Empreendedores: ser homem ou mulher tem impacto no financiamento?

Um estudo norte-americano analisou as perguntas feitas por investidores a empreendedores de ambos os sexos e descobriu diferenças de posicionamento que podem ser determinantes na atribuição de financiamento.

Os investidores de risco querem saber coisas diferentes dos candidatos a financiamento, consoante o seu género diz uma pesquisa publicada na Harvard Business Review.

Dois empreendedores, um homem e uma mulher, cada qual procurando fazer crescer o seu negócio com o financiamento de fundos de capital de risco. Será que as questões que os investidores colocam a um e a outro são idênticas? A sua perceção e juízos de valor diferem em função do género do empreendedor que têm à frente, mesmo sem darem por isso?

Uma pesquisa de investigadores da Universidade de Columbia, publicada na Harvard Business Review, quis aprofundar esta questão, num país onde as empreendedoras recebem apenas 2% do financiamento entregue por fundos de capital venture, apesar de serem donas de 38% das empresas norte-americanas.

Durante o TechCrunch Disrupt New York, uma competição de financiamento para startups, a equipa observou as interações entre 140 investidores de risco (40% dos quais mulheres) e 189 empreendedores — dos quais apenas 12% eram do género feminino. O estudo seguiu as posteriores rondas de financiamento das startups lançadas durante esse evento. Apesar de serem semelhantes em termos de qualidade e necessidades de capital, aquelas que eram lideradas por homens conseguiram angariar cinco vezes mais investimento do que as dirigidas por mulheres.

O estudo concluiu também que aos homens se perguntava, tendencialmente, sobre potenciais ganhos, enquanto com as mulheres as questões se centravam mais em potenciais perdas: 67% das questões dirigidas a eles eram orientadas pela ideia de “promoção”, focando-se em conceitos de conquista, desenvolvimento, ideais e esperança, enquanto que para as mulheres 66% das perguntas tinham uma orientação “preventiva”, centrando-se em questões como segurança, responsabilidade ou vigilância.

Por exemplo: se a um empreendedor perguntavam “como planeia ganhar dinheiro com esta ideia?”, a uma empreendedora questionavam sobre quanto tempo demoraria a atingir o break even, em que deixaria de ter prejuízo. Se, em termos de projeções a curto prazo, queriam saber “quais as metas que estabeleceu para a sua empresa, este ano”, sempre que falavam com um homem, com uma mulher a pergunta tendia a ser sobre a previsibilidade da liquidez da sua empresa. Este enviesamento era encontrado tanto em investidores do sexo masculino como do sexo feminino, dizem os investigadores.

Concluíram que afinal existe uma correlação entre o tipo de perguntas feitas e o montante de capital atribuído: aqueles a quem eram colocadas questões “preventivas” reuniram, em média, 2,3 milhões de dólares em fundos, significativamente menos do que a média de 16,8 milhões angariada pelos empreendedores a quem eram feitas perguntas com foco mais positivo e de promoção.

As conclusões deste estudo vão ao encontro de uma outra pesquisa feita na Suécia e publicada em maio passado, e onde se analisou a forma como investidores governamentais suecos falavam de empreendedores de ambos os géneros. Enquanto os jovens empreendedores masculinos eram descritos como “promissores”, as jovens eram vistas como “inexperientes”; quando eles eram caracterizados como “cautelosos, sensatos e com a cabeça no lugar”, elas eram descritas “pouco ousadas e demasiado cautelosas”. Previsivelmente, as mulheres reuniam apenas entre 13 e 18% do montante total de financiamento.

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