Inês Câmara e Ana Fernambuco fundaram a Mapa das Ideias ainda não tinham 30 anos. A empresa nasceu em novembro de 1999, no “rescaldo” da experiência de ambas como chefes de turno do Pavilhão do Futuro, na Expo98. “Foi ali que nasceu a vontade de construirmos um espaço para a realização de experiências e projetos nas áreas da Cultura, do Património e da Cidadania”, explicam, “ao trabalharmos conteúdos, tocamos pessoas, fomentamos memórias e afetos – criamos públicos de hoje e para o amanhã.”
Foi com os prémios ganhos na Expo 98, fruto do trabalho realizado, que financiaram parte da empresa. Mas para ajudar a transformar o sonho em realidade, Inês e Ana contaram com Isabel Neves (do Shark Tank), na altura vice-presidente da Associação Portuguesa de Mulheres Empresárias, que se revelou uma “peça essencial” , apoiando o projeto enquanto mentora e advogada. Posteriormente, a banca e a família – os apoiastes incondicionais – têm ajudado quando é preciso.
A empresa abriu caminho para outros nichos de modo a fomentar a comunicação e a interação entre museus e públicos.
Sendo a Mapa das Ideias o primeiro negócio de ambas, a “escalada” até ao sucesso nem sempre foi fácil: “Cada cliente é único, por conseguinte, temos uma grande dificuldade em criar escala com as nossas ideias”, referem. Mas ao longo dos anos, a empresa abriu caminho para outros nichos de modo a fomentar a comunicação e a interação entre museus e públicos. E foi assim que se especializou na gestão de públicos e mediação cultural, criando suportes de comunicação e interação entre museus e públicos.
Ao lado de Inês e Ana está uma equipa de 23 colaboradores focada em assegurar toda a investigação, criatividade, formação e produção de conteúdos. Porque cada projeto é exclusivo porque cada problema, coleção e museu são únicos, as empreendedoras mantêm uma estrutura leve, simultaneamente multidisciplinar e especializada, focada na investigação, conteúdos e criatividade. Trabalham com uma rede de parceiros – freelancers, empresas, associações – em áreas muito diferentes como o design, produção multimédia, animação, ilustração, Web, robótica, serigrafia e marcenaria. “A investigação e a proximidade permitem sinergias inovadoras, quer em produtos, quer em processos”, explicam.
A formação especializada para profissionais de museus e património é um dos seus pontos fortes.
Um dos pontos fortes da empresa é a formação especializada para profissionais de museus e património. Em 2003, a Mapa das Ideias iniciou o curso “Comunicar com Públicos no Museu” que – depois de uma avaliação e reformulação – deu origem, em 2008, ao curso “Mediadores Culturais: técnicos de serviços educativos nos setores da Cultural, Património, Ciência e Artes”. Este curso conheceu várias edições e é hoje a espinha dorsal da oferta formativa da empresa.
Em 2010, foi estruturada uma versão vocacionada para a criação de uma rede europeia de mediadores culturais, tendo como principal objetivo a formação e o reconhecimento da importância de profissionais especializados com relações laborais estáveis para o cumprimento da missão do museu. A empresa vai continuar a investir em projetos europeus – não apenas na área da formação – para se manter na vanguarda da museologia e da educação.
A chegada ao Museu de Marinha
Em dezembro de 2014, as duas empreendedoras abraçaram um novo desafio, a exploração da loja e cafetaria do Museu de Marinha. Desenhada para os apaixonados do mar, explorando, simultaneamente, a relação intemporal, uma das preocupações de Inês e Ana é a criação e produção de produtos nacionais para a loja. Por esta razão, trabalham com cerca de 300 fornecedores vocacionados, essencialmente, para os produtos âncora: instrumentos náuticos, medalhística, gravuras, jogos didáticos, entre outros. “O objetivo é oferecer conteúdos históricos e científicos rigorosos, que possam perpetuar a experiência do visitante e servir como reforço e lembrança dessa experiência”, partilham. A loja encontra-se fisicamente no Museu de Marinha, e em janeiro de 2017 deverá ganhar uma dimensão online.
A inovação do trabalho da Mapa das Ideias foi reconhecida este ano com o prémio “Melhor Merchandising”.
Entusiasmadas com o projeto, rapidamente as empreendedoras abarcaram também a livraria do museu. O objetivo é reunir a maior coleção de publicações relacionadas com os temas do museu, incluindo uma secção de livros raros e valiosos, “uma importante oferta que temos apostado e ampliado”. A inovação foi reconhecida quando, este ano, a loja e livraria foram distinguidas com a atribuição do prémio “Melhor Merchandising” pela Associação Portuguesa de Museologia.
Esta necessidade de crescimento e abrangência de inúmeras e diversificadas áreas de trabalho advém do objetivo principal das fundadoras: “pretendemos manter-nos na vanguarda da museologia e da educação, cruzando os limites institucionais dos museus, escolas e outras instituições sociais, transgredindo os tabus, contradizendo preconceitos”. No seu horizonte está a expansão sustentada do projeto de “museum retail” – criação de mais lojas de museus e a distribuição de produtos de qualidade. E querem continuar a desenvolver as áreas da cultura de investigação e consultoria dentro da empresa e das organizações parceiras em Portugal, para que nos próximos anos se torne possível a expansão para fora da União Europeia. Mas para Inês e Ana estas ambições só são possíveis sob a premissa de serem “felizes a trabalhar”, estado de espírito que as tem acompanhado ao longo desta jornada.
AS ÁREAS-CHAVE DA MAPA DAS IDEIAS
Fundada com o objetivo de fazer comunicação para museus, a experiência acumulada ao longo dos anos permitiu à empresa abrir caminho para outras valências no sentido de fomentar a relação entre museus, público e comunidades. Hoje a sua atividade desenvolve-se, sobretudo, em quatro áreas.
. Gestão cultural e Gestão de públicos, da qual se destaca a criação de serviços educativos e de design expositivo para instituições culturais, assim como o trabalho desenvolvido em conjunto com o Museu Nacional do Traje e o Museu da Água da EPAL, o qual foi reconhecido através da atribuição de dois prémios da APOM (Associação Portuguesa de Museologia) em categorias distintas – na de “Melhor Serviço de Extensão Cultural 2011”, com o Museu Nacional do Traje; e na categoria “Melhor Serviço de Extensão Cultural 2012”, com o Museu da Água da EPAL.
. Marketing e comércio para museus, que incide na aposta da cultura em criar serviços complementares através de sinergias com produtores/fornecedores também portugueses (Vista Alegre, Antiflop, Mesa Board Games, Ponto M), no sentido de proporcionar uma experiência mais alargada para o público das lojas de museus. Neste contexto, é de salientar o desempenho da Mapa das Ideias na vertente de gestão da Cafetaria e da Loja do Museu de Marinha. Um duplo exercício que se traduz numa espécie de laboratório vivo que permite aperfeiçoar as metodologias de marketing e retalho para museus.
. Formação especializada para profissionais de museus e património conta com mais de uma dezena de cursos para especialistas no nosso país, assim como a criação de uma plataforma europeia assente na formação de mediadores de museus – Museum Mediators Europe.
. Experiências para museus e ferramentas educativas, as quais integram exposições itinerantes, exposições museológicas, instalações, jogos e maletas pedagógicas criadas pela Mapa das Ideias.