Reconhece que um dos seus maiores ativos é o muito que aprendeu numa empresa como a Sonae, que procura continuamente a inovação e aposta na formação dos colaboradores. Do seu lado, só precisava da sua curiosidade inata e muita vontade de aprender todo o conhecimento que puseram à sua disposição. Quando chegou a altura certa, concretizou o sonho: lançou o seu negócio. A EA DigitalFlow obrigou-a a recomeçar e a fazer mais com menos, mas a sua experiência tem sido muito valorizada no mercado. Natália Reis conhece as dores e os ganhos do crescimento, bem como “os riscos e os contravapores” e, por isso, está preparada para ajudar os clientes a definirem o melhor caminho para a transformação digital ou modernização processual das suas empresas.
Depois de uma carreira de quase três décadas na Sonae decidiu lançar-se por conta própria. O que a levou a dar esse passo e quais as principais questões que equacionou antes de tomar a decisão?
Construir o meu próprio negócio foi algo que sempre sonhei. E em paralelo com isso, sempre foi claro para mim que não queria que fosse a empresa a sentir que eu já não fazia parte dela, pelo que seria eu a escolher o momento certo para a minha saída. Quando atravessei uma fase menos boa em termos de saúde, o meu propósito de vida tornou-se cada vez mais evidente, no sentido em que sabia que existia outra vida para além daquela e eu quero vivê-la. Não me imaginava, de todo, a terminar a minha vida profissional e viver de uma reforma. Sentia vontade de mudar, desafiar o meu futuro pessoal e profissional com o intuito de melhorar não só o meu bem-estar como o dos que me rodeiam. Sempre gostei de ser proativa. Saí ativa, num momento decidido por mim, e pronta para novas aventuras e criar algo meu.
Temos que dominar mais do que aquilo que aprendemos ao longo de uma vida. Somos desafiados todos os dias, somos presenteados todos os dias também.
Em que medida a sua experiência anterior a preparou para esta nova etapa?
Sempre fui muito curiosa e disponível para aprender e abraçar novos projetos na empresa. Isso aliado ao facto de trabalhar numa empresa como a Sonae, que procura continuamente a inovação e aposta na formação dos seus colaboradores, foi a minha grande oportunidade de alargar os meus conhecimentos. Em 1989, comecei a trabalhar no departamento de contabilidade e, no decorrer destes 26 anos, tive o privilégio de assistir e fazer parte da evolução e modernização dos seus processos de negócio. Pioneira em muitas coisas, a Sonae permitiu-me conviver com realidades tecnológicas e processuais de vanguarda ao longo dos anos. É uma empresa que sempre procurou formas inovadoras e mais otimizadas de fazer o trabalho. Trabalhávamos para processos cada vez mais paperless e touchless, este caminho é algo que se faz continuamente e é algo que só se torna possível quando se atinge o alinhamento perfeito entre processos, pessoas e tecnologia. O que muitas empresas estão agora a começar a fazer – digitalização, desmaterialização, gestão documental – eu já vivi há muitos anos e essa é uma das características que os meus clientes valorizam em mim e na empresa que lidero. Sabem que conheço as dores de crescimento e os ganhos, conheço os riscos e os contravapores. Nesse sentido, a minha experiência anterior preparou-me para, lado a lado com o meu cliente, definir o melhor caminho para a transformação digital ou modernização processual da sua empresa.
Outra grande aprendizagem foi saber lidar com pessoas. Dizem que as empresas são as pessoas que dela fazem parte, por isso é que é incontornável falar em negócio e organizações e falarmos em pessoas. Quando eu falo em pessoas falo em todas, mesmo todas, as pessoas. A empresa precisa que todas as pessoas estejam alinhadas com a visão, a cultura e os objetivos da organização. As pessoas precisam de saber que a empresa precisa delas, precisam de ser ouvidas (há tantas boas ideias perdidas), precisam de ser conhecidas (há tantos peixes que são julgados pela sua capacidade de voar) e, principalmente, precisam de ser envolvidas. O sucesso de qualquer projeto de transformação e inovação de uma empresa está intimamente ligado com o envolvimento e compromisso dos seus colaboradores. Deve fazer parte do dever da empresa ajudar as suas pessoas a alcançar os seus objetivos, da mesma forma que esperamos que os colaboradores trabalhem em prol dos objetivos da empresa. É uma estrada de dois sentidos.
Quais as grandes diferenças que sentiu entre trabalhar por conta de outrem e ser dona do seu negócio?
As grandes diferenças, a meu ver, são duas: a liberdade e a polivalência. Ser dona do meu próprio negócio deu-me liberdade para construir uma empresa com uma visão e com valores que são os meus: trabalhar com responsabilidade, transparência e entusiasmo, sempre ao lado do nosso cliente nesta jornada contínua de transformação que é a vida e o negócio. Abraçar este meu novo projeto pessoal que é a EA DigitalFlow obrigou-me também a trabalhar a minha versatilidade, no sentido de fazer mais com menos. Temos que dominar mais do que aquilo que aprendemos ao longo de uma vida. Somos desafiados todos os dias, somos presenteados todos os dias também.
Sempre tive o apoio da família ao longo de todo o meu percurso profissional, pelo que nesta nova etapa, a família integrou também o negócio. Com percursos profissionais e competências distintas, a minha filha Rita abraçou este projeto comigo. Depois de terminar a licença de maternidade do segundo filho, propus-lhe acompanhar-me nesta aventura. Partilhamos a mesma forma de ver o cliente, o mesmo sentido de responsabilidade e brio profissional. A Rita teve um percurso mais eclético no que toca a setores de negócio por onde passou e é apaixonada pela comunicação. E especialmente numa área como a nossa, a comunicação faz toda a diferença, já que temos que saber comunicar com o empresário, com o departamento de TI, com o chão de fábrica, com os nossos parceiros.
Em suma, ser dona do meu próprio negócio é uma aventura de desafios, reconhecimentos, relacionamentos e parcerias que me fazem sentir que estamos no caminho certo. O meu entusiamo deve-se a isso mesmo, ao saber que estamos a mudar o dia-a-dia das pessoas, estamos a dar qualidade de vida, estamos a modernizar as nossas empresas.
Toda a experiência profissional e conhecimento de novas tecnologias é a principal das minhas competências e que transmito no meu dia a dia aos meus clientes.
Quais os principais desafios que tem enfrentado nesta nova etapa da sua vida profissional?
O primeiro, que é também o maior e o menos esperado, foi a situação pandémica que vivemos. Foi um obstáculo, mas, ao mesmo tempo, veio sublinhar a importância do nosso trabalho. Hoje as empresas percebem de forma muito concreta qual é o impacto de não investir na modernização dos seus processos de negócio e na qualidade de vida dos seus colaboradores. Como na EA DigitalFlow trabalhamos em grande proximidade com o cliente, com foco nas suas necessidades que são únicas, para nós é também um desafio o ajustarmo-nos às expectativas e à realidade de cada um. Desmistificar crenças e fazer toda a gestão da mudança é o maior desafio nos projetos de transformação que lideramos.
Que competências e características pessoais mais a têm ajudado nesta nova etapa?
Relativamente às competências mais técnicas, sem dúvida que toda a experiência profissional e conhecimento de novas tecnologias é a principal das minhas competências e que transmito no meu dia a dia aos meus clientes. Relativamente às características pessoais destaco a empatia (coloco-me sempre no lugar da outra pessoa que tanto pode ser um cliente, como parceiro e tento ver as situações a partir da minha perspetiva independente), a resiliência (às vezes, mais do que paciência, é preciso persistência, aprendi que o sucesso pode não vir na primeira, na segunda e nem na terceira tentativa, mas não desisto e aprendo com os erros do caminho), a ética (é algo que para mim não tem preço, considero que o desonesto até pode alcançar o sucesso mais rapidamente, mas a qualquer momento vai perder o mesmo, incluindo a reputação, com a mesma rapidez que a conquistou) e a sinceridade (por muito difícil que seja dizer a verdade, será sempre melhor que mentir. A sinceridade é a base de um relacionamento duradouro, seja ele de que natureza for).
Não corra o risco de achar que consegue saber e fazer tudo. Melhor do que saber fazer, é saber quem faz bem.
Quais as aprendizagens mais surpreendentes que fez neste percurso?
A constatação mais surpreendente foi, sem dúvida, o poder de adaptação das empresas portuguesas, o esforço dos seus colaboradores que apesar de não possuírem os recursos necessários conseguem entregar valor, muitas vezes com o prejuízo de trabalharem de forma obsoleta. Voltei a sentir o tão antigo “vestir da camisola”. Outra aprendizagem que foi reforçada foi que o principal catalisador de toda e qualquer mudança nas empresas são as pessoas. Aprendi que não é a tecnologia, não são os recursos, por si sós, mas sim o Capital Humano que faz acontecer.
Que conselhos deixa a quem pretenda lançar um negócio depois de uma carreira por conta de outrem?
- Nunca desista dos seus sonhos e esteja ciente do seu propósito de vida. Procure sempre sentir-se feliz e realizada com aquilo que faz.
- Capitalize conhecimento e experiência e esteja disponível para arriscar sempre.
- Não corra o risco de achar que consegue saber e fazer tudo. Melhor do que saber fazer, é saber quem faz bem.
- Os contactos e o networking que se vai fazendo ao longo da vida profissional têm um valor incalculável, alimente os bons contactos, não se esqueça dos maus. Os maus contactos também são valiosos, são com eles que descobrimos aquilo que não queremos ser.
- Escolha os parceiros certos para caminharem ao seu lado, como diz Warren Buffett “não é possível fazer um bom negócio com uma má pessoa”.
- Por fim, não tenha medo de partilhar. Partilhe tempo, conhecimento, contactos. É o dever de qualquer consultor, partilhar experiência e know-how com vista à autonomia do seu cliente. Os frutos desta partilha são inestimáveis.