Licenciou-se em Gestão na Católica, foi dos primeiros alunos estrangeiros a fazer o Erasmus em Poznan, na Polónia, onde aproveitou para estagiar nas lojas Eurocash, da portuguesa Jerónimo Martins. Quando regressou a Portugal, em 1999, apesar de a Jerónimo Martins e a Unilever serem das empresas mais cobiçadas pelos colegas para iniciar a carreira, Joana Loureiro preferiu apanhar a onda das telecomunicações e optou pela Telecel, integrando a equipa que fez nascer a Yorn. Dois anos depois partiu para os Estados Unidos onde fez uma pós-graduação em Gestão e despertou para a importância das organizações sem fins lucrativos. Teve uma primeira experiência ainda nos Estados Unidos e já em Portugal trabalhou na Brandia, como responsável pela área de responsabilidade social. Não ficou mais de dois porque assim que soube que a Junior Achievement, que já conhecia dos Estados Unidos, procurava um diretor-geral para lançar a organização em Portugal candidatou-se de imediato. Conseguiu o lugar e, entre 2005 e 2009, geriu esta startup sem fins lucrativos e orgulha-se de a ter colocado no mapa da organização na Europa. Com a sensação de missão cumprida decidiu fazer uma paragem para desfrutar dos dois filhos que tinham nascido entretanto e aos quais não conseguira dedicar o tempo que gostaria.
Em 2010, 11 anos depois do estágio na Eurocash, na Polónia, regressa à Jerónimo Martins para o departamento de Recursos Humanos, com responsabilidades sobretudo na formação. Participa na definição de uma política de Recursos Humanos transversal a Portugal e Polónia, e fez parte da equipa que abriu as primeiras lojas do grupo português na Colômbia. Três anos depois pediu uma função mais operacional e passou a diretora de Operações do Recheio em Portugal, ficando responsável pelas suas nove lojas, quase 300 colaboradores e uma faturação de 150 milhões de euros. Foi um período muito intenso da sua carreira, pois exigia trabalhar sábados e domingos, fazer aberturas de loja às 6h da manhã e inventários à 1h da manhã, sempre que era preciso. Até 2019, acabaria por passar por quase todas as áreas da Jerónimo Martins: liderou o negócio de food service do Recheio, foi responsável comercial de marca própria do Pingo Doce e também pelo desenvolvimento de produtos de marca própria do Pingo Doce e do Recheio.
No ano passado, um problema de saúde grave de um familiar levou Joana Loureiro a fazer uma nova paragem. Foi durante este período que percebeu que o executive search poderia ser o passo seguinte. Não tem experiência na área, mas já provou ao longo do seu percurso profissional que isso não a assusta. Gosta de desafios, está sempre disposta a aprender mais e acredita que o facto de vir do lado do cliente e de ter passado por várias áreas e funções ao longo de duas décadas de carreira é uma mais-valia como partner da Transearch.
É partner da Transearch há um ano. O que a motivou a abraçar este novo desafio e qual a sua missão na empresa?
Gosto de abraçar cada desafio como um case study que me obriga a aprender tudo sobre uma nova área de negócio, ao mesmo tempo que me permite colocar a minha experiência ao serviço de novos clientes. Tenho a vantagem de vir do lado das empresas e de conhecer várias áreas do negócio. Fiz recrutamento em todas as áreas por onde passei. Por isso, se hoje um cliente nos pede um diretor de Operações ou um diretor Comercial, eu sei que perfil procurar porque eu própria já exerci essas funções. Por outro lado, como sou genuinamente curiosa, e gosto de estar sempre a aprender, o executive search é uma atividade que me desafia, pois permite-me trabalhar vários setores. Tanto posso ter um projeto na área dos mercados financeiros, como na distribuição ou na saúde. Esta diversidade é, para mim, muito interessante.
Tão importante como tudo isto, o facto de a Soledade Carvalho Duarte [managing partner da Transearch] ser uma pessoa com quem eu sabia que gostaria muito de trabalhar, tornou impossível recusar este desafio.
Para um bom recrutamento é fundamental entendermos bem o negócio e a cultura da empresa. A maior parte dos recrutamentos que falham não é por falta de competência técnica, mas porque a pessoa e a cultura não estão alinhadas.
Que competências considera serem mais importantes na função que hoje ocupa?
A minha vontade de aprender e a curiosidade são essenciais. Para um bom recrutamento é fundamental entendermos bem o negócio e a cultura da empresa. A maior parte dos recrutamentos que falham não é por falta de competência técnica, mas porque a pessoa e a cultura não estão alinhadas. É preciso fazer muitas perguntas e saber ouvir para que isto não aconteça.
No executive search a resiliência também é muito importante. Muitas vezes, os clientes vêm ter connosco com a expetativa de encontrarem um super-homem ou uma super-mulher, e esses perfis não existem. Temos de tentar corresponder ao máximo a estas expetativas e também mostrar alguns perfis alternativos – mais fora da caixa -, que nós percebemos que podem ser os ideais para o que o cliente procura.
E finalmente, a empatia, que é fundamental quando se trabalha com pessoas, quer sejam os clientes, quer sejam os potenciais candidatos.
Qual é o momento profissional de que mais se orgulha numa carreira tão preenchida e diversificada?
Tenho dois momentos de que me orgulho especialmente, além de me orgulhar das excelentes relações que criei nas várias equipas com que trabalhei. O primeiro momento foi ter sido a primeira diretora geral da Junior Achievement, quando ainda nem tinha 30 anos, e de ter levado a organização a bom porto. Alguns dos elementos do board achavam que eu era de facto muito nova, mas a verdade é que o meu percurso e a minha experiência nos Estados Unidos me davam as competências necessárias.
Também me orgulho de ser madrinha da sétima loja da Ara na Colômbia, na cidade de Pereira. Como fiz parte da equipa que lançou as lojas da Jerónimo Martins na Colômbia, este é um símbolo do que ajudei a construir.
Durante algum tempo pensava que para ter mais mulheres no topo bastava que elas quisessem e tivessem vontade, mas hoje percebo que se não houver o empurrão das quotas, só a vontade não chega.
A presença de mulheres em funções de liderança continua longe do equilíbrio. Na sua opinião o que pode ser feito para acelerar o caminho para a igualdade?
O meu pensamento é evolutivo. Hoje sou a favor das quotas porque é a única forma de acelerar o processo de igualdade. Durante algum tempo pensava que para ter mais mulheres no topo bastava que elas quisessem e tivessem vontade, mas hoje percebo que se não houver o empurrão das quotas, só a vontade não chega.
Que conselho daria a uma jovem executiva com ambições de chegar a funções de liderança?
É muito importante ter uma grande capacidade de trabalho, curiosidade e vontade de aprender. Nunca achar que se sabe tudo, mas ter uma boa dose de humildade. Eu gosto de falar mas sempre achei que é mais importante ouvir, e sobretudo ouvir os mais velhos. Mesmo sabendo que a forma como eles viveram foi outra, têm muita sabedoria e experiência acumulada que devem ser escutadas. Finalmente, valorizar sempre as opiniões dos outros, por mais diferentes que sejam das nossas e por mais que nós achemos que podem não estar tão acertadas.