José António de Sousa é gestor aposentado depois de quatro décadas na liderança de multinacionais de seguros.
Começo estas linhas enquanto assisto à divulgação do elenco governativo escolhido por Luís Montenegro, e vou passando os olhos por um estudo (publicado em livro) preparado em meados de 1995 pelo Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Indústria e Energia, nos tempos em que o Eng. Luís Mira Amaral era o Ministro da tutela. Título: “A Indústria Portuguesa. Horizonte 2015. Evolução e Prospectiva.”
Mira Amaral foi provavelmente dos últimos ministros realmente competentes, com profundo conhecimento das matérias e dos dossiês, a gerir uma pasta desta (ou de qualquer outra) natureza.
Deixou de existir nos dias de hoje um Ministério da Indústria e Energia, provavelmente porque achámos que, no processo de globalização encetado nos anos 90 do século passado, dificilmente nos manteríamos competitivos num modelo de baixa produtividade e mão-de-obra barata a concorrer por preço com as Chinas, Bangladesh, Vietnam e Índias da vida.
Mira Amaral dizia então no prefácio do estudo que “a indústria portuguesa já descolou de um modelo de competitividade assente apenas no fator preço, deixando de competir na gama baixa dos produtos através de mão-de-obra barata”, mas como agora sabemos, com o benefício da retrospectiva, era enganarmo-nos a nós próprios.
Só muitos anos mais tarde foi possível que empresários com um pouco de visão, nos setores tradicionais da nossa indústria que foram arrasados pela globalização, investissem na diferenciação das suas empresas, pela agregação de valor (design, marketing, qualidade, características físicas e organolépticas diferenciadoras de produto, etc.) a produtos (têxteis, sapatos, etc.) que em Portugal, mesmo com mão-de-obra barata, nunca mais puderam competir por preço nos mercados internacionais contra os tigres asiáticos.
Acabo entretanto de ver que Pedro Reis, ex-Presidente do AICEP e autor do livro “Voltar a Crescer”, publicado em 2011, vai assumir a pasta da Economia. Vou-lhe fazer entregar este estudo através de amigos comuns, que terão certamente acesso ao novo Ministro. Numa palestra que ele deu há poucas semanas a um grupo de empresários brasileiros, e em que fez uma boa exposição sobre as oportunidades da nossa economia, e os eixos vitais para o seu desenvolvimento, há temas sobre o quais ele irá encontrar referências valiosas para a tarefa hercúlea que terá de enfrentar.
Já agora, sendo certo que o AICEP pode ser um bom instrumento (a revitalizar e a fortalecer) para o ajudar na internacionalização da nossa Economia / Indústria, também a criação de um Gabinete de Estudos preparado para ajudar, articulado com o AICEP, a nossa indústria a evoluir tecnologicamente em nichos em que possa ser competitiva, seria certamente uma mais valia para que ele possa realizar o sonho que articulou no título do seu livro : “Voltar a crescer”.
Espero que no final do seu mandato possa ter de Pedro Reis a mesma opinião elevadíssima de respeito e admiração que nutro pelo Eng. Mira Amaral, ainda hoje em Portugal uma referência incontornável em temas de Economia, Indústria e Energia. Portugal precisa urgentemente de bom senso, ética, profissionalismo e capacidade de realização e resolução de problemas, para não termos de continuar a dizer “chega”…. (para bom entendedor…).
Leia mais artigos de José António de Sousa