A 4ª revolução industrial, também conhecida como Indústria 4.0, refere-se à integração de ativos físicos e tecnologias digitais avançadas – IoT (internet das Coisas), Inteligência Artificial, robots, drones, veículos autónomos, manufatura aditiva (impressão 3D), M2M, computação em nuvem, computação quântica, realidade virtual, realidade aumentada, sensores, materiais avançados, nanotecnologia e muito mais – que comunicam entre si, analisam e agem sobre a informação, capacitando organizações, consumidores e sociedade para ficarem mais flexíveis e responsivas, tomando decisões mais inteligentes baseadas em dados.
Apesar do nome sugerir uma revolução aplicável à manufatura de bens, o conceito impacta de forma transversal as organizações, os governos, os estabelecimentos de ensino, a sociedade civil. São vários os exemplos com os quais nos deparamos no dia-a-dia: aplicações tais como Uber ou Airbnb – que desenvolvem novos conceitos de serviço recorrendo a ativos existentes, intervenções cirúrgicas com participação de robôs que possibilitam acesso direto e maior precisão na intervenção nas áreas afetadas, robôs mergulhadores que conseguem aceder a zonas subaquáticas nas quais o ser humano não consegue entrar ou sobreviver, tecnologias aplicadas à agricultura que otimizam a gestão agrícola, manufatura aditiva que permite a produção de bens customizados de forma rápida e competitiva, avanços na biotecnologia, criação de cidades inteligentes e muito mais.
A Indústria 4.0 está intimamente ligada à transformação digital a qual assenta na mudança transformacional dos processos, modelos de negócio e competências. Representa uma mudança disruptiva na forma como operam as organizações, os governos e a sociedade, criando desafios e oportunidades adicionais num contexto volátil e de elevada incerteza. Obriga à transformação da mentalidade e cultura das organizações.
Na prática, as organizações têm de repensar a forma como operam e definir uma estratégia que inclua não só a implementação de tecnologias, mas também a revisão dos processos, a requalificação dos colaboradores e a revisão do seu posicionamento na cadeia de valor. Esta transformação requer uma liderança forte, com capacidade de mobilização das partes interessadas, capaz de traçar as principais linhas de orientação e fazer acontecer a execução da estratégia definida. A inovação assume um papel primordial e obriga à agilização das organizações de forma a acompanhar o ritmo acelerado de transformação e tomada de decisão que esta revolução potencia.
E como ficam as pessoas? Qual o risco da eliminação em massa de postos de trabalho que serão substituídos por tecnologia? O futuro das pessoas nas organizações tem sido um tema muito debatido e muito associado ao nível das competências atuais no mundo do trabalho.
A preocupação com as pessoas é elevada e levou já a uma mudança de paradigma com o aparecimento da Indústria 5.0, um complemento da Indústria 4.0, que assenta na humanização e utilização da tecnologia para melhorar a vida das pessoas. A Indústria 5.0 refere-se à colaboração entre pessoas e máquinas, de forma harmoniosa, com foco no bem-estar das diversas partes interessadas.
A implementação da tecnologia não elimina a necessidade das pessoas nas indústrias. Pode suprimir alguns postos de trabalho, nomeadamente aqueles que mais facilmente podem ser automatizados, mas em muitos casos oferece vantagem para os próprios colaboradores. O principal impacto da implementação da tecnologia nas pessoas é a necessidade da sua requalificação de forma a adaptarem-se ao novo contexto, aprendendo a interagir com a tecnologia e retirar os proveitos para o desenvolvimento das organizações e dos seus colaboradores.
Novas competências técnicas (hard skills) são requeridas, nomeadamente as mais ligadas às áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM).
Aumenta a importância das competências interpessoais (soft skills). Competências ligadas à transformação das organizações como liderança, capacidade de adaptação, capacidade de inovação, capacidade analítica, inteligência emocional e resiliência, são apenas alguns exemplos.
A implementação da Indústria 4.0 não ocorre à mesma velocidade em todas as regiões do globo, países ou organizações. Tal como nas revoluções anteriores, assistiremos a diferentes velocidades em função do nível socioeconómico das regiões e dos países, nomeadamente no que concerne a disponibilidade e fiabilidade da internet, o setor económico em que as organizações estão inseridas, o grau de desenvolvimento das organizações e o grau de qualificação ou escolaridade das pessoas, entre outros.
Poder-se-á observar uma tendência negativa na paridade de género considerando que alguns postos de trabalho, mais fáceis de automatizar, são normalmente e maioritariamente desempenhados por mulheres. É o caso das tarefas repetitivas no chão de fábrica ou os call centers. A procura de competências nas áreas das STEM pode aumentar a desigualdade dado que há menos mulheres qualificadas nestas áreas do que homens. Por outro lado, as mulheres estão normalmente em vantagem em competências tais como inteligência emocional e capacidades humanas como a empatia e compaixão, competências que dificilmente as máquinas conseguirão reproduzir.
O impacto da Indústria 4.0 é global e transversal. A velocidade desta revolução é muito superior à das revoluções anteriores. E requer ação urgente por parte das organizações de forma a manterem os seus negócios e prosperarem. É tempo de mudar!
Texto de Paula Dias, assessora & consultora nas áreas de Estratégia, Desenvolvimento de Negócio, Restruturação, M&A, Carve-Out, PMI
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