O termo “alta-costura” chegou à atualidade com uma organização extremamente rigorosa e limitativa. Está hoje juridicamente protegido em todas as línguas do mundo e só o podem utilizar as empresas que constem da lista do Ministério da Indústria francês, fixada anualmente pela Chambre Syndicale de la Haute Couture, criada em 1868 e sediada em Paris, hoje integrando a Federação Francesa da Costura, do Prêt-à-Porter, dos Costureiros e dos Criadores de Moda.
Os critérios para a atribuição da categoria de Maison, ou seja Casa reconhecida de alta-costura, que foram fixados em 1945, são os seguintes:
- Possuir, permanentemente, 20 artesãos especializados, para executar trabalho exclusivamente manual;
- Apresentar à imprensa em Paris, duas vezes por ano, em cada estação ( Primavera/Verão e Outono/Inverno) uma colecção de no mínimo 50 passagens em modelos de dia e de noite, por estação;
- A sede da Maison localizar-se em edifícios com pelo menos cinco andares, um dos quais para desfiles, localizado entre as Avenidas Champs-Elysées, Montaigne e George V, em Paris.
Estes critérios foram posteriomente aligeirados. Atualmente, o requisito da localização já não é exigido, o número de artesãos permanentes foi reduzido para 15, e os modelos exigidos por estação foram também reduzidos para 25. Em contrapartida, é obrigatório que a Casa tenha um perfume com o seu nome. Para além dos membros efectivos, que devem reunir, cumulativamente, as condições estabelecidas, existem membros convidados e membros correspondentes, que, obedecendo aos critérios, após dois anos de apresentação das suas colecções podem, se o quiserem, converter-se em membros efectivos. Com tamanhas condições, não surpreende que o mundo da alta-costura se encerre num círculo muito fechado que, não obstante, teve 160 membros efectivos nos anos 1960.
A montra das marcas
Peças únicas, concebidas por artistas, manufaturadas à medida da cliente por profissionais altamente especializados, em tecidos raros, com bordados manuais, por vezes empregando jóias e pedras preciosas, exigindo diversas provas talvez assim se compreenda que o preço de cada modelo oscile entre os 35 mil e os milhões de euros e que somente 200 mulheres no mundo possam (ou queiram…) mandar fazer um vestido à sua medida num dos ateliês. Poderão vesti-lo uma única vez e doa-lo de seguida a um museu. Altruísmo? Nem tanto. É que com esta atitude vão obter descontos na sua próxima aquisição.
Nos anos 1950 em que a moda atingiu o seu apogeu estimava-se que apenas 15 mil pessoas em todo o planeta, consumiam produtos de alta costura. Desde então, o número de consumidores reduziu-se significativamente. Estima-se que existam hoje quatro mil clientes de alta costura em todo o mundo. A alta costura é suportada, sobretudo, por novos ricos oriundos de países emergentes, países árabes e do leste europeu. Com tamanhos custos e clientes (“colecionadoras”) em número reduzido, hoje, a alta costura é a montra das Casas de moda, mas as marcas sobrevivem graças aos perfumes e acessórios (como óculos), luxo acessível a uma vasta minoria. As celebridades, que desfilam na pssadeira vermelha com os modelos cedidos pelas marcas ajudam a posicionar a marca como um sonho a que todos que todos qureem ter acesso… nem que seja num frasco de perfume.
Outros capítulos de “A deslumbrante história do luxo”
Capítulo 1. Introdução: tudo o que luz é luxo
Capítulo 2. Paleolítico: o luxo espiritual
Capítulo 3. Antiguidade: o luxo torna-se ostentação
Capítulo 4. Esbanjar para impressionar
Capítulo 5. Idade moderna, paixão por antiguidades
Capítulo 6. O luxo das amantes e do champanhe
Capítulo 7. O brilho da corte do rei Sol
Capítulo 8. As mulheres e amantes de Luís XIV
Capítulo 9. As mulheres que brilharam na corte do Bem Amado
Capítulo 10. Maria Antonieta, Madame Déficit
Capítulo 11. D. João V, o Rei Sol Português
Capítulo 12. Alta costura e boas maneiras
Capítulo 13. Da Belle Époque a guerra mundial