Maria Manuel Silva, a professora universitária que apostou num agroturismo de luxo na Serra da Estrela

Maria Manuel Silva, professora de Ciências Farmacêuticas na Universidade de Coimbra, e o marido, Nuno Bravo, engenheiro civil, compraram uma casa em ruínas que hoje é um empreendimento turístico numa pequena aldeia de montanha, no Parque Natural da Serra da Estrela.

Maria Manuel Silva é Professora da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e empresária, sendo sócia das Casas da Lapa.

Em 2001, Maria Manuel Silva, professora de Ciências Farmacêuticas na Universidade de Coimbra, e Nuno  Bravo, engenheiro civil, trouxeram de Itália a ideia de criar um agroturismo. O casal adquiriu uma casa na aldeia natal do marido, Lapa dos Dinheiros, próximo de Seia, na Serra da Estrela. Da recuperação dessa casa em ruínas, datada de 1832, nasceram as Casas da Lapa,  com seis quartos e piscina exterior.

O casal de proprietários foi adquirindo e reabilitando outras casas e, em 2007, adquiriram o empreendimento Casas do Soito, na mesma aldeia. Em 2015 decidiram realizar uma remodelação substancial, empreitada que ficou concluída em 2020. As casas reabriram renovadas e classificadas com 5 estrelas, mas as expectativas foram inicialmente frustradas pelos efeitos da pandemia nos negócios turísticos. Hoje este empreendimento oferece 7 quartos e 8 suítes, três piscinas — uma delas interior —, spa, restaurante, biblioteca e sala de cinema. Enquadrado no Parque Natural da Serra da Estrela, este projecto ajuda a posicionar as Aldeias de Montanha e a Serra da Estrela como destino turístico de luxo, enquadrado no aumento da procura turística de áreas rurais e naturais. “O valor paisagístico e cultural da Serra da Estrela é enorme e está ainda largamente desconhecido. Assim, acredito que enquanto produto turístico a Serra da Estrela continuará a crescer, sobretudo em qualidade”, afirma Maria Manuel Silva.

 

Como surgiu a ideia de um alojamento turístico e porquê em Lapa dos Dinheiros?

A Lapa dos Dinheiros é a aldeia natal do Nuno, meu marido, e foi sempre para nós um lugar muito especial, um tesouro escondido. Estávamos em Itália, onde eu estava a fazer parte do meu doutoramento, quando, tendo visitado alguns “agriturismos”, começámos a planear comprar uma casa em ruínas na Lapa dos Dinheiros para recuperar e desenvolver um projeto turístico.

Trata-se, portanto, de um sonho meu e do meu marido. De facto, conseguimos concretizá-lo e abrir numa pequena aldeia de montanha, em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, um hotel de 5 estrelas.

 

Como arrancaram com o negócio? Que investimento representa?

Numa primeira fase, em 2006, as Casas da Lapa tinham uma dimensão bem menor. Em 2020 reabriram, após um período de obras de renovação e ampliação, com todas as valências para atingir um patamar de excelência.

O investimento em 2006 foi de 400 mil euros e, em 2020, foi de 1,5 milhões de euros. O financiamento foi comunitário e maioritariamente pessoal.

Qual o maior desafio que enfrentaram até hoje e como lidaram com ele?

Construir um edifício com grande exigência arquitetónica dentro da malha urbana de uma aldeia de montanha, com uma empresa de construção local, foi um desafio enorme. Exigiu resiliência e bastante diplomacia junto da entidade bancária e do Turismo de Portugal. Como acreditámos sempre no projeto, acho que conseguimos convencer todos à nossa volta de que valia a pena lutar por este sonho.

 

Nestes 15 anos, como evoluiu o projecto?

Na primeira fase, em 2006, as Casas da Lapa tinham seis quartos, em 2008 já tinham oito quartos. A qualidade do espaço e do serviço já se destacava na altura e as Casas da Lapa foram objeto de muitas reportagens em jornais e revistas.

Após um período de obras, reabriram em 2020 com 15 quartos e suites, spa, restaurante, biblioteca, piscina interior, sauna e banho turco, bem como duas piscinas exteriores e uma cascata natural que confina com a propriedade.

[Os confinamentos impostos pela pandemia] foram períodos difíceis que conseguimos superar graças ao facto de termos outros negócios. O nosso optimismo e a resiliência que fomos ganhando ao longo dos anos também ajudaram.

 

Como lidaram com o confinamento, imposto pela pandemia da Covid-19?
Após um longo período de obras, o hotel ficou pronto em março de 2020. Nem queríamos acreditar quando a pandemia COVID-19 surgiu. Assim, o hotel ficou pronto e fechado até Junho. Durante grande parte deste período nem conseguíamos perceber se o turismo ía reabrir em 2020.
Como se tratava de um negócio novo, não tivemos apoios à quebra de facturação (efectivamente não havia quebra de facturação) nem à manutenção de postos de trabalho (tínhamos mantido apenas um posto de trabalho durante o período de obras). Portanto, havia já muitas despesas a decorrer, compromissos assumidos, expectativas adiadas, muita incerteza e angústia.
O segundo confinamento, de Janeiro a Abril de 2021 foi ainda mais difícil porque, mais uma vez, as ajudas estatais reportavam-se à facturação e aos postos de trabalho de Fevereiro de 2020. Nessa fase os compromissos salariais e financeiros eram maiores. Foram períodos difíceis que conseguimos superar graças ao facto de termos outros negócios. O nosso optimismo e a resiliência que fomos ganhando ao longo dos anos também ajudaram.

 

Quando e como conseguiram ter 5 estrelas?

Esta classificação foi obtida em outubro de 2021 e resulta da qualidade das instalações e da qualidade dos serviços prestados. É um reconhecimento importante e uma responsabilidade.

 

Quantas pessoas empregam? 

Temos atualmente 17 colaboradores. A maioria é da região, mas temos colaboradores do Brasil, Nepal e Angola. Considero que a multiculturalidade é uma mais-valia para as equipas.

A dificuldade em encontrar mão-de-obra surge por vezes, mas é pontual. O bom ambiente na equipa, a entreajuda, a generosidade e a cortesia são constantemente fomentados por nós. Como resultado, temos uma equipa bastante estável, com pessoas de todas as idades, como uma família.

Tenho a sorte de ter nas empresas equipas empenhadas, nas quais posso delegar as tarefas que consomem mais tempo. Considero que conciliar se resume a duas coisas: saber atribuir prioridades às várias tarefas que estão planeadas e às que surgem inesperadamente, e saber delegar nas pessoas certas.

 

Como concilia as suas diferentes actividades profissionais? 

Tanto eu como o meu marido temos as nossas profissões à margem das Casas da Lapa, pelo que não estamos presentes no dia a dia do funcionamento do hotel. Sou professora da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, o que exige bastante dedicação às atividades de ensino e de investigação. Além disso, tenho ligação a outras empresas familiares, nomeadamente uma farmácia.

Sou sócia das Casas da Lapa e não tenho funções executivas, mas acompanho de muito perto os projetos, a estratégia, a decoração, a equipa e todo o desenrolar da operação. A equipa funciona com grande empenho e autonomia. A atividade empresarial só é possível porque tenho a sorte de ter nas empresas equipas empenhadas, nas quais posso delegar as tarefas que consomem mais tempo. Considero que conciliar se resume a duas coisas: saber atribuir prioridades às várias tarefas que estão planeadas e às que surgem inesperadamente, e saber delegar nas pessoas certas. Em média, dedico um a dois dias por semana às Casas da Lapa.

 

Qual a vossa expectativa para o turismo de montanha na serra da Estrela? 

O valor paisagístico e cultural da Serra da Estrela é enorme e está ainda largamente desconhecido. Assim, acredito que enquanto produto turístico a Serra da Estrela continuará a crescer, sobretudo em qualidade.

 

Qual o seu sonho para o futuro das Casas da Lapa?

As Casas da Lapa são um projeto em contínuo crescimento. Há sempre valências a acrescentar, atividades a implementar, obras de arte para comprar. O meu sonho é que as Casas da Lapa se afirmem em Portugal e fora de Portugal como um reduto de autenticidade e de conforto, um destino de evasão e de descanso, um ponto de partida para descobrir a Natureza onde se inserem.

 

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