Desafio da igualdade de género na Auditoria

José Rodrigues de Jesus, Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, sobre a importância de ter mais mulheres nesta área.

José Rodrigues de Jesus é Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas.

José Rodrigues de Jesus é Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas

A diversidade é, hoje, um fator inegável no contexto da Auditoria, associada ao benefício de contar com profissionais dotados de perfis próprios com uma variedade de competências, conseguindo-se um conjunto alargado de perspetivas e conhecimento profundo sobre âmbitos distintos o que se traduz em maior capacidade de atuação.

À medida que a caraterização demográfica da força de trabalho muda e o peso de mercados globais se torna mais relevante, a diversidade no contexto profissional acentuou-se como necessidade, e já não apenas como “bandeira” utilizada para mostrar o compromisso de determinada organização em abraçar a diferença e a mudança.

A compreensão quanto ao caráter ainda predominantemente masculino da profissão de ROC, e a conquista de atratividade da mesma entre profissionais do sexo feminino, exige a compreensão do mundo que nos rodeia, da sua evolução e da sua extraordinária capacidade adaptativa.

Estas circunstâncias levam, naturalmente, a um modus vivendi adaptado e adaptável às dinâmicas do planeta, como o sentido de bem-estar ou o desejável e permanente reequilíbrio da sociedade em que vivemos, em sintonia com a igualdade de oportunidades, que passa com certeza pela afirmação das competências das mulheres. A OROC não foi alheia a esta evolução, tendo criado a Comissão Família e Profissão, com vista a reflectir e contribuir o possível para o equilíbrio no binómio Família e Profissão, o que acaba por obrigar a um olhar atento aos contextos em que é exercida a atividade profissional por mulheres.

No ano de 2019, a representação de um terço das mulheres no total dos profissionais da OROC demonstra a evolução positiva da atração da profissão junto de si, uma evolução que se foi fazendo de forma muito consistente e alinhada com a evolução em outras profissões.

Dos 1504 ROC inscritos na OROC, número que tem aumentado de forma linear desde a criação da organização, 1 070 são homens. As mulheres correspondem a 29% dos inscritos, mas anos existiram já em que foi superior o número de mulheres inscritas na OROC ao de homens, exemplo de 2005 e 2016. A comparação com o ano de criação da OROC expressa de forma notória a enorme alteração neste âmbito: nessa data, o número de profissionais do sexo feminino inscritas foi de somente 3%.

A adesão das mulheres a uma profissão exigente em termos de abrangência de conhecimento, que obriga a uma formação constante e dedicação permanente no acompanhamento de empresas e clientes, e a ausências físicas do núcleo familiar, foi umas vezes mais lenta, outras mais dinâmica, muito dependendo das circunstâncias criadas nas e para as famílias, mas inevitavelmente crescente, acompanhando os movimentos da sociedade, em termos de novos desafios, exigências e existências de bem-estar, de solidariedade, de novos padrões de comportamento influenciados pelos gostos e preferências e alterações de mentalidades dos cidadãos.

A este equilíbrio vivo, de grandes desafios, as mulheres responderam com o mérito devido e num diálogo de grande adaptação ao contexto dinâmico da sociedade.

No atual mundo global, em que as organizações estão voltadas para o conhecimento, para a lealdade, para a inteligência e para a criatividade, a diversidade de perspetivas pode ser bastante construtiva, desde que prevaleçam o primado dos princípios, dos valores humanos, da competência e saber. Esta é a chave da atração e o fator distintivo da nossa profissão, ou seja, o valor que a mesma encerra como “chancela” de credibilidade e reconhecimento público daquilo que fazemos.

Assim, a igualdade de oportunidades para o mesmo saber, competência e talento é um verdadeiro desafio neste nosso século e terá efeitos significativos sobre a nossa profissão de Revisor Oficial de Contas, sobre o bem-estar, organização e bom governo das sociedades.

Este é um desafio contínuo, abordado de forma transversal na persecução da igualdade de oportunidades e de valorização do trabalho e do mérito que carateriza a OROC. As medidas que têm vindo a ser implantadas a este respeito ao longo dos últimos anos terão, necessariamente, continuidade numa estratégia de atratividade e diversificação da profissão direcionada a novos auditores. Acreditamos que esta é uma preocupação fundamental para assegurar uma profissão mais robusta, a entrega de trabalhos de qualidade acrescida e uma maior credibilização e reconhecimento pelo público.

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