Capítulo 7: O brilho da corte do Rei Sol

O luxo à francesa ganhou intensidade com Luís XIV, em cuja corte se inventaram as perucas e os saltos altos. A França estende a sua influência aos restantes países europeus

Estátua equestre de Luís XIV no exterior do museu do Louvre

Já Henrique II de França utilizara o sol como emblema. “Luz para os justos” e “Eis como deve ser respeitada a fé” foram os seus lemas. Luís XIV considerava-se o representante de Deus na terra. O monarca absoluto, que se identificava com o Estado e de quem se diz ter deixado para a história a sua proclamação de “LÉtat c’est moi”, tinha como patrono Apolo, o símbolo da ordem e da regularidade.

Jardins do Palácio de Versalhes, à francesa

A edificação do Palácio de Versalhes definiu o estilo francês de jardinagem: a grandiosidade e imponência do jardim como parte integrante do projeto arquitetónico

Jardins, perucas e saltos altos

Amante fervoroso de jardins, ainda antes de ter mandado proceder às obras de ampliação do antigo Palácio de Versailles, onde decidiu fixar a sua residência, preocupou-se em criar numa área de 700 hectares a obra magnificente de jardinagem que ficou a cargo de André Le Nôtre, denominado “o jardineiro do Rei e o rei dos jardineiros”, dono de uma fortuna colossal que obteve em razão dos seus talentos e do prestígio internacional que granjeou. O artista criou em Versalhes um amplo e deslumbrante “jardim à francesa”, ornado de fontes, jogos de água e estátuas, exprimindo a beleza e o poder da França aos convidados do rei e embaixadores estrangeiros. Um jardim em consonância com a magnificência do palácio, construído numa região inóspita e pantanosa, sem água, o sonho que Luís XIV transformou em realidade, mercê do seu requintado gosto, do génio de artistas de que se rodeou e de gente ignorada que o edificou.

Palácio de Versalhes

Na sua época, o palácio de Versalhes inspirou a construção de outros por toda a Europe. Ainda hoje permanece como símbolo do luxo

Coroa real em dourado, nos portões do Palácio de Versalhes

Coroa real em dourado, nos portões do Palácio de Versalhes

O Palácio de Versalhes era (será ainda?) o mais luxuoso de toda a Europa, e o maior Palácio da época. Com 700 quartos, 352 chaminés, 1250 lareiras, 67 escadas e 2153 janelas, impressionava pela sua magnificência e grandeza. Muitos outros foram inspirados nele, entre os quais o Palácio de Shoenbrun em Viena d’Áustria e o Palácio Nacional de Queluz.

De 1682 até 1789, data da Revolução Francesa, Versalhes foi a residência oficial, o centro de poder e símbolo da monarquia absoluta. Na corte faustosa, adornada com mobiliário riquíssimo de madeiras preciosas com ornamentação extravagante, exibiam-se objetos de prata maciça, porcelanas da China, cristais e espelhos, amplos cortinados de veludo e cetim, grandes tapeçarias, desfilavam trajes sumptuosos, predecessores da alta costura, diamantes, perucas, sapatos de salto alto, perfumes e consumia-se champanhe (o vinho dos reis) a rodos e a mais alta gastronomia.

Luís XIV, o mais notável monarca da História, estabeleceu a etiqueta da vida cortesã e lançou a moda do uso das perucas que vigorou cerca de 150 anos, estendendo-se por todas as cortes europeias. Como era de estatura muito pequena teve a ideia de criar os sapatos com salto, para seu uso.

O longo reinado

Rei Lusi XIV de França

Luís XIV de França ascendeu ao trono com cinco anos e assumiu efetivamente o poder com 13. Reinou durante 72 anos

Ascendeu ao trono com cinco anos, após a morte do pai. Exerceu a regência sua mãe e o Cardeal Mazarino, até que aos 13 anos assume o poder, tendo ainda a seu lado Mazarino. Quando aos 22 anos, após a morte deste, se tornou rei efectivo, encontrou o tesouro próximo da falência. E durante um tempo a situação não se alterou, porquanto Luís XIV gastava desmesuradamente.

Promoveu reformas logo de início. Despediu o Primeiro Ministro e arvorou-se em rei absoluto. Apoiou-se em Jean Colbert para moralizar as Finanças Públicas. Mercê de uma política mercantilista, a França conheceu a sua idade de ouro. Foram despendidas somas extravagantes no financiamento das artes e dos artistas (pintores, músicos e escritores), na realização de obras de grande vulto (Canal do Midi, Louvre, Palácio dos Inválidos e Versalhes) e no equipamento do exército e da marinha. A França era, então, o país dominante na língua e na cultura, detentor do maior e mais bem equipado exército europeu, a nação mais poderosa.

Luís XIV foi um rei forte, um guerreiro, que governou a França com mão de ferro. Travou guerras com Espanha, Holanda, Áustria e Luxemburgo. Foi, também, um músico aplicado, amante de teatro, da poesia, da dança, de todas as formas de arte. Quando faleceu, após mais de 72 anos de reinado, deixou um país que todos os demais procuravam imitar. Brilhou como o Sol, cujos raios se estenderam um pouco por toda a Europa.

Outros capítulos de “A deslumbrante história do luxo”

Capítulo 1. Introdução: tudo o que luz é luxo
Capítulo 2. Paleolítico: o luxo espiritual
Capítulo 3. Antiguidade: o luxo torna-se ostentação
Capítulo 4. Esbanjar para impressionar
Capítulo 5. Idade moderna, paixão por antiguidades
C
apítulo 6. O luxo das amantes e do champanhe

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