A semente da Bioalvo veio de Londres, onde Helena Vieira, então com 26 anos e a terminar o doutoramento, recebeu um e-mail de um amigo acerca de um concurso de ideias: Bioempreendedor Ibérico. O e-mail não era inocente, pois Helena estava numa fase da vida em que não sabia o que fazer a seguir. Não queria continuar no laboratório, sem ver resultados práticos da investigação, por isso agarrou a oportunidade, mesmo sem imaginar onde ela a poderia levar. Juntou um grupo de amigos e conhecidos, e candidataram-se com uma ideia: usar levedura para descobrir medicamentos que curassem doenças neurológicas. Ganharam!
Corria o ano de 2002. Só depois de outros concursos ganhos e de muitos planos de negócios desenhados e reescritos é que tiveram uma reunião com uma sociedade de capital de risco portuguesa, a PME Investimentos, que, em conjunto com a PME Capital, lhe ofereceu 1,3 milhões de euros em troca de 48% do capital da empresa, que ainda nem sequer existia. Foi um dos maiores investimentos em startups das ciências da vida em Portugal, até àquela data, e apoiava apenas uma ideia que vinha no papel e não era, sequer, fruto de uma investigação. “Primeiro convencemos os outros, e depois é que nos convencemos a nós”, diz Helena Vieira, que se tornou CEO da Bioalvo quando a empresa nasceu, em 2006.
Em pouco tempo, tinham 14 patentes registadas e potenciais clientes interessados em parcerias e negócios. Terminado o primeiro ciclo de desenvolvimento, precisavam de mais dinheiro, o que é natural nas empresas de ciências da vida: desenvolver um medicamento custa, em média, mil milhões de euros e implica entre 14 e 16 anos de pesquisas e ensaios clínicos. Falaram com 128 investidores em todo o mundo e, quando tudo parecia bem encaminhado com duas capitais de risco, a crise desencadeada pela queda do Lehman Brothers, em 2008, fê-las recuar. Sem dinheiro, foi preciso encontrar um novo caminho.
Nos três anos seguintes, renasceram como empresa que explorava os recursos marinhos recolhidos no fundo do mar português, os quais eram depois utilizados nas indústrias farmacêutica, cosmética, têxtil e alimentar. Desenvolveram uma espécie de “Botox marinho”, que prometia revolucionar a cosmética, mas nem tiveram tempo de lucrar com a descoberta, pois a sua maior acionista decidiu vender a participação, decisão que determinou o encerramento da Bioalvo. Foi o fim do sonho de Helena Vieira, mas não da sua veia empreendedora.
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