Sónia Teles Fernandes, especializada em Comunicação e Imagem, já organizou cinco World Failurists Congress (WFC), com sucesso, e diz que o WFC ideal “seria reunir os fundadores das maiores empresas, as de maior sucesso, as que parecem fazer tudo bem feito, e ouvir as suas histórias. Ou as pessoas de maior renome nas suas áreas, os tais ditos gurus”. Em discurso direto fala da experiência de subir a um palco e ajudar a perceber os falhanços e os sucessos.
“Já me perguntaram várias vezes como me lembrei de inventar um evento sobre Falhanços. É simples. Criei World Failurists Congress (WFC) com a premissa de contar a verdade sobre os sucessos. Na altura, em finais de 2012, estava desempregada (e assim continuo) e recebia muitos convites de pessoas ligadas ao empreendedorismo para ir assistir a seminários e workshops sobre o sucesso, sobre como nos “salvarmos” a nós próprios da crise e do desemprego. O que eu queria mesmo era que me contassem a tal verdade, ou seja, os falhanços que há pelo caminho. Para mim, era uma forma mais clara de aprender através dos exemplos dos outros.
Criei o WFC para sabermos lidar com os falhanços e não vermos apenas os sucessos dos outros como exemplos replicáveis para nós.
Ao início, a ideia era criar cursos de formação que focassem as falhas ocorridas com determinadas práticas na área da comunicação e gestão de pessoas (as minhas áreas). Daí a transformar isso num congresso aberto a mais pessoas e a mais temáticas, foi um instante. O nascimento do WFC foi, assim, para preencher uma forte lacuna que existia em Portugal – a de sabermos aceitar e lidar com os falhanços e não vermos apenas os sucessos dos outros como exemplos válidos (e replicáveis) para nós. Importava mostrar que o que realmente importa é o que se aprende quando falhamos, e não o facto de falharmos em si.
Organizar um evento sobre falhanços é como organizar outro evento do género, ainda que no caso do WFC o faça sozinha, sem equipa. Sendo o WFC realizado sem orçamento ou apoio financeiro, tudo quanto não for emprestado, é dado para o evento. Isto inclui locais, brindes (se os houver), trabalho de design e de apoio ao nível de site (entre outros). Reunir e gerir o trabalho e esforço de tantas pessoas não é feito fácil, especialmente quando não existe forma de as compensar monetariamente. Talvez seja esta a questão mais difícil de gerir, a a falta de capacidade de investimento no evento e em quem para ele contribui. Conseguir apoios financeiros para um evento sobre falhanços não é, por enquanto, fácil em Portugal. No entanto, trabalhando-se mais um pouco, arriscando-se mais um pouco, com pessoas realmente dedicadas, consegue-se sempre um bom resultado.
Em Portugal falhar é visto como algo merecedor de castigo, mas por outro lado, também penalizamos quem tem sucesso.
O futuro do WFC, após 56 oradores e muitos falhanços relativos às mais diversas profissões, talvez passe por foco num só tema (ou profissão, por exemplo), abrindo-o e falando dele sobre diversas perspectivas. Desde que possa ser útil e proveitoso, desde que possa ser explorado de forma humorada e desde que possa ajudar as pessoas, quase todos os temas são válidos. Outro caminho para o WFC é levá-lo diretamente às empresas e outras instituições, seja através de talks, ou através de consultoria especializada em gestão de falhas. Trabalhar esta questão nas empresas, ajudando a estabelecer processos que evitem falhas e fomentem um clima de maior aprendizagem, é algo que creio fazer muita falta em Portugal. Em vez de serem as pessoas a irem ao WFC, seriam os princípios e conceitos do WFC a irem diretamente às pessoas, trabalhando exemplos práticos e situações reais que necessitem de intervenção. São caminhos naturais para um conceito que tem vindo a crescer, desenvolvendo-se e evoluindo de forma tão positiva.
Mas falhar é bom ou mau? Ou as duas coisas? Dependerá sempre da perspectiva, da gravidade das consequências, da forma como lidamos com o assunto. Mas, caso haja uma postura mais positiva, mais construtiva, mais aceitante, falhar pode até ser a melhor coisa que acontece a alguém (ou numa determinada situação). Há falhanços que vêm por bem, mesmo havendo outros que são apenas isso, falhanços. A linha entre o continuar a insistir ou saber quando desistir é muito ténue e, por norma, é por não reconhecer que existe essa linha que as coisas pioram. Ninguém gosta ou quer falhar, e, sempre que possível, deve evitar-se ao máximo. Mesmo assim, estarmos cientes de que poderá acontecer e ficarmos preparados para o que possa vir é bastante mais útil para todos. Negar, esconder, castigar e culpabilizar não ajudam em nada. É uma questão cultural que temos de alterar em Portugal. Falhar é visto como algo merecedor de castigo e quem falha raramente tem uma segunda oportunidade. Não deixa de ser interessante fazermos o mesmo com o sucesso. São mais as vezes que penalizamos quem o criou e tem do que as que o louvamos (Celso Martinho, Orador do primeiro WFC: “Em Portugal, estigmatizamos o falhanços e penalizamos o sucesso” – o melhor resumo alguma vez feito à questão!).
Em vez de apontarmos o dedo a quem falha, devíamos primeiro dar a mão e ver o que é possível fazer para resolver a situação da melhor forma (nem que seja aprendendo o que não repetir nunca mais). Espero poder continuar com o evento no futuro, seja ele qual for. Acredito mesmo que estaríamos pior caso não houvesse um WFC de vez em quando para ajudar a colocar as coisas em perspetiva. Enquanto fizer sentido e Portugal precisar de melhorar o seu entendimento do assunto, haverá WFC para todos”.