabalho típico.
Eu diria antes que não existem dias típicos! O início do dia acontece por volta das 08:30 e normalmente começa com a tomada de conhecimento da situação da produção. Faço regularmente reuniões com a equipa mais próxima, para a discussão de assuntos gerais e tomada de decisões. Ao longo do dia, participo em reuniões sobre variados assuntos, que vão desde a qualidade, a projetos do departamento e gerais, gestão de pessoas e passando também pelo suporte na resolução rápida de problemas.
Aprecio as idas às áreas produtiva e o diálogo com os colaboradores, apesar das tarefas de gestão me impedirem de o fazer com a intensidade que gostaria.
Quanto ao fim do dia de trabalho, tento que aconteça apenas quando os assuntos urgentes estão encaminhados e/ou as tarefas com prazo definido estão cumpridas.
Qual a parte mais desafiante da sua função?
Os maiores desafios são sempre as pessoas. As personalidades são diferentes, as formas de encarar as situações também e é necessário lidar com todos e conseguir extrair delas o que de melhor nos podem dar.
E o que mais gosta no seu trabalho?
No dia-a-dia agrada-me o trabalho com equipas multidisciplinares, a constante aprendizagem e a luta pelos objetivos.
Como é constituída a equipa que lidera: quantas pessoas, género, habilitações.
Como chefia de departamento, lidero 10 secções distintas, cada uma dela com o seu próprio líder. Na minha área existem 3 níveis verticais de liderança: o meu, as minhas chefias de secção e as suas chefias de linha e coordenadores. Acrescem os colaboradores diretos da produção, constituídos por operadores e técnicos de eletrónica. Neste momento o grupo ronda as 1200 pessoas, a grande maioria delas a trabalhar em regime de turnos.
Sobre o género dos colaboradores que possuem cargos de chefias intermédias, o grupo é misto, mas com incidência maior para o género masculino. Já em relação aos colaboradores diretos de produção, a maioria são mulheres.
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