Leonor Ferreira é licenciada em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa, em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e é doutorada em Gestão de Empresas pela Universidade Lusíada, tendo ainda um MBA pela Nova SBE.
Começou o seu percurso enquanto docente em 1982, com o cargo de assistente, no ISEG, onde lecionou Introdução ao Estudo da Empresa, Gestão Financeira e Fiscalidade, e no qual permaneceu até 2003. Desde esse ano que é Professora Associada Convidada na School of Business and Economics da Universidade Nova de Lisboa, lecionando Contabilidade Financeira nas licenciaturas em Economia e Gestão, Financial Statement Analysis nos programas de mestrado e matérias de Financial Accounting no LisbonMBA da Católica-NOVA. É igualmente investigadora do centro de investigação INOVA, na Nova SBE, e orienta teses de doutoramento e dissertações de mestrado, na mesma instituição.
É também sócia na sociedade Rogério Fernandes Ferreira e Associados, que se dedica à consultoria em áreas como viabilidade financeira, gestão, contabilidade e fiscalidade, e autora de diversos livros e de artigos publicados em revistas técnicas e científicas.
Casada e com três filhos, Leonor Ferreira afirma que a sua relação com o dinheiro é “de grande respeito”, encarando-o “mais pelo lado do custo e esforço de obtenção do que pela óptica da utilidade e retorno que pode gerar.”
Recorda-se do seu primeiro emprego e o que fez com o primeiro salário?
Tive o meu primeiro emprego na Universidade de Lisboa, ao tempo Instituto Superior de Economia, onde desempenhei funções de assistente estagiária na licenciatura em Gestão de Empresas. A primeira aula versou justamente sobre valorimetria na inventariação de bens e foi dada ao terceiro ano, numa turma do curso noturno, onde os alunos eram trabalhadores e todos mais velhos do que eu. O meu primeiro salário rondou os 30 mil escudos [cerca de 150 euros]. Nessa época, os funcionários públicos recebiam o vencimento através de um banco estatal.
O primeiro investimento que me lembro de ter feito aconteceu mais cedo, em 1977, quando frequentava o primeiro ano da faculdade: uma serigrafia de Manuel Cargaleiro, que custou sete mil e quinhentos escudos. Ainda hoje a conservo e gosto muito dela.
Adio o consumo atual, com vista a poder consumir mais no futuro. Tenho presente que um euro hoje disponível vale mais do que um euro que esteja disponível apenas amanhã.
Como define a sua relação com o dinheiro?
A minha relação com o dinheiro é de um grande respeito, pois encaro-o mais pelo lado do custo e esforço de obtenção do que pela óptica da utilidade e retorno que pode gerar. Tenho presente que é um recurso escasso e que, por isso, obriga a optar criteriosamente entre alternativas.
Mesmo quando um investimento proporciona ganhos inferiores ao desejado, o processo de análise do investimento em si e de atribuição de valores dá-me satisfação. Adio o consumo atual, com vista a poder consumir mais no futuro. Tenho presente que um euro hoje disponível vale mais do que um euro que esteja disponível apenas amanhã.
Qual foi o melhor conselho que já recebeu (em matéria financeira)?
Recebi bons conselhos sobre investimento na universidade e em exemplos de família. Encontrei também conselhos com grande utilidade em textos de Aswath Damodaran, um professor cujo conhecimento em matéria de avaliação é muito sólido.
O investimento gera retorno, rendimento que deveremos maximizar. Mas tem de ser financiado e o financiamento tem um custo que procuraremos sempre minimizar. Investir comporta risco. Se arriscamos mais, o rendimento torna-se mais incerto, mas poderá ser maior (mas também a perda pode ser maior).
Qualquer decisão de investimento é sempre comparativa. Melhor do que os números absolutos – os euros, por exemplo – são as percentagens ou outro tipo de medida comparativa, pois permitem comparar investimentos de diferente magnitude ou expressos em moedas diferentes.
O valor de um activo é sempre subjectivo. Cada activo vale pelo quanto custa obtê-lo, mas também pelo uso que dele podemos fazer ou pelo rendimento que permita realizar quando nos privamos do uso do activo temporariamente ou de modo definitivo. As pessoas tendem a ver a avaliação como algo muito complexo, mas quanto mais simples for, melhor!
Escolho instrumentos financeiros simples e que compreendo bem, obrigações de empresas que conheço.
Como escolhe os seus investimentos?
Como investidora prudente, avalio os meus investimentos antes de decidir fazê-los, seja para comprar, vender ou simplesmente nada fazer (manter).
Sigo duas abordagens diferentes na avaliação. Umas vezes, privilegio os cash flows esperados que o activo gera ao longo da vida e atento na incerteza na obtenção desses fluxos de tesouraria. Outras vezes, observo como foram transacionados activos semelhantes. Aceito os investimentos que estão subavaliados, ora por uma ou por ambas as perspectivas. Pondero o rendimento futuro e incerto do investimento e o custo de obter os recursos necessários a esse investimento.
Escolho instrumentos financeiros simples e que compreendo bem, obrigações de empresas que conheço. Invisto geralmente em dívida corporativa a médio e longo prazo, tanto quanto possível, tentando acompanhar operações de emissão, no mercado primário. Não compro o que não compreendo, nem o que conheço mal. Os meus investimentos em activos financeiros são feitos em múltiplos de dez, cem, mil, para comparar as rendibilidades sem necessidade de cálculos complexos.
Invisto em pintura portuguesa contemporânea e marginalmente também em cerâmica. Uma ou outra vez, diversifiquei para o sector imobiliário, para arrendamento, procurando imóveis em que me revia a poder aí habitar. Encontro prazer na criatividade das obras e da decoração.
Qual foi o melhor investimento que fez até hoje?
O meu melhor investimento não foi financeiro, nem aconteceu no âmbito da actividade profissional. É nos meus três filhos e com a família que saboreio o melhor retorno. E também nos tempos de leitura e estudo e em viagens. Em todos estes meus investimentos, a longuíssimo prazo, o valor é grande e pauta-se por critérios que não se esgotam em parâmetros e variáveis de análise financeira.