“Ser pai de primeira viagem é algo que pode ter tanto de emocionante como de assustador já que implica necessariamente mudanças grandes nas nossas vidas. Gerar uma vida e tê-la nas nossas mãos (literalmente) é uma enorme responsabilidade.
Sempre tive o desejo de ser pai e após casar com a Ana tornou-se óbvio que o momento estaria para breve. Quando o Rodrigo nasceu senti uma felicidade profunda e um desejo imediato de o conhecer e acompanhar o seu crescimento. Sempre considerei que a responsabilidade/privilégio de cuidar de um filho deve ser repartida, por isso foi com naturalidade que optámos por uma licença partilhada de 6 meses.
A decisão de ficar mais tempo com o Rodrigo (através da licença alargada e posteriormente da licença de assistência a filho), foi resultado de uma reflexão conjunta, após ponderarmos uma série de fatores.
Em primeiro lugar, o facto de termos conseguido inscrição na creche que pretendíamos apenas para quando ele já tivesse um ano de idade, em segundo, não o querermos colocar noutro sítio em pleno inverno, altura especialmente pródiga em doenças e em terceiro e mais importante, conseguirmos garantir que a educação e alimentação do nosso filho seguiam o que pretendíamos durante o primeiro ano de vida dele.
“Mas porquê o pai e não a mãe?”
Esta foi a questão que muitos nos fizeram ou pensaram. Para nós a resposta foi simples. Enquanto estive em casa no início da licença parental obrigatória entendi que queria ser um pai o mais presente possível e que, mesmo optando por uma licença parental partilhada, a divisão do tempo ainda é muito desequilibrada para a mãe (5 meses vs 1 mês) por isso pareceu-me natural ser eu. Outro fator que pesou na decisão foi o facto da Ana ter maiores responsabilidades profissionais, pelo que aumentar a sua licença poderia ter maiores custos na sua carreira, sendo esta uma realidade de muitas mulheres.
“Mas então e no trabalho?” foi a questão seguinte, e aí tenho que agradecer a compreensão da empresa para a qual trabalho, a EDP, e da minha chefia direta. É importante que fique claro que o facto de querer dedicar este período da minha vida ao meu filho não faz de mim um pior profissional ou com menos ambição. Pelo contrário, saio desta experiência com muitas competências que tenciono aplicar em todos os campos da minha vida.
Este tempo não volta atrás
Agora que já conto com cerca de 3 meses em casa, não podia estar mais contente com minha decisão. Durante este período tive o privilégio de viver momentos que nunca mais me irei esquecer como por exemplo ser o primeiro a ouvir o meu filho a chamar papá, ver as suas primeiras tentativas de gatinhar ou “minhocar” e de poder aplicar o método de alimentação Baby Led Weaning (BLW) que de outra forma seria muito mais difícil de concretizar.
Entendi que eles começam a comunicar muito antes de saberem falar, através de gestos, expressões, sons e claro, choro. Hoje sinto que consigo compreender as suas necessidades a cada momento e temos uma ligação que é inestimável e pela qual me sinto imensamente grato. Gratidão é também o que sinto em relação aos meus pais e sogros que, embora trabalhem, são incansáveis na ajuda que nos têm proporcionado.
Não pretendo romantizar demasiado o que é cuidar de um bebé, porque é um trabalho exigente, barulhento e muitas vezes com aromas menos bons (afinal é necessário trocar muitas fraldas ao longo do dia) mas na minha opinião, o lado positivo ultrapassa grandemente o negativo.
Não sei qual a percentagem de pais que decidem alargar o período da licença de parentalidade, mas suspeito que é um número muito reduzido. Julgo que as principais razões são o facto de desconhecerem esta possibilidade da lei portuguesa e de terem receio que o impacto na vida profissional seja grande por a sociedade ainda ver a educação de um bebé como um papel da mãe ou da creche. Mas este tempo não volta atrás.
Seria ingénuo pensar que não possa ter algum impacto na carreira no curto prazo, mas sinto que tomei a decisão certa, já que para além de poder acompanhar o meu filho como poucos pais podem, tenho-me desenvolvido a nível pessoal. Desenvolvi instintos que não sabia ter, aprendi a gerir melhor o meu tempo, adquiri uma capacidade de empatia e acima de tudo tornei-me uma pessoa mais completa.”
Diogo Onofre Jesus é Marketing Intelligence Analyst na EDP