O avanço na igualdade de género começa com o fim da sub-representação

Leonor Carvalho, strategic account executive na Salesforce e representante da Salesforce’s Women's Network em Portugal, defende que para construir um local de trabalho que seja realmente um reflexo da sociedade, as mulheres precisam de estar representadas em todos os níveis, principalmente nos conselhos de administração e demais posições de liderança.

Leonor Carvalho é strategic account executive na Salesforce e representante da Salesforce’s Women's Network em Portugal.

Mesmo na luta contra a crise pandémica, existem outras crises que não podemos ignorar, nem contra as quais podemos deixar de lutar. A desigualdade continua a ser uma delas, nomeadamente no que respeita às mulheres, que ainda sofrem de discriminação, ainda têm um acesso desigual à educação ou aos cuidados de saúde, e ainda não atingiram a igualdade salarial. De acordo com o Fórum Económico Mundial (FEM), nenhum de nós viverá num mundo com igualdade de género, e provavelmente muitos de nossos filhos também não. Juntamos ainda o facto da pandemia ter tido um impacto desproporcionalmente negativo sobre as mulheres, fazendo com que este fosso continue a alargar-se.

Vem mais do que a propósito que o tema da ONU para o Dia Internacional da Mulher, a 8 de março, seja “Mulheres na liderança: Alcançar um futuro igual num mundo COVID-19”. A verdade é que todos beneficiamos quando as mulheres são tratadas igualmente e este deve ser um objetivo global pelo qual todos nós devemos trabalhar, inclusivamente nas nossas empresas e locais de trabalho. No Dia Internacional da Mulher, devemos celebrar o que as mulheres conseguiram e conseguem todos os dias. Devemos também aproveitar esta oportunidade para refletir sobre os passos que as empresas estão a tomar, e quais os que podem e devem dar para promoverem a igualdade de género e proporcionarem maiores oportunidades de liderança.

Embora a flexibilização do trabalho tenha o potencial de permitir um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, se não for implementada com cuidado, pode colocar em risco anos de desenvolvimento da igualdade salarial de profissional.

Também de acordo com o relatório do FEM, existem três razões essenciais para a persistência de elevados níveis de desigualdade de género. Em primeiro lugar, as mulheres têm maior representação em cargos que estão a ser automatizados. Segundo, as mulheres enfrentam o persistente problema da insuficiência da infraestrutura de cuidados e do acesso ao capital. Terceiro, não há um número suficiente de mulheres a ingressar em profissões onde o crescimento salarial é mais pronunciado. A indústria tecnológica é um exemplo óbvio onde as mulheres continuam a estar significativamente sub-representadas.

Para agravar, houve novas barreiras à participação e liderança das mulheres que surgiram durante a pandemia. Continuamos a ver que as mulheres suportam uma carga de responsabilidades ainda maior na educação dos filhos em casa, criando um impacto desproporcionalmente negativo no seu progresso no local de trabalho. De acordo com as estimativas da McKinsey, a taxa de desemprego feminino é 1.8 vezes superior do que o desemprego masculino a nível global. Embora a flexibilização do trabalho que se espera ver daqui para a frente tenha o potencial de permitir um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, se não for implementada com cuidado, estas mudanças irão colocar em risco anos de desenvolvimento da igualdade salarial de profissional.

O maior desafio é lidar com a sub-representação das mulheres em funções emergentes, como computação cloud, engenharia, análise de dados e inteligência artificial. Com um foco na melhoria de competências e na requalificação, as estratégias de RH devem garantir que as mulheres estejam melhor equipadas para superarem desafios e aproveitarem as oportunidades que a economia digital oferece. Alargar a participação é um assunto, oferecer oportunidades para liderança é outro. Para realmente promover a igualdade de género, devemos considerar todo o ciclo de vida dos colaboradores, desde a forma como atraímos e recrutamos talento, até à forma como investimos no seu desenvolvimento.

Criar uma cultura de igualdade não é apenas o mais correto, mas é também o mais inteligente. Estudos têm demonstrado que um local de trabalho diversificado é sempre mais lucrativo. Adotar práticas de contratação para a diversidade, e programas de formação que mitiguem os preconceitos, liga as empresas a candidatos que de outra forma não teriam sido apresentados. Nos casos em que as mulheres se afastaram da sua carreira, os negócios têm a responsabilidade de as apoiar na sua viagem de volta ao trabalho. Tudo o que fazemos deve ser sustentado por um compromisso de salário igual para trabalho igual.

Para construir um local de trabalho que seja realmente um reflexo da sociedade, as mulheres precisam de estar representadas em todos os níveis de carreira, principalmente nos conselhos de administração e demais posições de liderança.

Para construir um local de trabalho que seja realmente um reflexo da sociedade, as mulheres precisam de estar representadas em todos os níveis de carreira, principalmente nos conselhos de administração e demais posições de liderança. Para que isto seja possível, as empresas precisam de apoiar as mulheres em qualquer nível da sua carreira, ao investir no desenvolvimento de programas de liderança e em processos de promoção e evolução mais inclusivos. A justiça no trato, a igualdade de oportunidades, o reconhecimento do sucesso e a amplificação da visibilidade irão levar mais mulheres a posições de liderança e irão inspirar muitas outras a subirem aos mesmo patamares. Num mundo cada vez mais digital e mais marcado pelo trabalho remoto, as empresas têm uma responsabilidade acrescida na criação de um ambiente igualitário, justo e inclusivo que trespasse as paredes do escritório para o mundo virtual também.

A desigualdade é responsabilidade de todos. À medida que as economias emergem da pandemia, devemos aproveitar esta oportunidade para criar um melhor local de trabalho, proporcionar empregos com significado e priorizar iniciativas de requalificação para que todos os grupos sub-representados possam prosperar. Os negócios podem ser a maior plataforma para uma mudança positiva neste sentido – defender, investir e ajudar mais mulheres a assumirem papéis de liderança. Juntos, criamos uma sociedade mais inclusiva do que a que tínhamos antes, onde todos se sentem vistos, ouvidos e valorizados.

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