Licenciada em Ciências Aplicadas pela Universidade de FH-Joanneum, Mag. (FH), Styria, Viktoria Kaufmann iniciou a sua carreira na Porsche Austria, em 2008, como responsável pelo desenvolvimento da rede e ainda pelo Departamento de Controlo de Vendas (de todas as marcas Porsche Áustria). Deixou o seu país em 2012 para assumir o cargo de diretora de marca e líder do Departamento de Business Management na Porsche Chile. Em 2016, mudou para a Porsche Colombia, como CEO Importador VW, Audi, Seat, Škoda. Viktoria Kaufmann revela que o seu principal desafio na América Latina não foi tanto o género, mas mais a idade. “Sentia que precisava de um esforço extra para provar e mostrar a minha experiência e o conhecimento do que fazia”, explica. Chegou a Portugal em outubro de 2019 para partilhar a direção-geral da SIVA – Sociedade de Importação de Veículos Automóveis, com Pedro Almeida. Seis meses depois o plano que trazia foi invalidado pela pandemia e agora, a crise dos semicondutores e a guerra são as suas maiores preocupações. Mas “como em todos os desafios, também surgem oportunidades”, Viktoria Kaufmann também tem razões para se orgulhar do que foi feito desde que chegou a Portugal. Uma delas é o facto de a SIVA I PHS ter aumentado a quota de mercado de todas as suas marcas — Volkswagen, Audi, SEAT, Skoda, Volkswagen Veículos Comerciais, CUPRA, Bentley e Lamborghini.
Chegou há 2,5 anos à SIVA I PHS. Que mudanças implementou e que resultados obteve?
Tinha um plano muito claro quando cheguei em Outubro de 2019 – 6 meses depois esse plano tornou-se inválido devido à pandemia, que trouxe vários desafios adicionais. Apesar disso tivemos a oportunidade de transformar profundamente a SIVA Ӏ PHS.
Primeiro, criámos um “Winning Team” com talentos de dentro e fora da SIVA Ӏ PHS. Ficámos a ganhar com essa transformação interna, pois com a mudança de postos de trabalho, áreas e estruturas, conseguimos criar uma organização mais eficiente enquanto equipa e também a nível individual. Desenvolvemos um grande trabalho neste sentido: manter, ajustar, mas também trazer inovação, talento, novas perspetivas que consolidem a nossa aposta numa empresa mais moderna, capaz de responder aos desafios do setor, antecipando também tendências, criando valor. Apostamos nas pessoas, no talento e queremos ser uma empresa atrativa.
Tivemos também a integração da SEAT e CUPRA no inicio de 2021, que completou a nosso portfolio, reunindo as Marcas do Grupo VW.
Com a Winning Team implementámos a cultura da Porsche Holding Salzburg ( PHS), com os nossos valores e princípios que formaram e criaram agora a base e o fundamento mas também o espirito da “nova” SIVA Ӏ PHS. Com este espírito de colaboração e cooperação trabalhamos fortemente com a nossa Rede de Concessionários – sobretudo nos tempos difíceis da pandemia estivemos mais juntos e unidos.
Atualizámos as plataformas de TI para as adequar à estrutura digital do grupo e, dessa forma, estarmos ligados ao mundo PHS.
E “last, but not least”, modernizámos as nossas instalações e agora na SIVA Ӏ PHS temos um ambiente muito atractivo para trabalhar – incluindo uma nova cantina para todos os nossos cerca de 300 colaboradores.
Trabalhamos fortemente com as nossas marcas Volkswagen, Audi, SEAT, Skoda, Volkswagen Veículos Comerciais, CUPRA, Bentley e Lamborghini de forma a contribuir para uma sólida performance e presença no mercado. Lançámos 37 produtos durante estes 2 últimos anos – desses cerca de 20% são 100% elétricos. E tivemos também um foco muito grande nos nossos projetos relativos à sustentabilidade. Começando com o lançamento da nossa marca própria MOON, que oferece soluções de mobilidade elétrica e carregamento. Estamos a dar o exemplo ao transformar o nosso parque automóvel, apostando em veículos elétricos – entre outros projetos que têm como objetivo tornar a SIVA/PHS e respetivas marcas em organizações mais sustentáveis.
O que conseguimos até agora? Primeiro, criar o nosso novo Winning Team, uma equipa sólida, forte, unida, de alto desempenho e com uma energia e motivação positiva. Aumentámos claramente a visibilidade das nossas grandes marcas no mercado português. Mudámos a imagem das nossas marcas e isso permitiu reforçar a confiança que os nossos parceiros e os nossos clientes depositam em nós.
E, com tudo isso, pudemos aumentar a quota de mercado em todas as nossas marcas e também a rentabilidade dos nossos parceiros.
Como evoluíram, entretanto, as suas funções?
Como administradora da SIVA|PHS tenho sempre novos desafios que resultam não só das contingências dos tempos que vivemos, como a pandemia ou a guerra, mas também da necessidade de darmos continuidade a este projeto em Portugal.
Quando entrei pela primeira vez em Portugal, depois da aquisição da SIVA pela PHS, tínhamos vários assuntos a resolver, medidas a tomar, mudanças a efetuar… Este é um processo contínuo que exige foco e trabalho, mas também sensibilidade e capacidade de adaptação face aos momentos atípicos que vivemos.
“Já não vendemos apenas veículos e passámos a disponibilizar soluções de mobilidade aos clientes”
Quais os principais desafios que enfrenta atualmente na sua área de negócio?
Neste momento, o desafio principal no setor automóvel é a falta de veículos por atrasos na produção, que foi muito afetada devido à COVID, à crise dos semicondutores e pela guerra. A própria transformação do sector também é um desafio: já não vendemos apenas veículos e passámos a disponibilizar soluções de mobilidade aos nossos clientes, antecipando e superando as suas expectativas e necessidades.
Outro desafio que temos é a antiguidade do parque automóvel em Portugal, com uma média de 13 anos, sendo um dos mais antigos da Europa, com tudo o que isso implica em termos de pegada ecológica, mas também da segurança de todos. As marcas contribuem com a oferta de novos produtos elétricos, híbridos e soluções de financiamento que tornam mais acessível a mudança para uma mobilidade mais sustentável. Porém, é muito importante o apoio do Governo, com incentivos ao setor, como por exemplo o apoio ao abate, essenciais para a troca de viaturas e consequente redução de emissões.
Mas, como em todos os desafios também surgem oportunidades, por isso estamos sempre prontos a explorá-las da forma mais positiva que conseguirmos.
E quais as tendências que se começam a desenhar neste mercado e como está a SIVA|PHS a preparar-se para elas?
As tendências mais importantes neste mercado são claramente as alterações nas preferências e necessidades dos nossos clientes em que além de as acompanhar, temos de as antecipar. Mais do que um automóvel, o cliente quer um serviço global que inclui mobilidade e serviços. Em conjunto com os nossos HQ da PHS e também as fábricas das marcas, estamos a trabalhar em conceitos de mobilidade para o futuro, que antecipem tendências e necessidades dos nossos clientes. No caso da digitalização, o cliente espera uma experiência muito mais alinhada entre online e offline, com tudo o que isto implica enquanto desafio para o nosso negócio.
Também outra tendência é a eletrificação do setor. Atualmente, temos uma gama muito completa e em constante renovação, com diversas soluções, uma ampla gama de BEVs (veículos elétricos alimentados a bateria) e PHEV (veículos híbridos recarregáveis Plug-in) que cobre múltiplas necessidades e perfis de cada cliente.
Qual o maior desafio que enfrentou na sua carreira e de que forma ele a impactou?
O maior desafio que enfrentei foi o de liderar a minha equipa e toda a empresa (cerca de 300 colaboradores) durante o início da pandemia. Estava há apenas seis meses em Portugal, tive a oportunidade de conhecer muitos dos colaboradores e também vários parceiros da rede de concessionários. Mas o meu português não era tão bom na altura e também ninguém estava habituado ao teletrabalho. Foi um verdadeiro desafio que superámos unidos.
Nesse momento não existiam processos definidos pelos HQ, ninguém estava preparado para esta situação. Admito que teve um grande impacto em mim, mas que depois acabei por desenvolver um foco muito claro no curto prazo e fui fazendo uma checklist de cada situação. Descobri que trabalho bastante bem em situações de crise por uma razão: tinha as minhas prioridades muito bem definidas. A saúde dos colaboradores era a única prioridade! Depois, a continuidade do negócio e reforçar um estilo de comunicação frequente e próximo, foram outros objetivos que determinei como essenciais face à situação que todos atravessávamos. Claro que tudo isto só foi possível com a minha equipa e hoje acho que essa situação tornou-nos mais fortes.
“Na América Latina senti que pela idade precisava de um esforço extra para provar a minha experiência”
Começou a sua carreira na Áustria, depois esteve sete anos na América do Sul e há dois anos que está em Portugal. Que competências e skills são necessários para trabalhar em mercados tão diferentes?
É necessário querer e estar aberto a novos desafios, ter uma mente aberta e corajosa. Tens que gostar de novas culturas e de trabalhar com pessoas muito diferentes. Por isso, é importante ser sociável para construir facilmente relações e ter uma capacidade de motivar e inspirar quem nos rodeia. Outras skills que considero indispensáveis são a inteligência emocional, ter uma ambição e objetivos claros com perseverança e capacidade de trabalho. Ser digno de confiança e manter-se fiel a si.
E, o mas importante, precisamos de gostar do que fazemos, pois sabemos que o faremos da melhor maneira possível.
Que diferenças sentiu pelo facto de ser uma mulher líder num mundo maioritariamente masculino em cada um desses mercados?
No que diz respeito aos mercados latinos, que em geral são muito machistas, eu tinha muitas dúvidas que depois foram ultrapassadas. É verdade que são machistas, mas também são cavalheiros, por isso nunca tive problemas nem de aceitação nem de colaboração. Sinto-me confortável no setor automóvel e gosto de trabalhar neste Grupo. As diferenças nos países não foram tanto por questões de género, mas sim de idade. Por isso, sentia que precisava de um esforço extra para provar e mostrar a minha experiência e o conhecimento do que fazia na América Latina.
Não me faltou nem autoconfiança, nem ambição, pelo contrário, considero que são competências fortes que fazem parte do meu perfil, o que me deixou sempre muito segura em cada situação. O mais importante é conseguir cumprir as promessas que fazemos, pois assim não são necessárias quaisquer justificações.
Na sua opinião, o que falta para vermos mais mulheres em funções de liderança?
Precisamos de apoiar os nossos talentos para crescer desde o primeiro momento, quando uma mulher ou homem entram nas nossas empresas. Isso garante a igualdade de oportunidades para todos. O tema de equilíbrio de género é parte de todo o propósito de diversidade no Grupo Volkswagen, Porsche Holding Salzburg e nós como SIVA|PHS também estamos alinhados.
O que ainda falta é um pensamento aberto e atualizado onde a mulher pode conciliar família e carreira. Também falta às mulheres muitas vezes a confiança de que são suficientemente competentes para a função. Temos que trabalhar mais em modelos a seguir, em empoderamento das nossas mulheres e também de ter a flexibilidade do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Acho que é importante ter uma concorrência leal, em que o melhor seja o líder, não importa que seja mulher ou homem. Termino como iniciei, é essencial assegurar o equilíbrio de género em todas as fases iniciais das nossas carreiras.,
O nosso setor ainda é pouco conhecido pelas mulheres. Temos produtos atrativos e a oportunidade de fazer parte de uma grande transformação do setor, onde a forma de trabalhar e a evolução é continua. Este é um ótimo setor para se trabalhar e onde precisamos de mulheres poderosas.
Qual o seu melhor conselho de carreira para alguém que ambiciona chegar a uma função de topo?
Estar aberto/a a coisas novas, ter ambição e um objetivo muito claro para lutar e trabalhar com muita alegria, paixão e arduamente para o alcançar. Não ter medo de desafios – transformar os desafios em oportunidades e estar no lugar certo na altura certa, com a confiança do “I can do it”.
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