Portugal esgotará os seus recursos naturais para o ano de 2020 no próximo dia 25 de Maio (info Earth Overshoot Day)! Quer isto dizer que, a partir desta data, e até ao final do ano, teremos de pedir crédito ao futuro para continuar a viver nas condições em que temos vivido até hoje. Em 2021, previsivelmente por volta do 5.º ou 6.º mês do ano, voltaremos a esgotar os meios naturais disponíveis, e assim sucessivamente, todos os anos, colocando-nos invariavelmente numa situação de endividamento ambiental, com um juro bem alto a pagar: em última instância, a nossa sobrevivência!
Se a internet fosse um país, ela seria o 6.º maior consumidor de energia.
Curiosamente, enquanto nos focamos na pegada ambiental, tendemos a ignorar os efeitos do crescimento exponencial do denominado mundo digital. Um pequeno documentário no canal informativo Brut, no YouTube, refere que se a internet fosse um país, ela seria o 6.º maior consumidor de energia. Os Data Centers consomem energia elétrica e emitem CO2 numa quantidade gigantesca, todos os dias, na mesma medida que uma cidade com 30 mil habitantes. Isto é colossal e é preciso minimizar esse impacto. Alguns países implementaram já, entre outras medidas, meios técnicos para o aproveitamento do calor emitido pelos centros de dados para aquecer casas, água e piscinas, revelando que esta consciência social está cada vez mais viva e que a tecnologia está apta a desempenhar uma função preponderante na proteção do ambiente.
As alterações climáticas, a degradação dos ecossistemas e a destruição das biodiversidades estão na ordem do dia e constituem uma verdadeira preocupação mundial, com efeitos inevitáveis nas políticas públicas, na forma como consumimos ou nos organizamos socialmente. A agenda política tenderá a mudar. No terreno europeu essa preocupação está refletida no Programa de Trabalho da Comissão Europeia para 2020. Este programa desenha um plano de transição, para a próxima década, com destino a “uma Europa justa, apta para a era digital e com impacto neutro no clima”.
Leu o que escrevi? … Agora esqueça! Esta prioridade está adiada! O Covid – 19 surgiu e o Mundo, tal como o conhecíamos, deixará de existir, para dar lugar a uma nova realidade, com novas preocupações, perceções e primazias sociais e económicas.
O sistema de valores da sociedade irá (e está já a) sofrer uma mudança enorme e abrupta, colocando no centro o bem-estar das pessoas, da sociedade e do ambiente.
Estamos a viver uma época absolutamente histórica, que vai implicar a alteração definitiva de paradigmas, que influenciarão a nossa forma de estar, trabalhar, alimentar e viver. Não há retorno. Temos de nos reajustar e reinventar, tal como todas as sociedades anteriores o fizeram depois de uma crise sanitária, económica ou bélica.
O inimigo invisível, como lhe chamou Emmanuel Macron há uns dias, é a maior crise sanitária do nosso tempo e a sua extensão geográfica é, sem dúvida, fruto da globalização, da liberdade de circulação e da nossa vontade de percorrer a Terra. O vírus apanhou-nos desprevenidos e o Mundo teve de parar para se orientar neste mapa de tragédia social, com milhares de vidas ceifadas e desemprego. Não temos uma noção real do que está a acontecer e desconhecemos ainda qual será a dimensão dos seus efeitos, mas sabemos que, no melhor dos cenários, implicará uma recessão económica mundial profunda, que perdurará por vários anos e que exigirá de cada um dos Estados, e de cada um de nós, um espírito resiliente hercúleo e um novo paradigma de criatividade, solidariedade e trabalho. O sistema de valores da sociedade irá (e está já a) sofrer uma mudança enorme e abrupta, colocando no centro o bem-estar das pessoas, da sociedade e do ambiente.
O aparecimento do vírus fez-nos sentir na pele a urgência da alteração dos modos de produção, de consumo e de trabalho e esse sentimento fará com que todos nós, mais de mote previdente do que empreendedor, inventemos uma nova realidade que nos sirva melhor e proteja no futuro.
Numa época de endividamento ambiental, e de contenção e resguardo determinada pela necessidade quase compulsiva de proteger a saúde pública, tudo se deverá adequar aceleradamente ao digital, por forma a evitar a estagnação total da economia mundial. Rapidamente nos estamos a adaptar ao tele-trabalho, à tele-medicina, e ao ensino virtual. O universo digital, que já fazia parte do nosso quotidiano, assumiu agora uma preponderância óbvia por ser um instrumento indispensável para garantir o funcionamento da economia e do bem-estar da população.
Segundo informação do website de escopo ambiental Carbon Brief, a pandemia gerou uma redução de 25% de emissões de CO2 na China.
O Covid-19 gerou o encerramento de indústrias, a redução da circulação de transportes terrestres, marítimos e aéreos, com a diminuição concomitante da emissão de CO2 e um impacto ironicamente positivo no ambiente. Segundo informação do website de escopo ambiental Carbon Brief, a pandemia gerou uma redução de 25% de emissões de CO2 na China. Resultados similares deverão verificar-se no resto do Mundo – não deixa de ser marcante a imagem que vimos há uns dias na comunicação social, de cisnes e patos a passear no vazio das águas, agora cristalinas, dos canais de Veneza. Tudo indica que será uma redução temporária, que cessará quando findarem as quarentenas e as nossas vidas voltarem ao normal, com a agravante da avidez, que quase todos nós sentiremos, de voltar a circular de forma regular pelas ruas e pelo mundo.
Se atentarmos ao facto da redução de emissões de CO2 ser suscetível de evitar milhares de mortes pelo mundo fora, não será despiciente aproveitar este período de quase paragem forçada para a reflexão e reinvenção dos nossos negócios de forma a alinha-los com as preocupações ambientais e o digital, se quisermos viver num mundo melhor e estar preparados para a eventualidade de uma nova catástrofe sanitária que venha a ocorrer no futuro.
Daqui a uns meses, quando esta crise passar, e na medida em que a nossa capacidade financeira o permitir, voltaremos a consumir e a economia voltará a erguer-se, ainda coxa e a medo, mas diferente, com outra consciência e seguindo, desejavelmente, as tendências já recomendadas anteriormente, dentro do espírito da economia circular, aproveitando mais e melhor todas as energias e sinergias e evitando a utilização de recursos naturais; uma economia em que “nada se perde, tudo se transforma” e com a tecnologia a desempenhar, comprovadamente, uma função fulcral no nosso bem-estar e prosperidade.
Demorará algum tempo, mas depois da tempestade virá a bonança!
#vamostodosficarbem