A paixão pelo turismo levou Márcia Vilar a fazer formação nesta área e assumir a direção de diversos hotéis do grupo Accor, mas acabou por ver realizado o sonho de construir uma rede própria de alojamento turístico, a Story Studio, uma rede de alojamento turístico, 100% portuguesa, ecofriendly e assente no compromisso integral com os princípios da sustentabilidade, que se materializa na certificação Biosphere e no roteiro traçado com o Turismo de Portugal (Programa Forest) para ser reconhecida como empresa Sustainability Engaged. Com alojamentos em Coimbra, Piódão e Sortelha, está a investir em Monsanto.
Como começou a trabalhar na área do turismo?
Comecei a minha jornada na área do turismo por influência dos meus pais, que eram emigrantes na Suíça. Desde cedo, tive a oportunidade de conhecer a operação no dia-a-dia de alguns hotéis de luxo, o que despertou o meu interesse por esta área. Após a minha formação em Psicologia Social e do Trabalho, dei os primeiros passos profissionais no departamento de Recursos Humanos do grupo Accor em Portugal. Confirmei a minha paixão pela hotelaria, o que me levou a investir em formação específica em Hotelaria e Turismo. Essa paixão e conhecimento abriu portas para assumir cargos de direção em diversos hotéis do grupo Accor em Portugal, consolidando assim a minha carreira nesta área.
Como evoluiu a sua carreira neste setor?
Durante uma década no Grupo Accor, onde muito aprendi e evoluí, passei por vários departamentos até assumir cargos de direção em alguns hotéis das regiões Centro e Norte de Portugal, até que entendi que tinha chegado o momento de abraçar um projeto pessoal, com o qual me identifico e acredito que responda às tendências de mercado.
Porque decidiu lançar um negócio próprio?
A minha experiência no Grupo Accor e a aprendizagem que adquiri durante este percurso foram determinantes para dar este passo. Na verdade, estas competências acabaram por ser ferramentas decisivas para sustentar o passo que me propus dar, ^que juntamente com apoio da família e um entusiasmo permanente constituíram os “ingredientes” essenciais para criar o meu próprio negócio – um projeto de alojamento turístico de natureza familiar – projetado para territórios de reconhecida atratividade turística e com potencial de crescimento em escala.
Porque optou pela na zona de Coimbra?
O lançamento do negócio está associado à Cidade do Conhecimento – Coimbra – apenas por uma questão de conveniência, permitam-me que assim o qualifique, na medida em que transformei o meu apartamento numa unidade de alojamento local, procurando fazer deste um pré-piloto da ideia de negócio. É assim que entendo a unidade de alojamento em Coimbra, um pré-piloto do projeto/marca Story Studio.
Como arrancou com o negócio?
Ainda que a primeira unidade de alojamento turístico da empresa tenha sido o Story Studio Coimbra Centro, na verdade considero que o arranque efetivo coincidiu com a aquisição de uma moradia (unifamiliar) devoluta na Aldeia Histórica de Piódão, e o respetivo processo de elaboração dos projetos de arquitetura e especialidades para requalificar a moradia e a posterior intervenção física, uma vez obtido o financiamento para executar a empreitada, e que correspondeu a um investimento global na ordem dos 100 mil euros.
Este processo iniciou-se no final de 2017, período que coincidiu com a constituição formal da empresa, mas apenas em meados de 2018 foi possível instruir todo o processo administrativo conducente à aprovação dos projetos e a submissão da candidatura a um sistema de incentivos disponível à data (SI2E). Uma vez que a avaliação da candidatura se prolongou no tempo, acabamos por avaliar outras oportunidades de investimento, priorizando os territórios de baixa densidade e de reconhecida notoriedade turística, pelo que nesta fase, muito mais do que estar preocupada com questões operacionais da única unidade de alojamento em atividade – Story Studio Coimbra Centro – dediquei mais tempo ao potencial de expansão da rede Story Studio.
Qual o maior desafio que enfrentou até hoje como empresária e como lidou com ele?
O maior desafio está diretamente relacionado com os procedimentos administrativos, que se expressam em múltiplas dimensões do processo. Sem procurar ser demasiadamente exaustiva, posso destacar, em primeira instância, a dificuldade de aquisição dos ativos (a nossa prioridade passa pela aquisição de moradias de perfil unifamiliar em ruínas/ devolutas) e, na esmagadora maioria dos casos, a difícil identificação dos respetivos proprietários; mas também os processos de licenciamento que exigem pareceres de diferentes instituições e que invariavelmente arrastam os prazos de aprovação; assim como a dificuldade de acesso ao financiamento.
Tendo em consideração o perfil do nosso negócio, a primeira fase é particularmente exigente, seja através dos sistemas de incentivos disponíveis (nacionais e comunitários), seja através de outros instrumentos mais convencionais (empréstimos bancários) ou mais complexos (fundos de investimento). Estou apenas a assinalar alguns dos desafios mais exigentes com que nos confrontamos na fase pré-operação, visto que após a entrada em operação, e uma vez que o nosso modelo de negócio é essencialmente desmaterializado, colocam-se outros desafios no sentido de garantir todas as condições aos nossos hóspedes, apesar de não estarmos presentes fisicamente, o que exige uma permanente atenção ao telemóvel – 24 horas por dia (nem sempre é fácil, porque nenhum hóspede pode ficar sem resposta/ solução).
O Story Studio Sortelha está em soft-opening (10 studios – moradias). Paralelamente, avançam outros projetos: a requalificação de uma moradia de perfil unifamiliar na Aldeia Histórica de Monsanto, que permitirá integrar na rede mais 3 studios (Story Studio Monsanto), e a aguardar aprovação do projeto de arquitetura de uma nova unidade em Piódão, que permitirá juntar 23 studios à rede Story Studio.
Nestes 7 anos, como evoluiu o projecto?
A fase de arranque foi particularmente exigente, morosa e com diversos obstáculos, e que também não podemos esquecer o período da pandemia sanitária (Covid-19) que objetivamente condicionou a atividade da empresa nos anos 2020 e 2021. Mas, apesar deste contexto, é com enorme satisfação que já temos em operação o Story Studio Coimbra Centro (1 studio – apartamento), o Story Studio Piódão (1 studios – moradia), o Story Studio Sortelha, em soft-opening (10 studios – moradias; prevendo-se que até ao final do mês de maio possam abrir os restantes 7 studios). Paralelamente, estamos com outros projetos em carteira, alguns dos quais já em fase de execução da empreitada ou em vias de ocorrer.
Que investimentos estão previstos para este e o próximo ano?
Nesta fase estamos a executar a requalificação de uma moradia de perfil unifamiliar na Aldeia Histórica de Monsanto e que permitirá integrar na rede mais 3 studios (Story Studio Monsanto), e estamos confiantes que seja possível iniciar a operação ainda este ano, no decorrer do quarto trimestre. Paralelamente, estamos aguardar aprovação do projeto de arquitetura de uma nova unidade em Piódão, e que nos permitirá juntar à rede Story Studio, no decorrer do primeiro semestre do próximo ano, 23 studios.
Estamos muito satisfeitos com o caminho percorrido neste período, mas mantemos este desassossego de continuar a expandir a nossa rede, procurando novas oportunidades de investimento, procurando dar os passos certos, para garantir a solidez e a sustentabilidade da empresa, dada a exigência do investimento.
O que é, então, hoje o Story Studio?
A Story Studio é uma marca de alojamento turístico ecofriendly, tem presente nos valores um compromisso integral com os princípios da sustentabilidade, entendida nas suas múltiplas dimensões, e que se objetiva na certificação Biosphere e no roteiro que traçamos com o Turismo de Portugal (Programa Forest) para sermos reconhecidos como uma empresa Sustainability Engaged.
Atualmente, estamos presentes em três destinos – Coimbra, Piódão e Sortelha – com as unidades de Story Studio Coimbra Centro (1 studio), Story Studio Piódão (1 studio) e Story Studio Sortelha (10 de 17 studios), correspondendo a 21 quartos. Prevemos ainda este ano estar em Monsanto (Stoy Studio Monsanto – 3 studios).
A empresa conta com três colaboradores, em regime de full-time, e que juntará um novo colaborador, também em regime de full-time, já no início do segundo semestre deste ano.
O que mais gosta naquilo que faz?
Por muito estranho que possa parecer, em virtude do modelo de negócio da Story Studio (processo desmaterializado), é o diálogo com os nossos hóspedes, os procedimentos operacionais nas diferentes fases da jornada do hóspede nas nossas unidades de alojamento, desde a reserva, passando pela estada propriamente dita, até ao período pós-estada, procuro sempre garantir que o hóspede está acompanhado.
Qual o seu sonho para o futuro da empresa?
O meu sonho para o futuro da empresa é que ela se torne numa rede de alojamento turístico, em lugares inesquecíveis e diferenciadores, que permitam adicionar histórias à nossa história. E que cada estadia seja mais do que apenas uma noite, e se transforme em experiências que deixem memórias inesquecíveis nos nossos hóspedes.
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