A experiência do teletrabalho foi tão dramática na primeira fase da pandemia que o governo francês decidiu manter as escolas abertas no confinamento que se inicia no dia 2 de novembro. Um pouco por todo o mundo, Portugal incluído, foram muitas as queixas de mães e pais que não conseguiam ser produtivos ao mesmo tempo que tinham de acompanhar os filhos nos deveres escolares ou, simplesmente, manter os mais novos entretidos e distantes do computador para conseguirem trabalhar. A missão foi, porém, mais dura ainda para as mães em teletrabalho que, segundo alguns estudos trabalhavam mais 20 horas por semana do que os pais nas mesmas circunstâncias. Não é o teletrabalho que está em causa, mas sim o teletrabalho com toda a família em casa. Não é difícil de perceber que a produtividade de muitas mulheres foi seriamente afetada, que a sua energia foi consumida até à exaustão e que muitas sentem que a sua carreira tem sido seriamente prejudicada ao longo deste ano.
A pensar nesta questão, a Harvard Business Review publicou um artigo sobre como os homens podem apoiar as colegas, mesmo à distância. São dicas simples de colocar em prática que pode partilhar com os seus colegas e amigos.
Garanta que as mulheres são ouvidas nas reuniões
As mulheres têm mais tendência a seguir a regra de que só se fala quando os outros se calam ao contrário dos homens que começam a falar por cima de outra voz quando querem acrescentar ou contrapor uma ideia. Em reuniões virtuais intervir numa discussão ou numa apresentação a um cliente pode tornar-se ainda mais desafiante para as mulheres. Se conhece bem a sua equipa pode ajudar as mulheres a tomar a palavra com naturalidade. Quando terminar de expor a sua ideia passe a palavra a uma delas, com uma frase do género “Esta é a minha opinião, mas acredito que a Cristina pode acrescentar algo pois tem mais experiência nesta área”. Ou se nota que uma colega pode contribuir para uma discussão mas se mantém em silêncio, interrompa os seus pares masculinos e faça-a entrar na conversa: “A Raquel costuma ter uma perspetiva diferente sobre este assunto. Vamos dar-lhe espaço para dar o seu contributo”.
Integre e apoie as mulheres
Muitas vezes as mulheres não se sentem integradas em ambientes muito masculinos. Mesmo que sintam que o seu trabalho é valorizado, a sua opinião não é regularmente solicitada nem são desafiadas a participar nas discussões. O teletrabalho pode acentuar ainda mais essa sensação de não pertença ao grupo, de isolamento e de criar incerteza sobe as oportunidades de progressão profissional.
Para evitar que este sentimento se agrave deixe claro às mulheres à sua volta que podem falar consigo sempre que tiverem necessidade e responda rapidamente quando lhe colocarem uma questão. Pratique o equivalente a uma política de portas abertas aplicada ao trabalho remoto.
Por outro lado, não hesite em apoiar e promover as mulheres mais talentosas que trabalham consigo. Poucos homens o fazem, mas este é um gesto que pode dar uma grande ajuda na carreira. Não se trata de “meter cunhas” ou “pedir favores” para uma amiga, mas sim de sugerir uma mulher para um projeto ou para uma promoção quando sabe que ela tem competência para tal. As mulheres não só tendem a crer que não estão preparadas para novos desafios, como muitas vezes não fazem parte da esfera do poder onde esses temas são conversados em primeira mão.
Seja transparente
Se em circunstâncias normais muitas informações não chegam às mulheres, que estão geralmente mais focadas em fazer o seu trabalho e menos em fazer networking eficaz com os colegas – que é uma boa forma de ir ficando a par das novidades da empresa antes mesmo de elas serem oficialmente comunicadas para todos -, em teletrabalho as mulheres ficam ainda mais à parte.
Durante o confinamento muitos empregados se queixaram de não terem sido informados sobre os negócios que se ganharam e os que se perderam, de movimentos de pessoal e de decisões sobre recursos humanos, como oportunidades de promoção, de formação ou mesmo alterações nos benefícios. O desconhecimento do que se passa na empresa causa insatisfação e insegurança.
O trabalho remoto requer cuidados redobrados na comunicação para que todos tenham a certeza de que estão informados sobre o que de mais importante se está a passar na empresa. Se essas informações estiverem a ser transmitidas em reuniões virtuais ou em emails, garanta que todos são incluídos e crie espaços como almoços ou reuniões virtuais mais informais para conversar sobre os temas e permitir que fiquem devidamente esclarecidos.
Distribua uniformemente o trabalho invisível
Está provado que as mulheres se voluntariam com mais facilidade para fazer tarefas que não são habitualmente valorizadas e que acabam por as assumir muito mais vezes do que os homens. Procure garantir que estas tarefas são distribuídas por todos de forma equitativa e não sempre para os mesmos. Quando uma mulher se propõe fazer mais uma vez a ata da reunião, evite que tal aconteça pois sabe que dessa forma dificilmente ela vai participar na discussão de forma ativa e perde mais uma oportunidade de mostrar a sua mais-valia no grupo e na empresa. A melhor forma é criar uma escala para estas tarefas necessárias mas “invisíveis” poupando perdas de tempo a decidir quem faz o quê e quando e garantindo que todos, mulheres e homens, serão convocados a fazê-las.
Para garantir que não há retrocessos no caminho da igualdade de género é preciso estar muito atento ao teletrabalho pois as mulheres continuam a ter desafios únicos que se podem agravar nesta fase.