O adeus da ‘Senhora da Brejoeira’

Num meio quase exclusivamente dominado por homens, Maria Hermínia d’Oliveira Paes deitou mãos à obra e plantou a Casa Alvarinho nas suas propriedades, e com ela fez “o príncipe dos vinhos verdes”.

Hermínia d’Oliveira Paes deixou a sua marca num mundo quase exclusivamente dominado por homens.

As escassos dias de completar 98 anos, as vésperas de fim de ano trouxeram a notícia da morte de Maria Hermínia Silva d’Oliveira Paes (N 21/01/1918 – F 30/12/2015), proprietária do Palácio da Brejoeira (Monção, Alto Minho), também conhecida como a ‘Senhora da Brejoeira’ e a ‘alma’ deste imponente palácio que também é marca de um vinho prestigiado internacionalmente.

Dona desta propriedade mítica no Alto Minho não poupou esforços para transformar o produto do seu trabalho numa marca de sucesso conhecida pelo mundo fora. Na sua despedida, foi recordada pelo presidente da Câmara de Monção como uma mulher que personificava o empresário preocupado e atento com a evolução dos tempos, que foi percursora na plantação e comercialização do vinho Alvarinho, contribuindo, de forma decisiva, para fazer dele um produto conhecido em todo o mundo. Augusto de Oliveira Domingues, que lhe atribuiu a medalha de prata de cidadã de mérito de Monção, salientou ainda o facto de ter contribuído para o amadurecimento cultural do conselho ao abrir as portas do seu Palácio da Brejoeira ao público, em 2010, dando a conhecer o seu “espólio impressionante”.

Dona do palácio

Para além de proprietária, Hermínia Paes também vivia numa ala reservada deste palácio, um lindíssimo edifício de estilo neoclássico dos princípios do século XIX. O seu envolvimento na defesa e valorização do vinho Alvarinho começou no dia em que recebeu, com surpresa, as chaves desta propriedade. “Estávamos na capela, de visita, e o empregado aproximou-se de mim com uma almofada de veludo encarnado com um anho em cima e a chave do palácio. O meu pai disse-me: Aqui tens minha filha a chave da tua casa”, recordaria mais tarde. Cerca de 600 contos de reis foi quanto custou, em 1937, a Francisco de Oliveira Paes, um industrial de Lisboa, o palácio construído na antiga Quinta do Vale da Rosa para oferecer à filha.

Dos 30 hectares da propriedade, 18 estão destinados ao esmerado cultivo do vinho Alvarinho.

Classificado como Património Nacional desde 1910, o edifício tem uma ornamentação palaciana, com frescos e estuques lindíssimos, mobiliário Companhia das Índias, candelabros gigantescos, uma imensa biblioteca (com compilações de diários da república e do governo de Lisboa e do Porto), quadros de enorme valor, sala de armas, uma magnífica capela e um jardim de inverno que revelam a sua vida senhorial, onde “a electricidade e o telégrafo chegaram seis anos antes do que a toda a região”.

Em 2010 a proprietária abriu as portas do Palácio da Breijoeira ao público.

Do exterior pode contemplar-se um conjunto extraordinário – palácio, capela, bosques, jardins de estilo inglês, vinhas e adega – que cativa pela beleza e harmonia. Dos 30 hectares, 18 estão destinados ao esmerado cultivo do vinho Alvarinho.

Dedicação ao vinho Alvarinho

Hermínia d’Oliveira Paes foi responsável, na primeira metade da década de 1960, e em  conjunto com o seu marido, Feliciano dos Anjos Pereira, pela reestrutração da propriedade que herdou e da plantação das vinhas de Alvarinho, após um estudo feito ao pormenor pelo agrónomo João Vasconcelos. Mais tarde, quando as cepas produziam uvas de grande qualidade, mandou construir uma adega maior e instalou um novo equipamento para iniciar a produção de vinho Alvarinho, com supervisão do enólogo Amândio Galhano.

Em 2002, Herminia d’Oliveira Paes recebeu a medalha de prata de cidadã de mérito de Monção.

Num ambiente quase exclusivamente dominado por homens, Hermínia Paes vingou no mundo agrícola e foi uma grande mentora e entusiasta do Alvarinho Palácio da Brejoeira e fez do cultivo desta casta um dos mais famosos vinhos da sub-região de Monção. A primeira colheita de vinho “Alvarinho Palácio da Brejoeira” data de 1976, recorda o administrador do palácio. Da adega saem todos os anos 60 mil litros de vinho e uma grande parte é do famoso “Alvarinho Palácio da Brejoeira”. A propriedade dá trabalho a muitas famílias da zona de Monção.

A vida de Hermínia d’Oliveira esteve dedicada à produção e comercialização de vinho. Foi sócia-fundadora da Associação de Produtores e Engarrafadores de Vinho Verde, sócia-fundadora da Confraria do Vinho Verde, sócia-fundadora da Real Confraria de vinho Alvarinho e Grã-mestre da Confraria de Vinho Verde. Em 2002, Herminia d’Oliveira Paes recebeu a medalha de prata de cidadã de mérito de Monção.

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