A Google, Goldman Sachs e a Medtronic são só algumas das empresas que que introduziram a meditação e outras práticas de mindfulness junto aos seus colaboradores. Segundo os executivos destas e outras companhias, a meditação funciona como ferramenta de redução do stress, e ainda potencia a criatividade.
Os investigadores Emma Schootstra, Dirk Deichmann e Evgenia Dolgova, da Escola de Gestão da Erasmus University em Roterdão (Holanda) conduziram algumas experiências a este propósito, a propósito das quais escreveram num artigo para a Harvard Business Review. E chegaram a conclusões interessantes.
Potenciar a criatividade e inovação
Muitos executivos adotaram a meditação porque descobriram que os ajuda a mudar o “chip” rapidamente, quando o stress se acumula. Segundo os investigadores, diversas pesquisas anteriores demonstram que o mindfulness pode ter muitos efeitos positivos na produtividade: a sua prática regular potencia a resiliência, permitindo-lhe aliviar o stress, regular as emoções e ter uma perspetiva mais positiva, essencial para ultrapassar obstáculos. Quem pratica meditação mindfulness regularmente tem uma “arma” extra para lidar com as reações “fight or flight” (lutar ou fugir), típicas de estados de stress, o que as ajuda a adotar uma postura mais refletida, fundamental para a tomada de decisões ponderadas.
No livro Mindfulness for Creativity, o autor Danny Penman defende que as práticas mindfulness potenciam três qualidades necessárias para a resolução de problemas criativos: estimulam o pensamento divergente, abrindo a sua mente a novas ideias; melhora a atenção e facilita o registo da novidade e utilidade das ideias, e ainda potencia a resiliência face ao ceticismo e aos contratempos —essencial para poder inovar.
Dez a 12 minutos são suficientes
Para comprovar estas teorias, os investigadores levaram a cabo uma experiência. Cento e vinte e nove participantes, todos estudantes, foram divididos em três grupos. Foi-lhes depois pedida uma tarefa criativa: gerar o maior número possível de ideias comerciais para a utilização de drones. Antes da sessão de brainstorming, um dos grupos participou numa meditação mindfulness orientada por áudio, durante 10 minutos, e um segundo grupo participou, também por 10 minutos, num exercício falso de meditação — foram instruídos para pensar livremente, deixando a sua mente vaguear. O terceiro grupo começou imediatamente o brainstorm.
Cada um dos três grupos produziu aproximadamente o mesmo número de ideias, e a dimensão da sua descrição era semelhante. Mas quem meditou conseguiu apresentar um espectro criativo mais alargado: em média, as ideias dos participantes dos dois grupos de “não-meditadores” recaíram apenas em duas categorias, em contraste com a média de quatro categorias dos meditadores. Enquanto os participantes dos grupos não meditadores pensaram em soluções mais lineares para o uso dos drones, como filmagem ou distribuição, os meditadores lembraram-se de soluções que iam do verdadeiramente viável e inovador, como jardinagem (corte de árvores, rega de flores) e segurança (combate aos fogos), ao plausível (lavar janelas) e até descabido (alimentar girafas).
Segundo os investigadores, é possível, sim, “ter melhores ideias, decidir de forma mais acertada e melhorar o humor, tudo no mesmo período de tempo que demora a tomar um café”.
Também concluíram que uma meditação curta resultava num estado mental mais relaxado e positivo. No grupo que meditou, a maioria das pessoas reduziu os sentimentos de inquietude em 23%, de nervosismo (em 17%) e irritação (em 24%).
Conduziram então uma segunda experiência com um grupo de 24 diretores de inovação seniores de uma grande organização de investigação holandesa. Meditaram também durante 12 minutos para depois geraram ideias sobre como criar uma cultura mais inclusiva na organização. A maioria dos participantes afirmou que a meditação os ajudou a limpar a mente, focando-se mais na tarefa em mãos e em produzir soluções originais.
“Ter melhores ideias, decidir de forma mais acertada e melhorar o humor, tudo isto no mesmo período de tempo que demora a tomar um café? Os nossos estudos sugerem que sim”, concluem os investigadores.
Para testar as práticas mindfulness na sua produtividade laboral, nada como descarregar um dos muitos cursos disponíveis online. Mas também pode experimentar um exercício simples, sugerido pelos investigadores da Escola de Gestão da Erasmus University em Roterdão:
- Encontre um local onde não será perturbado.
- Sente-se numa posição confortável e ligue um temporizador.
- Feche os olhos suavemente.
- Pergunte a si mesmo o que é que está a experienciar e observe os seus sentimentos, sensações e pensamentos.
- Desvie a sua atenção para o seu corpo e foque-se nas sensações das partes do corpo que tocam a cadeira ou o chão.
- Desvie a sua atenção para a barriga e observe as suas sensações. Foque-se no modo como se expande com cada respiração.
- Observe melhor a sua respiração sem a alterar.
- A dado momento, a sua mente irá naturalmente vaguear.
- Quando se aperceber que a sua mente já não está focada no presente, reconheça-o como um momento de consciência e desvie a sua atenção novamente para a sua respiração.
- Agora foque-se em todo o seu corpo, sobretudo na sua postura e face. Quando estiver pronto – ou quando o temporizador o relembrar que deverá voltar ao trabalho – abra os olhos.