Filha de pai português e de mãe espanhola, Dolores Segrelles nasceu em Portugal, mas cresceu e formou-se em Valência. Depois de um bacharelato em Filologia descobriu a paixão pela arte e pelos leilões durante uma estada em Londres para aperfeiçoar o inglês.
Quando descobriu o gosto pela arte?
Fui fortemente influenciada pelo facto de ter crescido numa família de pintores e galeristas. O meu tio-avô Jose Segrelles era um consagrado aguarelista e ilustrador. O meu tio Eustaquio Segrelles é um pintor reconhecido. E a minha mãe tinha uma galeria de arte (Segrelles del Pilar) dedicada à pintura espanhola dos séc. XIX/XX.
Fui a primeira portuguesa a tirar curso Works of Art, embora no grupo fosse considerada espanhola.
Esteve em Londres e em Nova Iorque apenas a estudar ou já a trabalhar na área da arte e dos leilões?
Estava já um pouco cansada dos estudos de Latim e Catalão quando a minha mãe me sugeriu que fosse para o Queen Elizabeth College em Londres para aperfeiçoar o inglês. Acabei por me inscrever no curso Styles in Art da Sotheby’s. Assim, em vez de passar um ano apenas a aperfeiçoar o inglês, passei sete meses agitados, já em pleno mundo da arte.
Concorri depois ao curso Works of Art e fui admitida! Fui a primeira portuguesa a fazer este curso – embora no grupo fosse considerada espanhola.
Quando teve a sua primeira experiência profissional ligada aos leilões?
Ainda na Sotheby’s estagiei no departamento de British Watercolours e no Old Master Paintings. Era press officer no tempo dos faxes! Com franqueza, ainda hoje prefiro o papel aos computadores. Esse período foi particularmente entusiasmante: fazia licitações telefónicas durante os leilões (sobretudo com clientes brasileiros), e recordo-me bem do emocionante leilão da Duquesa de Windsor.
Depois de concorrer a várias universidades fui aceite em History of Art, na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Nesse mesmo verão conheci Clara Ferreira Marques, que tinha adquirido com José Manuel Serra a então Leiria e Nascimento (Casa Liquidadora), a primeira leiloeira a abrir em Portugal depois do 25 de Abril. Ainda iniciei o ano zero do curso em Nova Iorque mas quando fui convidada a integrar a Leiria e Nascimento decidi regressar a Portugal, onde trabalhei na área de avaliações e peritagem de arte entre 1987 e 2010.
Foi desafiante criar uma leiloeira de raiz, num sector pautado por algum tradicionalismo e “poeira”.
Quando integrou a VERITAS Art Auctioneers?
Em Março de 2011, num momento em que estava a evoluir do negócio de antiquário para o de leiloeira, com o nome ainda por definir. Foi um momento particularmente desafiante o de criar uma leiloeira de raiz, num sector pautado por algum tradicionalismo e “poeira”.
Tem pintores na família. Também possui essa veia artística, ou herdou apenas a paixão pela arte?
As mulheres da família Segrelles são, e sempre foram, uma catástrofe a pintar. Tenho duas primas com galerias de arte, mas artistas na família… só mesmo homens.
Somos a única leiloeira portuguesa a constar do ranking da Art+Auction.
Qual foi o leilão mais memorável da sua carreira?
O da venda de um Giovanni Battista Tiepolo [mestre da pintura italiano, século XVIII] por um milhão de euros (aquisição por opção do Estado Português), em 2007. Mais recentemente, o da venda de um Anselm Kiefer [pintor e escultor alemão, século XX] por 620 mil euros. E como não há duas sem três, estou à espera do terceiro recorde.
A VERITAS Art Auctioneers foi distinguida pela Art+Auction como a melhor leiloeira em Portugal. O que a distingue?
A revista norte-americana Art+Auction lista anualmente as melhores leiloeiras em todo o mundo. É a segunda vez que somos distinguidos e, também pela segunda vez, a única leiloeira portuguesa a constar desse ranking. O que nos distingue? Talvez uma identidade mais vincada, um posicionamento internacional e um espírito mais jovem e ambicioso.
