A empresa começou “do zero” (com um investimento de pouco mais de 200 euros de cada uma!) e tem crescido à custa do empenho e da extrema dedicação das duas sócias e também da capacidade de inovação, do método e da atenção aos pormenores. Paula Laranjo e Vera Moreira são as criadoras da marca Branco sobre Branco, que está no mercado há 15 anos a mostrar ao mundo a qualidade do mobiliário nacional.
“Quase de uma forma provinciana, naquela altura as pessoas iam comprar ao estrangeiro, como se sem isso a qualidade não estivesse assegurada”, contam. E elas quiseram fazer ao contrário, começando logo aí a dar cartas na inovação. “Achámos que em Portugal havia uma mão de obra fantástica e excelentes tradições de manufatura de mobiliário, cerâmica, metais e tecidos. Nós somos ótimos naquilo que fazemos, mas temos alguma dificuldade em inovar”, explica Paula, a quem está entregue o pelouro comercial da Branco sobre Branco.
A presença em feiras é fundamental para conquistar e fidelizar clientes no estrangeiro.
Decididas a mostrar lá fora o que se faz cá dentro, as duas sócias deixaram os empregos – Paula, formada em Design Têxtil na escola António Arroio, trabalhava numa empresa de arquitetura e construção civil, e Vera, que estudou na Fundação Ricardo Espírito Santo, trabalhou no Atelier Graça Viterbo – e mergulharam “de cabeça e alma” neste projeto. Afinal, eram amigas, profissionalmente não tinham andado assim tão longe uma da outra e Vera dizia algumas vezes que um dia ainda trabalhariam juntas porque se entendiam bem. E cumpriu-se o prognóstico.
O orgulho do ‘made in Portugal’
Atualmente com oito colaboradores a tempo inteiro e uma faturação anual entre os 800 mil e o1,5 milhões de euros, a Branco sobre Branco é uma empresa que faz questão de fazer bem o seu trabalho. “Se não for assim, preferimos não fazer”, atalha Paula Laranjo. E não são apenas os pergaminhos da empresa que ficam em causa. Neste mercado, a concorrência é enorme e rapidamente surge quem o faça se o cliente não for bem servido. E como exemplo da competitividade deste negócio, Paula refere a feira Maison et Objet de Paris, onde a Branco sobre Branco entrou há mais de 11 anos, e que é uma das melhores montras internacionais de mobiliário e decoração. São oito pavilhões repletos de empresas de todo o mundo que estão ali a dar o seu melhor. “Uma feira só para profissionais, bonita de se ver, que tem imenso cuidado com a imagem das empresas lá representadas e onde a concorrência é mesmo a doer”.
Mas a esta forma de concorrência já estão habituadas. A Branco sobre Branco cresceu com ela e desde cedo testou o pulso no estrangeiro. Porém, a nível nacional o mercado também é muito disputado e a concorrência faz-se de outra forma. “As empresas não investem em criativos e as pessoas não estão habituadas a respeitar a criatividade dos outros”, acusam as empresárias, que apostam na originalidade e na inovação e, por vezes, acabam por ver algumas ideias e peças copiadas.
A decoração de interiores surgiu a pedido de amigos e hoje têm um importante portfólio na hotelaria, restauração e escritórios.
Tudo o que vendem é desenhado por ambas – Vera tem a área criativa a seu cargo -, produzido em Portugal e comercializado com o nome Branco sobre Branco, que é uma marca patenteada, em português. A empresa começou por revender a profissionais do setor mas acabou por se dedicar também à decoração de interiores, pois “choviam convites” para que Paula e Vera decorassem casas particulares de amigos e conhecidos e pouco tempo depois já estavam a fazer exposições como a Casa Ideal, Hotel Ideal, Casa Decor.
A oportunidade do oitavo bairro
Há três anos surgiu o momento de entrar em Paris. A dupla decidiu então abrir um espaço da marca no 8e arrondissement, com montras viradas para a rua, o que comercialmente é muito importante para fidelizar clientes e receber compradores de todo o mundo. O espaço parisiense é também fundamental para apoiar a realização da feira internacional Maison et Objet, onde continuam a participar duas vezes por ano.
Londres será provavelmente o próximo passo, uma vez que o negócio de revenda da empresa pesa 80% e está apontado para o exterior.
A fórmula do sucesso está encontrada: ele deve-se à forma original como os produtos são apresentados, e também ao método e à organização da empresa. Além disso, acrescenta Paula, há muito cuidado no detalhe de execução das peças, nas proporções e nas dimensões.
E contrariamente ao que se possa pensar, o design e a criatividade portuguesas são muito apreciados fora de fronteiras, assegura a empreendedora.
A Branco sobre Branco distingue-se pelo seu trabalho personalizado, executado à medida das necessidades de cada cliente. Uma facilidade que vem do facto de todas as peças serem produzidas em Portugal e de o controlo de qualidade estar próximo da empresa.
“Somos uma empresa pequena mas o que fazemos gostamos de fazer muito bem”, dizem. Graças a isso orgulham-se de ter clientes fidelizados em toda a parte do mundo.
Obra feita
No stand de Paris ou no showroom da Rua de São Paulo, em Lisboa, não são só os móveis e os acessórios de decoração que são comercializados. “Muitos clientes compram também o conceito e alguns querem mesmo transportar para as suas lojas ou para os seus projetos a forma como tudo está em exposição na nossa loja”, conta Paula.
As decoradoras também fazem projetos para hotelaria, restauração, escritórios e até particulares. Os hotéis Tivoli Jardim, M’Ar De Ar Aqueduto, em Évora, a Casa Balthazar, em Lisboa, o Café de São Bento, são obras emblemáticas da empresa e algumas delas verdadeiros desafios, como o do Hotel Tivoli Jardim que não era renovado desde 1974 e foi totalmente modificado em apenas quatro meses.
O equilíbrio entre vida profissional e pessoal é uma das preocupações das duas sócias.
O projeto que a dupla tem neste momento em mãos, um hotel de cinco estrelas também em Lisboa, é um trabalho que lhes está a dar imenso prazer. É um hotel histórico, localizado no Largo do Corpo Santo, que está a revelar achados arqueológicos, como uma Muralha Fernandina, por exemplo. Um desafio para todos os intervenientes no projeto.
Recentemente a empresa de Paula e Vera executou também uma complexa obra em Moçambique, toda feita à distância e que obrigou ao transporte de todas as peças e materiais necessários, tais como janelas, vidros, chão, pedras, torneiras, sanitários, decoração. “O desafio é mesmo esse”, rematam elas: “conseguir fazer trabalhos completamente diferentes consoante as necessidades dos clientes”.
Uma empresa familiar
Apesar de não existirem laços de parentesco entre os colaboradores da Branco sobre Branco, Paula Laranjo insiste em dizer que esta é uma empresa familiar. “Temos uma forma especial de nos relacionarmos e somos todos muito coesos”, esclarece. As duas sócias dão muita importância a uma equipa unida, que comungue dos mesmos princípios da marca, que a conheça bem e se identifique com ela. “Quem não é feliz no que faz também não o pode ser na vida pessoal”, defendem. Por isso, Paula e Vera esforçam-se para que todas – a maioria são mulheres – consigam desempenhar as suas tarefas com satisfação, durante as 8 horas diárias de trabalho, para que não sejam necessárias horas extra e para que possam ter também vida pessoal. “Vestimos a mesma camisola para um fim comum mas tem de haver respeito pela vida familiar”, esclarecem as sócias, cada uma com dois filhos adolescentes.
A mais recente realização da Branco sobre Branco chama-se SAL, uma empresa de decoração e acessórios para a casa que se instalou no espaço onde funcionava o showroom da marca e que era apenas acessível a profissionais, e que é hoje uma loja aberta ao público.