Bisneto do rei Sol, Luís XIV, foi tornado rei com apenas cinco anos de idade. O seu longo reinado de 59 anos foi caracterizado pela extravagância e excessos da corte. Entre as amantes do rei, destaca-se a marquesa de Pompadur, que sobre ele excerceu grande influência.
Madame de Pompadour
Jeanne Antoinette Poisson, nascida em Paris em 19 de Dezembro de 1721, uma simples e linda burguesa, (com magníficos dentes, o que ao tempo era coisa rara), sem dote, fria, calculista, dotada de inteligência e encanto invulgares teve um surpreendente e improvável destino que lhe foi anunciado, aos nove anos de idade, por uma vidente. Certamente que ela e a sua calculista, ambiciosa e corajosa mãe, não esqueceram a predestinação e a levaram muito a sério.
O presumível pai, acusado de especular com trigo e de ser responsável por um doloroso ano de fome, fugiu de Paris em 1726. A mãe ficou com os dois filhos e teve de adaptar-se à nova situação, mudando-se com eles para instalações modestas perto do Palais Royal, onde tinha contactos. Não soçobrou. Consciente de que o ambiente em que vivia não era favorável a uma menina, confiou-a à guarda das Freiras do Convento das Urselinas, onde eram educadas as filhas da burguesia, “no respeito por Deus, pela família e pelo rei”.
Tornou-se culta graças aos estudos patrocinados por um tio.
Com nove anos de idade, depois de ali ter estado durante quase três anos, Jeanne Antoinette, a pequena “Reinette” como era conhecida na intimidade familiar, teve, após a sua saída do convento por razões de doença, a sua iniciação nos conhecimentos mundanos. Tais estudos foram patrocinados por um tio, o Senhor Charles de Tournehem. Aos 15 anos a sempre bela e já culta Antoinette começou a frequentar o salão literário de Madame de Terci, uma amiga da mãe e, os ambientes mais ricos e ilustres da sociedade parisiense, onde aprendeu a arte da conversação e os valores espirituais. Estudou canto, dança, teatro, desenho, gravura e literatura.
Atingidos os 18 anos era uma mulher não apenas muito bela mas, também, inteligente, possuidora do encanto e vivacidade que a sua cultura invulgar lhe conferira. Era imperioso arranjar-lhe um marido. Contudo, não possuía dote que lhe permitisse fazer um casamento à sua altura. Por outro lado, tinha algumas fragilidades de ordem moral na família, (pai e mãe incluídos), o que ainda complicava mais a situação. Foi o tio quem, mais uma vez entrou em cena. Casaram-na com o filho do irmão deste, Charles-Guillaume Lenormand, por testamento seu herdeiro absoluto, que assumiu o sobrenome d’Etioles, de acordo com o nome duma propriedade que o tio possuía. E, foi assim que, Jeanne Antoinette, depois do casamento, celebrado em 1741, ficou conhecida como Madame d’Etioles.
Conheceu o rei num baile de máscaras em que estava mascarada de deusa da caça.
O destino, entretanto, tecia, laboriosamente, as suas teias. Luís XV casara aos 15 anos com a princesa polaca Maria Leszvzynska, de 22, da qual tivera em 10 anos 10 filhos. Teve, entretanto, como amantes as três irmãs Mally. Tinha perdido a última, a Duquesa de Châteauroux , quando, num baile de máscaras, estando ele mascarado de teixo – um arbusto semelhante àqueles que adornavam o jardim de Versalhes – e Antoinette de deusa Diana, a caçadora, se cruzou com ela e se enfeitiçou. Começaram as visitas dela à corte e os boatos surgiram de seguida. Tudo seria normal se se tratasse de uma duquesa ou de uma marquesa, mas a aristocracia não queria acreditar que o rei ousasse conspurcar os seus domínios ligando-se a uma simples burguesa, embora bonita e culta, porque o fosso que havia entre a burguesia e a aristocracia era intransponível.
O amor, como é sabido, demove montanhas. Assim sucedeu com Luis XV, que já congeminara uma solução. Antes da apresentação na Corte, Madame d’Etioles seria feita Marquesa de Pompadour adquirindo a posse de uma propriedade no Limousin, do Marquesado daquele nome. Entretanto, divorcia-se do marido.
Recebeu instrução secreta para aprender os hábitos da corte.
O plano fora traçado. A Marquesa de Pompadour passaria o Verão na sua antiga propriedade d’Etioles e aí faria o que hoje se denomina um “estágio” para aprender os hábitos da corte e adquirir o refinamento necessário para a sua inclusão naquele desejado meio, a que finalmente iria aceder. Mais uma vez teve a seu lado quem lhe deu ajudas preciosas, designadamente, ensinando-lhe os títulos e os nomes das famílias mais importantes do reino. Um deles foi Voltaire, amigo que o foi para a vida inteira.
Quando em 14 de Setembro de 1745 Jeanne Antoinette, Marquesa de Pompadour, foi apresentada na corte, fria e altiva, coberta de jóias, usando rouge e vestindo com pompa, o obrigatório robe negro, cumpria-se a profecia: a pequena Antoinette torna-se amante declarada de Luís XV – considerado o homem mais belo do reino – e, numa das mulheres mais poderosas de França.
O rei foi uma marioneta nas mãos de Pompadur.
Com grande influência nas decisões políticas do Rei, de quem se considerava secretária confidencial, governava Versalhes como um rei absoluto. Luís XV, personalidade um tanto frívola, foi uma marioneta nas mãos de Pompadour. Esta concedia audiências a embaixadores, tomava decisões em questões tão importantes como a de concessão de favores. Acolhia nos seus salões escritores, e artistas plásticos, (Latour é um deles) e os seus retratos pintados começam a espalhar-se. Torna-se, também empreendedora. A ela se deve a fundação da fábrica de porcelana de Sèvres.
A profecia da vidente foi tão marcante para ela que, mesmo anteriormente à sua entrada na Corte, a futura Marquesa de Pompadour tinha inscrito no seu testamento o seguinte: “Seiscentas libras para Madame Lebon, por ter-lhe dito, aos nove anos de idade, que um dia seria amante de Luís XV”.
Madame Du Barry
Após a morte de Pompadour, nova personagem entra em cena: Jeanne Bécu, a futura Madame du Barry. Filha de uma cozinheira, ou costureira e de pai desconhecido, teve, apesar disso, uma educação num convento, superior à que lhe estaria reservada, se não tivesse contado com a ajuda de um amante da mãe, Nicolas Rançon.
Abandona o convento aos 15 anos e vai trabalhar. Primeiro como aprendiz de cabeleireira, seguidamente como camareira de uma família abastada. Até que o destino a conduz a uma loja elegante, “La Toilette”, onde, como empregada de balcão, entrou em contato com as mais altas personalidades da sociedade parisiense.
O amante vê nela uma forma de atingir um objetivo político
A sua beleza desperta o interesse de Jean Baptiste du Barry, um libertino, de quem se torna amante. Instala-se na casa deste, em Paris e, aí, conhece muitas personagens ligadas à pintura e à música. Desprovido de escrúpulos, du Barry vê na bela amante um filão para atingir um objectivo político, para o qual foi instado pelo marechal Richelieu: a demissão do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Duque de Choiseul.
É apresentada ao rei, tinha este na altura 58 anos, que se apaixona por ela e a quer ter como amante. O passado de Jeanne Bécu, não constitui qualquer impedimento. Só que a nova amada de sua majestade não possui um título de nobreza e, sem ele, não pode ser apresentada na Corte. Para o ardiloso Jean Baptiste não existem barreiras; quando existem, são derrubadas. Ali ao lado está seu irmão, o Conde Guillaume du Barry e é com ele que se casa Jeanne Bécu. Assim, em 1769, a condessa du Barry, com a devida pompa e grande escândalo, faz a sua entrada no Palácio, para levar a efeito a missão de que será incumbida.
Na corte ninguém esquecera o seu passado.
A vida na corte não lhe foi fácil. Ninguém esquecera o seu passado. Simpática e jovial, sem que soubesse usar os mecanismos de dissimulação característicos do meio, era desprezivelmente considerada pelos nobres, uma simplória, sem classe, embora se tenha tornado protetora de artistas e se tivesse tornado grande amiga de Voltaire. A camareira -mor de Maria Antonietta acusava-a de extrema vulgaridade e grande despudor. O Rei, naturalmente, que não comungava desta opinião. Cumulava-a de valiosíssimas jóias e concedeu àquela azougada rapariga, que tinha vindo dar um colorido especial à sua vida já decadente, escandalosos privilégios.
O povo, inicialmente, estimava-a pela sua alegria e proximidade, até que se tornou impopular devido aos favores exagerados do Rei: as jóias sumptuosas que ostentava e propriedades imensas que lhe foram ofertadas eram motivo de escândalo.
Insensatamente, fez alarde da sua fortuna, o que lhe foi fatal.
Mais de 20 anos depois da morte do monarca, cria uma segunda Corte, onde vive com pompa, coberta de jóias esplendorosas. Tendo-lhe sido furtada uma parte importante da sua valiosíssima colecção, ofereceu uma importância colossal a quem a descobrisse, fazendo, insensatamente, alarde da sua fortuna e chamando a atenção para ela, numa época tão conturbada da França, o que lhe foi fatal.
Durante a Revolução Francesa, acolhe republicanos e monárquicos. Foi acusada de traição e demonstrou um carácter frágil e pouco digno. Denunciou outras pessoas que, por via disso, tiveram a mesma sorte que ela e, tentou subornar o carrasco dizendo-lhe onde estavam as jóias que tinham escapado ao roubo de que foi vítima. Foi guilhotinada aos 50 anos, implorando de forma patética: “Por quem sois senhor carrasco, só mais um momentinho”.
Outros capítulos de “A deslumbrante história do luxo”
Capítulo 1. Introdução: tudo o que luz é luxo
Capítulo 2. Paleolítico: o luxo espiritual
Capítulo 3. Antiguidade: o luxo torna-se ostentação
Capítulo 4. Esbanjar para impressionar
Capítulo 5. Idade moderna, paixão por antiguidades
Capítulo 6. O luxo das amantes e do champanhe
Capítulo 7. O brilho da corte do rei Sol
Capítulo 8. As mulheres e amantes de Luís XIV