José António de Sousa: As mulheres da minha vida

O gestor que liderou várias multinacionais na área dos seguros homenageia as mulheres que mais marcaram (e marcam) a sua existência. "Fizeram de mim o que sou. Um homem agradecido, de bem com a vida, e profundamente feliz", afirma.

José António de Sousa fez a maior parte da sua carreira na liderança de multinacionais no estrangeiro.

José António de Sousa acumula 42 anos de experiência de gestão de topo e de liderança (Geschäftsführer, Country Manager, Regional Manager, CEO, Presidente) em 3 multinacionais seguradoras e resseguradoras (Gerling-Konzern, Zurich Financial Services, Liberty Mutual) de relevo mundial (Fortune 100 companies). Depois de 15 anos como presidente e CEO da Liberty Seguros em Portugal, hoje é consultor independente de empresas e colunista da Executiva. 

 

“Falar sobre as mulheres da minha vida é falar sobre a essência própria profunda, e a coluna vertebral de sustentação da minha vida, desde a sua ‘fundação’, até aos dias de hoje. Sem elas não estaria a escrever estas linhas em homenagem às mulheres que me marcaram e fizeram aquilo que, para o bem e para o mal, sou e represento neste mundo.

Desde logo a minha mãe Fernanda, falecida em meados de 2021, aos 97 anos de uma vida feliz, bem vivida, em que repartiu amor e sorrisos por onde passava. Uma abelhinha pequenina e superlativa que criou três matulões sem deixar de trabalhar fora de casa, assim contribuindo para o orçamento familiar modesto, de uma família de classe média modesta. Mas, trabalhando, nunca deixou de acompanhar os  três filhos nos seus estudos e na sua vida quotidiana, interessando-nos e motivando-nos para aproveitar as oportunidades que ela e o meu pai não tinham tido de fazer um curso universitário, e portanto de ter a possibilidade de galgar o famoso ‘elevador social’, e singrar na vida. Foi uma companheira de mão cheia do meu pai, e uma mãe de três filhos que está indelevelmente gravada para sempre no meu coração e na minha memória, que a evoca diariamente, várias vezes ao dia. É uma instituição fundacional desde o dia em que nasci, e que só deixará de o ser no dia em que eu morrer.

As filhas Cristina (à esquerda) e Inês, e a mulher, Conceição, com a neta Sofia ao colo.

Depois a Conceição, a mulher que me enche as medidas há 47 anos, pela qual continuo apaixonado como no primeiro dia da nossa jornada em comum, a companheira de uma vida, que me apoiou e acompanhou com carinho, amor e dedicação enquanto eu fiz carreira internacional no setor segurador para três multinacionais de relevo e muito exigentes. Sem ela, que me deu duas filhas maravilhosas (hoje mulheres feitas de 37 e de 40 anos), a minha vida teria sido incomparavelmente mais difícil, e o galgar dos muitos patamares que logrei subir no tal ‘elevador social’ virtualmente impossível. Conheço muito poucos que tenham chegado onde cheguei sem ter passado por um processo de divórcio, muitas vezes mais do que uma vez.
Mudar de país com a casa e a família às costas a cada quatro anos, ao longo de 25 anos, não é para qualquer um, e muito menos para qualquer companheira de jornada. A Conceição  não só se manteve leal e positiva a apoiar o meu percurso profissional, apesar dos sacrifícios que isso representava para ela, como sempre me motivou e incentivou para que eu me mantivesse na crista da onda em termos profissionais. Foi sempre uma anfitriã exemplar, uma mãe sempre presente na vida das nossas filhas, fazendo com que elas se adaptassem harmoniosamente e sem traumas a cada 4 anos a um novo país, a uma nova escola, a novos amigos. Não consigo imaginar a minha vida sem ela, pura e simplesmente. A mulher, companheira, cúmplice, amiga que qualquer homem sonha em ter.
A Conceição deu-me duas filhas, a Cristina (40 anos) e a Inês (37 anos). Impossível fazer distinção entre qualquer uma delas em termos de amor irrestrito, e de paixão. Desde que a primeira filha nasceu, a minha vida passou a estar exclusivamente focada na preservação da união e coesão familiar, e no crescimento pessoal e profissional das minhas filhas. Apesar das solicitações profissionais, procurei (com êxito, assim parece olhando para elas) nunca faltar nos momentos marcantes e importantes da vida das minhas filhas. Aniversários, festinhas de escola, graduações, provas desportivas. Se a memória não me atraiçoa, nunca faltei a nenhum (a). Foi o que me deu foco, a adrenalina, o equilíbrio emocional para lutar ao longo de 42 anos de vida profissional intensa, sem nunca esmorecer, ou ter momentos de quebra e de desânimo. As minhas filhas foram a balança do meu equilíbrio emocional, e o mais poderoso estimulante que eu poderia ter desejado para me acompanhar sem perder força ao longo da minha vida profissional.

A peça que faltava

Agora, que a vida corporativa é  já uma memória remota, e em que procuro partilhar conhecimento e ser útil à sociedade de forma interventiva  e construtiva (goste-se ou não da forma como o faço), como Consultor Independente, Mentor e Colunista, a chegada da minha neta Sofia em Outubro de 2022, filha da minha filha Cristina, que a teve aos 40 anos de idade, abanou de forma telúrica os meus alicerces de vida atual. Era a peça que faltava para completar o puzzle da minha vida, e poder partir satisfeito e sem qualquer tipo de remorsos, tristezas ou frustrações quando ‘Alguém’ achar que chegou o momento de me chamar. A Sofia, na etapa da jornada em que me encontro, passou a ser a nova centralidade da minha vida. Tudo passou a girar em função dela, e hoje a minha única preocupação e objetivo de vida é não perder nenhum momento importante do seu desenvolvimento, e poder esticar a minha passagem pelo mundo ao máximo, para poder partilhar uma parte importante da sua vida até ser o momento de partir. A Sofia redefiniu e estimulou poderosamente o significado da palavra ‘amor’ na minha vida.
As mulheres da minha vida determinaram (e continuam a determinar) a minha vida, e fizeram de mim o que sou. Um homem agradecido, de bem com a vida, e profundamente feliz.”
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