Natural de Armação de Pêra, no Algarve, foi em Londres que Lúcia Ribeiro viveu mais de metade da sua vida e se formou em Gestão Internacional. Trabalhou na banca e em restauração antes de se aventurar na cozinha. Em 2012 seguiu o seu instinto e investiu num curso de cozinha no Algarve, região que ainda hoje a apaixona. Incentivada pelos formadores, regressou a Londres, onde frequentou um curso de Alta Cozinha, no conceituado Le Cordon Bleu.
Durante quatro anos Lúcia Ribeiro colaborou com nomes sonantes da cozinha, como Gordon Ramsay, Paul Walsh, Claude Bosi e Dieter Koschina. O percurso londrino acabou por lhe abrir portas para regressar a Portugal, onde trabalhou com Dieter Koschina, no Vila Joya, antes de ser Head Chef do MIMO Algarve, no Pine Cliffs Resort, em 2018, onde dirigiu aulas de culinária e experiências gastronómicas, como supper clubs ou showcookings.
Antes de se lançar a solo, em 2023, com um restaurante em nome próprio, Taberna by Lúcia Ribeiro, em Almancil, apresentou o programa Cozinhamos Contigo, do canal Casa e Cozinha, deu formação na Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo de Faro e foi Executive Chef do espaço Morgado do Quintão, em Lagoa.
O que a fez trocar o mundo das finanças pelo da restauração?
São vários os fatores que me levaram a esta mudança. A paixão pela comida e pela metodologia de cozinhar, está na génese, uma vez que esse gosto já corria nas veias das mulheres da minha família. Depois, a possibilidade infinita de ingredientes e técnicas que temos à disposição para aprender de forma constante. Não menos importante, o gosto genuíno por reunir pessoas em torno da comida — e, em Portugal, felizmente, temos muito essa cultura. Por último, a dedicação e persistência pela perfeição que são essenciais nesta área, e parte intrínseca da minha personalidade.
Como se prepara uma mudança de vida tão grande?
Com ponderação e de forma faseada e suportada pela família. Na altura era casada, já tinha dois filhos, e foi muito difícil estabelecer novas rotinas. Sou uma pessoa muito organizada no meu trabalho, por isso era imperativo que a mudança fosse feita de forma suave.
Com que funções entrou no setor da restauração e como foi o seu percurso até se tornar Chef?
A formação académica esteve na base do meu percurso. Foi essencial para aprender técnicas, aprofundar conhecimentos e melhorar o meu entendimento sobre o setor. Tirei um curso de 200 horas na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, seguido de um diploma de Cuisine, no Le Cordon Bleu, em Londres. Quando terminei, tive a sorte de integrar a equipa de um restaurante com estrela Michelin, o City Social, onde comecei a minha carreira como Commis Chef.
Quais os maiores desafios que tem enfrentado na restauração?
Ser mulher num mundo (ainda) de homens. Trabalhar perante uma estrutura hierárquica rígida, onde assistimos a uma grande procura pela progressão e aprendizagem. Gerir a elevada carga horária.
O que mais gosta na sua área?
Tenho de admitir que gosto de dominar tudo o que a minha área envolve. Adoro inventar receitas e também de recriar receitas até à perfeição. Estou sempre à procura de melhorar o que já sei/faço, e de aprender novas técnicas. Preocupo-me ainda em maximizar o meu tempo e ensinar as equipas a gerir o seu, tendo em vista uma maior eficiência.
A pressão é muita e as horas são longas. Além disso, muitos sítios trabalham com horários repartidos, que dificultam a gestão de vida pessoal e familiar. Há mulheres que conseguem combinar o ser mãe com o ser Chef, e eu sou um exemplo. Mas muitas grandes mulheres na nossa indústria decidiram não ter filhos.
Um Chef é um líder na cozinha. Já se sentia líder ou teve de se desenvolver também nessa área? Qual o seu estilo de liderança?
Um Chef deve, de facto, ser um líder na cozinha, mas nem todos temos esse perfil no ADN! Gerir uma equipa não é fácil e conseguir ajudar e desenvolver uma equipa é muito desafiante.
Eu sou flexível. Costumo dizer que somos todos uma família, até porque, muitas vezes, passamos mais tempo juntos do que com a nossa própria família. Gosto de ensinar e aprender, por isso todos os dias são um novo dia de aulas, e isso dá-me muito prazer.
De alguma forma sempre me senti uma líder, já que quando cheguei ao mundo da cozinha tinha 32 anos, e a idade trazia-me alguma maturidade, quando comparada com colegas mais novos.
Quando olhamos para os currículos dos Chef vemos que mudam com muita frequência, ou seja, têm de estar sempre a adaptar-se a novas formas de trabalhar e a novas equipas. Quais as skills necessárias para se ser bom nesta área?
Como eu costumo dizer, cada Chef tem a sua mania. As técnicas são tantas que podem (e devem) ser utilizadas de maneiras diferentes. Mas um bom Chef adapta-se a trabalhar com qualquer Chef, até porque nesta área temos de ser flexíveis e ter humildade suficiente para estarmos em constante formação.
Temos de ser metódicos, querer aprender e ensinar… tudo isto enquanto somos líderes. Mas a verdade é que não somos nada sem a nossa equipa. Concordo totalmente com o que aprendi em tempos num restaurante onde trabalhei em Londres: there is no I in a team, e tento por essa máxima em prática todos os dias.
Por que continua a ver-se tão poucas mulheres nas cozinhas e, especialmente, como Chef?
A pressão é muita e as horas são longas. Além disso, muitos sítios trabalham com horários repartidos, que dificultam a gestão de vida pessoal e familiar. Quando, em determinada fase da vida, as mulheres querem constituir uma família e, eventualmente, ser mães, muitas vezes, o desafio de conciliar os estilos de vida fá-las desistir da cozinha.
Claro que há mulheres que conseguem combinar o ser mãe com o ser Chef, e eu sou um exemplo. Mas muitas grandes mulheres na nossa indústria decidiram não ter filhos.
O que diria a uma mulher que ambicione tornar-se Chef?
Se realmente quiseres, tu consegues. Não desistas perante o primeiro obstáculo!