Ainda não tinha terminado o curso de Estatística e Investigação Operacional – escolhido no dia em que preencheu a candidatura à faculdade – quando entrou pela primeira vez na Europeia Seguros, para fazer um estágio. Os pais de Paula Neto trabalhavam ambos nesta área, mas confessa que “o que conhecia da atividade eram as festas de natal da companhia do meu pai, que em criança adorava”. Sem prever, o estágio abriu-lhe um leque de oportunidades. A estagiária que vinha de um curso de matemática, viu-se a trabalhar num gabinete de estudos entre juristas e advogados, o que a obrigou a “aprender a falar de números de uma forma que quem não viesse dessa origem também percebesse”. Acredita que no final do estágio tinha conseguido criar alguma apetência para números em alguns advogados, da mesma forma que eles lhe mostraram alguns dos encantos das leis. Nascera ali o gosto pela atividade seguradora que dura até hoje, 25 anos depois do convite para ingressar nos quadros da companhia.
Paula Neto, 47 anos, iniciou a carreira como atuária do ramo Não Vida e, um ano mais tarde, assumia a direção do Gabinete de Estudos Não Vida. Em 2003, foi uma das pessoas que participou na preparação da operação de venda da Europeia à Liberty. A seguradora norte-americana, fundada em 1912, entrava assim em Portugal, um dos 17 mercados onde opera diretamente e onde tem cerca de 500 colaboradores. Em 2015, depois de uma década como diretora técnica, integrou o conselho de administração da empresa, que tem como objetivo manter a Liberty no top 5 das seguradoras do ramo Não Vida.
“Sendo a mudança constante, o facto de a Liberty ser uma empresa estável dá-nos a todos uma confiança extra e ajuda-nos a procurar o extra-mile.”
Como consegue desafiar-se diariamente numa empresa em que já trabalha há tantos anos?
É verdade que trabalho nesta empresa fez em novembro passado 25 anos, tantos anos como aqueles que tenho de atividade profissional. Se o local físico é o mesmo a empresa já passou por vários nomes e vários estilos de liderança. Sendo hoje uma empresa totalmente diferente daquela que era há 25 anos ou mesmo há 15 anos.
Desafio-me todos os dias, e gosto disso, porque todos os dias o mundo muda, o mercado muda e temos de nos adaptar e alterar diariamente. Mas sendo a mudança constante o facto de a Liberty ser uma empresa estável dá-nos a todos uma confiança extra e ajuda-nos a procurar o extra-mile.
Quais as principais alterações que o cargo de administradora, que assumiu em 2015, implicaram na sua vida?
Para ser franca nenhuma. Esta questão recorda-me uma conversa que tive com o meu então chefe (e ainda atual) quando assumi, em 2005 a direção técnica da companhia. Estávamos a conversar sobre as adaptações que teria de fazer na minha gestão pessoal, achava eu na altura que seriam inúmeras, e o comentário do meu chefe foi: “parece-me que não terás de fazer grandes mudanças ‘apenas’ adaptar-te”. E a verdade é que neste ponto quem tinha razão era ele e não eu. As novas funções trouxeram mais saídas mas programei a minha vida para estar mais disponível quando estava em Lisboa. E a verdade é que tudo é conciliável.
A Liberty orgulha-se de se preocupar com o work life balance dos colaboradores. Em que medida isso é importante para si e facilitou a sua progressão profissional?
Diria mesmo que essa vertente da Liberty é em grande parte responsável pela minha progressão profissional. Mãe de 3 filhos, e mesmo com a imensa ajuda que tenho, se não houvesse da empresa a preocupação real do work life balance, algo não teria corrido da mesma forma.
Conto um episódio que se passou quando os meus filhos tinham 3, 8 e 10 anos. Ao chegar um dia ao colégio para os ir buscar (tinha sido um dia particularmente intenso na companhia) uma das professoras diz-me “ainda ontem falamos da vossa família” e eu pensei voltando vários anos atrás no tempo e sendo criança novamente ao pé de uma professora “vou ser reprendida pelas minhas múltiplas viagem”. A Maria Emilia, nome desta excelente professora, diz-me: “uma família sempre presente”. Eu sai do colégio com os três e desta vez quem vinha aos pulinhos era eu tamanha a felicidade. Sei que grande parte tem a ver com o work life balance que praticamos todos os dias na Liberty.
“O sector segurador não é um setor bem visto pela generalidade do público mas a realidade é que num momento de aflição o ter seguro pode tirar-nos uma parte do sofrimento.”
O que mais a entusiasma neste setor onde tem feito toda a sua carreira?
O serviço que prestamos à sociedade. É verdade que o setor segurador não é um sector bem visto pela generalidade do público mas a realidade é que num momento de aflição o ter seguro pode tirar-nos uma parte do sofrimento. São vários os exemplos: uma casa assaltada, a seguradora não tira a frustração da casa assaltada mas teremos o valor dos nossos bens repostos. Se temos o azar de uma doença grave, poderemos ter os nossos tratamentos pagos e não termos mais esta preocupação. E os exemplos não acabam…
Este setor atravessou inúmeras mudanças desde que começou a trabalhar na Europeia em 1992. Qual o momento mais desafiante da sua carreira e porquê?
Tive vários momentos desafiantes, uns melhores e outros piores e aprendi com todos eles. Tendo que escolher apenas um falaria da venda da Europeia à Liberty, pois participei na venda e contribui numa mínima parte para aquilo que a Liberty é hoje. Confesso que o digo com um orgulho enorme.
A Liberty está no top 5 das seguradoras não vida e registou um crescimento assinalável em 2016 (13,5%). Qual a estratégia e os objetivos da seguradora para o mercado português?
O nosso objetivo é dar aos nossos clientes segurança para que vivam a sua vida tranquila e se protejam dos riscos que corremos no dia a dia. A nossa estratégia é fazê-lo através da nossa rede de agentes profissionais e ajudar os nossos parceiros a aconselhar cada vez melhor os nossos mútuos clientes. Para conseguirmos atingir os nossos objetivos temos uma rede de colaboradores que todos os dias dão o seu melhor a apoiar os nossos parceiros (os agentes de seguros) e a servir os nossos clientes.
Quais os principais desafios que este setor enfrenta atualmente e como se está a Liberty a preparar para eles?
Existem vários desafios no mercado. Desde aumentar a rentabilidade do sector a preparar-se para novos riscos: cyber risks, economia partilhada, veículos autoconduzidos, etc.
“Se estiverem disponíveis para aprender sempre e tiverem a humildade de perceber os pontos fortes e o que devem desenvolver, com um pouco de sorte à mistura, o futuro é deles.”
Os skills necessários para fazer hoje carreira no setor segurador são diferentes do que eram quando iniciou a sua atividade? Em que medida?
Obviamente, existem hoje skills diferentes do que quando iniciei a minha atividade profissional, afinal já passaram 25 anos. Mas diria que os mais significativos continuam os mesmos: vontade de aprender, humildade, trabalhar em equipa e conciliar as diferentes tarefas.
Que conselho daria a uma jovem que queira fazer carreira no setor segurador?
O conselho que daria para uma carreira no setor segurador é o mesmo que daria para qualquer outra carreia. Que seja humilde e tenha vontade de aprender. Os jovens têm hoje uma preparação enorme mas têm igualmente, como todos os jovens, uma visão menos abrangente do que a que terão passado uns anos. Assim se estiverem disponíveis a aprender sempre e tiverem a humildade de perceber os seus pontos fortes e os que deverão desenvolver, e com um pouco de sorte à mistura é certo, o futuro é deles.