Nascido a 31 de Janeiro de 1975, em Lisboa, em criança Octávio Mateus nunca brincou com bonecos de dinossauros. “Para mim os dinossauros eram muito mais reais e interessantes.” Costuma dizer que nasceu num ninho de dinossauros. As razões são múltiplas e, conjugadas, encaminharam o jovem que dispensava os jogos de computador para ir para o campo observar aves para esta área de estudo. Desde os quatro anos que procura fósseis de dinossauros, acompanhando os pais, que faziam trabalho de campo de espeleologia, arqueologia e, mais tarde, paleontologia e foram fundadores do Museu da Lourinhã.
Nasceu e cresceu na Lourinhã, uma área muito rica em dinossauros do período Jurássico superior. Foi o terreno fértil para aos sete anos Octávio fazer a sua primeira escavação arqueológica, numa necrópole neolítica, e aos nove anos registar a sua primeira descoberta científica suficientemente interessante para integrar o espólio de um museu: um dente de dinossauro carnívoro. Ainda tem a fotografia, segurando o dente de um Torvossaurus, que mais tarde descreveria.
Em 1991, com apenas 16 anos, participou na sua primeira grande escavação de dinossauros. Descobriram na praia de Porto Dinheiro, próximo da Lourinhã, um saurópode, dinossauros de grande porte e pescoço comprido, a que deram o nome de Dinheirosaurus Lourinhanensis. “Não há uma fronteira nítida em que deixo de ser o teenager explorador e em que começo a ser cientista.” Enquanto estava a licenciar-se, em 1994, integrou a escavação no ninho de dinossauros que a sua mãe descobrira, encontrando ovos com embriões no seu interior. No final, em 1996, já liderava a escavação. A sua primeira publicação científica data de 1997 e é sobre este ninho de dinossauros: “Postura, ovos e embriões de dinossauro terópode do jurássico Superior da Lourinhã, publicado na revista da Academia francesa de ciências Comptes Rendus de l’Academie des Sciences Series IIA Earth and Planetary Science. Os seus pais, Isabel e Horácio, eram os primeiros autores, o professor Telles Antunes, da FCT-UNL, e Philippe Taquet, entre outros, eram também autores.
Numa altura em que Octávio Mateus e o paleontólogo dinamarquês Simon Kongshøj Callesen anunciaram a descoberta de um dos maiores e mais raros trilhos do mundo de pterossauros (répteis voadores) na praia da Peralta, na Lourinhã, descubra quem são as mulheres que mais marcaram a sua existência.
“A minha mãe, Isabel Mateus, teve uma enorme influência em me fazer trilhar os passos que dei e que hoje regem o meu quotidiano. Ela soube encontrar o equilíbrio de uma grande uma liberdade e autonomia que ajudou-me a desenvolver espírito crítico e a resolução de desafios com o encantamento e fascínio pela natureza, pela ciência, pela história natural. Os meus pais foram os fundadores do Museu da Lourinhã, conhecido pelas suas colecções de arqueologia e de dinossauros, e foi precisamente nesse contexto que cresci. Recordo naqueles dias que chegava a casa e a mesa de jantar estava totalmente ocupada com ossos fósseis ou instrumentos paleolíticos. Lembro dos momentos em que íamos para as arribas da Lourinhã à procura de fósseis de dinossauros. Não olvido os momentos a observar as curiosidades de uma planta ou animal. A figura maternal lá estava a fazer-me participar.
A primeira de todas as escavações que fiz foi de arqueologia, quando tinha 6 anos de idade, numa necrópode neolítica na Gruta da Feteira. Nessa altura eu já participava, timidamente, na exploração de grutas ou recolha de fósseis. Aos nove anos de idade achei aquele dente de um gigantesco dinossauro carnívoro. Lembro-me os olhos esbugalhados dos meus pais quando lhes mostro aquele achado. Já uma das primeiras escavações paleontológicas, como adolescente, foi de um enorme ninho de dinossauro carnívoro, localizado no epicentro de uma região que encerra uma riqueza nacional e internacional no que concerne dinossauros. Neste cenário familiar, geográfico e profissional nasci, por isso, num ninho de dinossauros. Sempre presente, observadora, a motivar o fascínio e a alimentar o desígnio estava aquela presença maternal. Tantas vezes, no crescimento de um indivíduo, a mãe envolve e o pai desenvolve. A cumplicidade dos meus pais era interessante e diferente. Como tantas vezes acontece, o leme masculino era estabilizado por uma quilha feminina. Ainda hoje lhe presto homenagem em todos aqueles momentos de família que passamos em conjunto, a passear no campo, a viajar ou a discutir novidades científicas. A minha mãe tem ainda outra arma secreta… aquela tranquilidade desassossegada que faz todos os motores trabalharem.
E agora, como adulto, a minha companheira e namorada é sempre o meu braço direito, meu aconchego e minha aliada. A vida é para ser partilhada e isso ajuda-nos a suportar as adversidades e a multiplicar as alegrias. E sinto que que encontrei a pessoa certa com quem o fazer. Todos as principais decisões de vida são feitas ouvindo os conselhos e partilhando decisões. Toda a decisão em que ela participa é sempre mais equilibrada. Olho para nós e a mente de biólogo evolutivo em mim faz-me pensar que a nossa espécie evoluiu para vivermos em casal devido à vantagem das melhores decisões quando feitas a dois e naquela mistura de sensibilidades que formam qualquer casal.
Nas mulheres da minha vida gostaria de ter uma verdadeira inspiração de rosto feminino na área científica a que me dedico, a paleontologia, mas historicamente, esta ciência tem poucas mulheres. As paleontólogas póstumas em Portugal formaram uns residuais 3% do cenário científico nesta disciplina. Felizmente, esse panorama muda e a ciência de hoje é bem diferente de há 100 anos atrás.”