Texto de Maria Domingas Carvalhosa, CEO da Wisdom Consulting
Os social media trouxeram à sociedade atual um enorme avanço comunicacional. Promoveram uma maior comunicação entre as pessoas, aproximaram as empresas e as marcas dos seus clientes e consumidores e facilitaram a distribuição de informação bem como a sua democratização. Hoje, temos cidadãos mais informados, comunicação instantânea e a vida de pessoas e organizações facilitadas.
Mas como tudo o que traz benefícios os social media também trouxeram um vírus que tem vindo a propagar-se, principalmente, junto dos adolescentes: o cyberbullying.
Na passada semana, e na data em que se assinalou o Dia Mundial de Combate ao Bullying [20 de outubro], o ISCTE apresentou um estudo que confirma que, durante os meses de confinamento, 60% dos estudantes portugueses foram vítimas de cyberbullying.
A PSP aproveitou o momento para alertar para o facto de cada vez mais crianças e jovens serem alvo destas ameaças. O Governo anunciou o reforço na formação de professores e trabalhadores das escolas como medida necessária para identificar e lidar com o problema de uma forma mais esclarecida.
Todos os alertas e medidas para combater esta ‘pandemia’ parecem-me certas, mas o que me preocupa muito é o que está na base deste problema: a maioria do cyberbullying é efetuado, cobardemente, de forma anónima. E não existem formações para professores que permitam resolver situações contra terceiros não identificados.
Desde sempre que existiu, e mal, o bullying. Quer nas escolas, quer na vida em sociedade. A ‘lei do mais forte’ é uma realidade triste com que temos convivido ao longo dos tempos e que tem prejudicado os mais indefesos. Falo das crianças, dos idosos, das mulheres e de alguns homens ou ainda dos que não apresentam o padrão físico considerado ideal pelos canones sociais. Obesidade, estrabismo ou miopia, altura e forma de vestir são alguns dos padrões que, muitas vezes, dão origem a ‘mimos’ que nos adolescentes podem ser a causa de graves problemas psicológicos e, em última instância, do suicídio.
Não se admite que tudo isto se passe a coberto do anonimato. E por dois motivos: o primeiro é que não podemos deixar nascer uma geração de gente cobarde e, o segundo, porque os agressores não podem ficar sem punição.
Até à existência dos social media combatia-se um bullying com rosto. O que se tornava mais fácil já que os agressores eram facilmente identificáveis e, como tal, sofriam, quando possível, a consequência dos seus atos.
Seis em cada dez jovens foram cobardemente perseguidos nas redes sociais durante a pandemia… e quem pensa que este número não vai aumentar está enganado. É que os agressores não são muitos, mas têm várias caras e a capacidade de agredir – sim bullying ou cyberbullying são formas de agressão – grande parte da nossa juventude.
Se queremos deixar um mundo decente para os nossos filhos e netos temos que lhes ensinar, hoje, que a cobardia é dos piores defeitos de caráter do ser humano. Não há vacina, para além desta, que valha a esta pandemia.
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