Susana Mata: “Os desafios superados tornam-nos mais fortes”

Foi o pai que lhe despertou o entusiasmo pela engenharia, apesar de considerar que não era profissão para “uma senhora”. Durante o curso, a managing director da Accenture Technology desenvolveu as competências que a têm ajudado a construir uma carreira sólida, sem nunca virar a cara a um desafio.

Trabalhar com equipas muito jovens e motivadas é uma das aliciantes da função de Susana Mata na Accenture.

Susana Mata, managing director da Accenture Portugal, é a responsável pelo Accenture Delivery Center de Lisboa. Inaugurado em 2014 para dar apoio aos clientes da consultora americana nos mercados da Europa, África, Estados Unidos e América Latina, este centro, que foi o primeiro nearshore em Portugal, conta hoje com mais duas centenas de profissionais, com formação sobretudo ao nível da Tecnologia e Sistemas de Informação. Licenciada em Engenharia Química pela Universidade de Coimbra, Susana Mata iniciou a sua carreira na Accenture em 1991, quando a consultora dava os primeiros passos em Portugal e a então recém licenciada engenheira procurava um emprego que a apaixonasse.

Possui uma vasta experiência na gestão de projetos complexos de transformação, em consultoria de gestão e tecnologias de informação, procurando ajudar as organizações a fazer face aos desafios que enfrentam nas áreas de Logística, CRM, Human Performance e Finance and Performance Management.
Ao longo da carreira tem liderado uma grande variedade de projetos para clientes de diversos setores, especialmente das áreas das Telecomunicações, Consumo e Retalho, Utilities e Energia.

Quando escolheu o curso de Engenharia Química que planos tinha em mente?
Na altura tinha uma convicção absoluta que queria ser engenheira de processo na indústria. O meu pai é engenheiro químico e trabalhou toda a sua vida na indústria da pasta e do papel. Penso que isso teve influência na minha decisão. Não por sua sugestão, que achava que a profissão de engenheiro de processo não era a adequada para uma “senhora”, mas porque o vi sempre muito motivado e entusiasmado com a profissão que exercia. Para me tentar dissuadir arranjou-me vários estágios na indústria durante o ensino secundário, que reforçaram a convicção de que era a profissão que queria seguir.

Não fazendo a consultoria parte dos seus planos, o que a levou a ingressar na Accenture?
Realmente a consultoria não fazia de todo parte dos meus planos. Quando terminei o curso ofereceram-me várias alternativas de emprego na indústria mas quase sempre para trabalhar em laboratórios ou para empresas muito pequenas. Não era, claramente, o tipo de desafios que eu procurava. Também ganhei uma bolsa para fazer o doutoramento na Universidade de Leads, em Inglaterra, e hesitei bastante se deveria aceitar. Entretanto, uma colega do ano anterior entrou na Accenture e descrevia com entusiasmo o trabalho que estava a fazer. Era uma empresa muito jovem, muito dinâmica e estava a ter a oportunidade de fazer desenho de processos industriais. Convenceu-me a vir a uma entrevista e resolvi experimentar!

“A formação em Engenharia deu-me os instrumentos para ter curiosidade sobre assuntos diversos, ter a capacidade de sistematizar informação e fundamentalmente raciocinar.”

Planeou a sua carreira ou foi abraçando os diferentes desafios à medida que eles iam surgindo?
Não sou uma pessoa de grandes planeamentos, sou muito mais de reagir aos momentos e aproveitar as oportunidades que vão surgindo. Mesmo no meu dia-a-dia raramente consigo fazer o que planeei. Isto pode parecer um pouco caótico mas, sinceramente, acho que é o que me permite ter o nível de flexibilidade para aproveitar as oportunidades quando elas surgem. Também me permite manter o nível de stress controlado porque isto de ser consultor e ao mesmo tempo mãe exige um grande jogo de cintura.

Em que medida a sua formação em Engenharia a tem ajudado ao longo da carreira?
A formação em Engenharia deu-me os instrumentos para ter curiosidade sobre assuntos diversos, ter a capacidade de sistematizar informação e fundamentalmente raciocinar. Foi fundamental também a capacidade de trabalho e de resistência ao stresse que adquiri durante o meu curso universitário.

No entanto, acredito plenamente que a formação universitária é só um primeiro instrumento que adquirimos em determinado período das nossas vidas. Temos que nos manter constantemente atualizados e abertos para aprender ao longo de todo o percurso profissional. Podem ser instrumentos de aprendizagem formal ou informal, mas é fundamental mantermos um espírito de aprendizagem permanente.

Qual o maior desafio profissional que enfrentou?
Foi quando regressei da licença de maternidade da minha segunda filha. Tinha estado durante cinco meses fora, de licença de maternidade e estávamos em 2003 quando “rebentou” a bolha dos sistemas de informação associada ao ano 2000. A área de negócio onde trabalhava tinha reduzido significativamente a capacidade de investimento e não havia perspetivas de mudanças no curto prazo… Felizmente surgiu um convite para ir colaborar com uma outra área da empresa e aceitei o desafio com entusiamo. Foi um pouco como começar de novo, uma nova área de negócio, trabalhar com equipas completamente novas e clientes desconhecidos. Na altura muitas pessoas na empresa me disseram que estava “louca”. Hoje tenho a certeza que foi a decisão certa e que cresci imenso com essa mudança. Acredito que os desafios superados nos tornam mais fortes.

“Sou grande adepta da diversidade e acredito que pessoas com perfis distintos podem trabalhar bem em equipa.”

Quais os maiores desafios que enfrenta na sua área?
O maior desafio que tenho é encontrar o número suficiente de recursos qualificados na área de Tecnologia e Sistemas de Informação para ser capaz de responder aos desafios dos nossos clientes. Neste momento há uma enorme lacuna de profissionais desta área no mercado europeu e temos que estar permanentemente a trabalhar em formas diferentes de atrair os melhores profissionais nesta área e de lhes dar formação contínua para se manterem relevantes. Recentemente, abrimos um novo centro em Braga para permitir que as pessoas que residem, ou gostavam de residir, no Norte tenham a possibilidade de trabalhar na sua área de residência.

O que diria que mais a apaixona na sua função?
A diversidade de trabalho e a possibilidade de trabalhar com equipas muito jovens e motivadas. Trabalho numa empresa em que a idade média dos trabalhadores é de 27 anos e em que nenhum dia é igual ao outro. Não existe rotina, as oportunidades surgem de forma contínua e as pessoas são treinadas desde muito jovens para estarem permanentemente a aprender a assumir novas responsabilidades. É um ambiente fascinante!

Lidera uma equipa de mais de duas centenas de pessoas. Qual a sua principal preocupação enquanto líder?
Encontrar oportunidades interessantes para todos. É uma responsabilidade muito grande ter tantas pessoas/ famílias dependentes do trabalho que geramos. É claro que também tenho uma preocupação constante que as pessoas gostem do que estão a fazer e que estejam motivadas. Só com equipas motivadas podemos desenvolver um trabalho de qualidade para os nossos clientes. O único ativo de uma empresa como a Accenture são as pessoas!

Que atributos e competências procura nas pessoas que trabalham na sua equipa?
Sou uma grande adepta da diversidade e, por isso, acredito que pessoas com perfis muito distintos podem trabalhar muito bem em equipa. Não acredito em perfis muito padronizados! Mas se tiver que escolher duas características fundamentais escolheria a vontade permanente de aprender e uma atitude positiva para ultrapassar as dificuldades.

Que conselhos dá aos jovens da sua equipa sobre como construir uma carreira sólida?
Que se mantenham sempre atentos às oportunidade que surgem e que lutem por fazer o que gostam. Claro que, por vezes, têm que ter um pouco de paciência e persistência porque a oportunidade para fazermos o que nos apaixona nem sempre surge no imediato, mas é fundamental continuarmos a lutar por isso. Não há nada pior para uma carreira bem-sucedida do que uma pessoa que se obriga todos os dias a trabalhar no que não gosta. Mas não vale dizer que não se gosta sem experimentar!

Entrevista realizada em Abril 2017 e publicada na edição n.º3 da revista Executiva

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