Rosa Areias é licenciada em Economia pela Faculdade de Economia do Porto e em Direito pela Universidade Lusófona, e bacharel em Contabilidade e Administração pelo Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto. Tem também uma pós-graduação em Gestão e Fiscalidade pelo IESF, um MBA em Finanças pela Faculdade de Economia do Porto e um Advanced Management Programme ministrado em parceria com a Católica Lisbon e a Kellogg School of Management. Atualmente, frequenta uma pós-graduação em Business Intelligence and Analytics na Porto Business School.
A sua formação é o que primeiro sobressai no seu currículo. Gosta especialmente de estudar ou na sua área a formação contínua é vital?
Adoro aprender. Acresce a isso o facto da minha área de atuação profissional exigir uma atualização constante, não só dentro das temáticas fiscais, mas também em temáticas com as quais a fiscalidade se cruza. Obviamente, que para tal muito facilitou estar na PwC, entidade que potencia a formação contínua dos seus colaboradores.
O que a levou a enveredar pela área fiscal?
O acaso. Foi sempre uma matéria que me despertou interesse durante a licenciatura, mas estava longe de pensar que seria aí que iria ser feliz profissionalmente. Na semana seguinte, após ter terminado a minha licenciatura, já estava a trabalhar na Sonae, e três meses mais tarde estava a receber um telefonema da PwC a questionar-me se estaria interessada em entrar num processo de recrutamento para a área fiscal. Aliás, na altura lembro-me perfeitamente de ter questionado quem me ligou se existiam muitas pessoas que apenas trabalhavam nessa área na PwC. Passados três meses lá estava eu a iniciar a minha viagem na PwC.
É indiferente onde começamos a nossa experiência profissional. Tem que ser encarada como isso mesmo: uma experiência. Uma experiência cuja relevância pode ser maior ou menor consoante a vontade e empenho em que nos dedicamos a ela.
Porque fez o curso de Direito 10 anos depois de se ter licenciado em Economia?
Teve um pouco a ver com a procura contínua de novos conhecimentos, pois sempre entendi que seria algo muito importante e complementar quer ao que aprendi durante a primeira licenciatura, mas sobretudo à experiência entretanto adquirida com o desenvolvimento da minha profissão.
Trabalhou na Sonae e depois na PwC. O que considera mais interessante em cada uma dessas experiências?
São experiências em termos temporais muito diferentes: uma de seis meses e outra de quase 21 anos. Em ambas o mais interessante foi sempre a parte associada à interação com as outras pessoas da equipa. A parte técnica é a tarefa mais fácil dentro das organizações. Ao contrário, conhecer pessoas novas, encontrar o nosso espaço dentro de grupos já existentes, é algo muito desafiante. Em ambas as experiências senti-me muito feliz no meu papel.
Muitos jovens têm dúvidas entre começar a carreira numa grande consultora como a PwC ou numa grande empresa como a Sonae. O que responderia a um jovem que lhe colocasse essa dúvida?
A resposta é muito simples. É indiferente onde começamos a nossa experiência profissional. Tem que ser encarada como isso mesmo: uma experiência. Uma experiência cuja relevância pode ser maior ou menor consoante a vontade e empenho em que nos dedicamos a essa experiência. Hoje há uma procura constante pela perfeição ou por cenários ideais que para além de serem dificeis de econtrar serão necessariamente vivenciados de forma diferente consoante a pessoa que os está a viver. Portanto, o que diria aos jovens é que não há nenhuma empresa ideal, nem profissão ideal. E se porventura a primeira experiência não for tão boa quanto teriam imaginado, não vejam tal como um falhanço, mas como algo que faz parte de um processo de aprendizagem contínuo.
À medida que assumimos responsabilidades adicionais, a parte técnica perde muita relevância e a capacidade de gerir pessoas é das questões mais essenciais.
Qual o projeto mais desafiante da sua carreira?
Gerir pessoas e não defraudar as suas expetativas. À medida que assumimos responsabilidades adicionais, a parte técnica perde muita relevância e a capacidade de gerir pessoas é das questões mais essenciais. Tenho tido o previlégio de lidar com profissionais fantásticos. Sou a maestrina de uma orquestra cujos músicos têm plena consciência do seu papel, e portanto nesse papel também tenho sido uma privilegiada, mas com desafios diários.
Integra a Comissão Executiva da PwC desde julho deste ano. Qual a sua missão nesta nova função e que marca gostaria de deixar?
A minha missão é assegurar que a PwC irá continuar a ser reconhecida pelos seus colaboradores como uma excelente entidade para trabalhar e pelos seu clientes como uma entidade que age em parceria com eles e que gera confianca. Não tenho pretensões de deixar uma marca só por ter passado pela Comissão Executiva. A minha marca não tem a ver com os cargos que exerço mas com a minha forma de ser e de estar na sociedade. É a marca da confiança e da lealdade com aqueles que interajo.
Que competências e skills considera essenciais para ser uma boa profissional na sua função?
Permita-me falar em termos gerais quais são as competências e skills que considero que um profissional deve ter para ser um bom professional na área fiscal. Não me compete a mim ser juíza em causa própria. Julgo que um excelente profissional na área fiscal é alguém que se adapta facilmente à mudança, é audaz e que privilegia o trabalho em grupo.
Julgo que as mulheres não ocupam mais cargos de topo hoje em dia apenas porque não quiseram optar por tal.
Em Portugal, apenas uma das grandes consultoras é liderada por uma mulher em Portugal. Este é um setor onde a ascensão das mulheres ao topo ainda é especialmente difícil? Porquê?
Pode ser apenas por uma questão de opção. Julgo mesmo que as mulheres não ocupam mais cargos de topo hoje em dia apenas porque não quiseram optar por tal. Nunca senti qualquer tipo de limitação em termos da evolução da minha vida profissional por ser mulher e nunca senti qualquer tipo de descriminação quer por parte de clientes quer de colegas. Tenho consciência que este ambiente não é vivido em todas as organizações, limitadas muitas das vezes por questões culturais. Cabe-nos a nós mulheres mudar isso.
Quais os objetivos da PwC Portugal no que respeita à participação de mais mulheres em lugares de decisão e que medidas tem adotado para que os atingir?
A PwC não tem quotas mínimas estabelecidas. A PwC tem aumentado o número de mulheres em lugares de liderança mas tal tem decorrido apenas da meritocracia das mesmas. É uma empresa que presa a diversidade, onde as mulheres e os homens são respeitados nas suas naturais diferenças.
Que conselho deixaria a uma jovem que ambicione fazer carreira na consultoria?
Que seja ela própria. As mulheres são necessariamente diferentes dos homens e é dessa diversidade que as organizações mais podem beneficiar.