Tatiana Gradil Madureira, portuguesa nascida na África do Sul desde cedo se sentiu “atraída por papéis de liderança”, começando pela Associação de Estudantes da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, onde se licenciou em Economia. Durante oito anos (de 2013 2021) trabalhou no mundo do retalho, como district e area manager da Intimissimi, do grupo Calzedonia. “Com o passar do tempo, apercebi-me que o meu percurso na Calzedonia tinha atingido o seu auge. Mas a história estava longe de terminar”, conta.
Inspirada por dois fortes modelos de liderança, os seus pais, engenheiros que saiam para o trabalho com um blazer vestido, decidiu lançar a sua própria marca. “Olhando para a minha mãe, numa visão a longo prazo, eu sentia que poderia ser uma boa mãe, uma boa companheira e ainda ter uma carreira profissional. Para mim, a confiança nunca teve a ver com o género”, conta. “Mas depois olhei em meu redor e percebi que a minha visão não era igual à da maioria: a igualdade de género não era um direito e sim ainda um estatuto a ser conquistado. Esta diferença despertou-me e levou-me a criar a Emblazer.” A marca pretende reinventar um must-have em qualquer guarda-roupa executivo, o blazer, com o objetivo de empoderar as mulheres, aumentando a confiança de quem o use. Tendo a economia circular como valor, a marca integra tecidos de stock morto e materiais reciclados.
A empreendedora conta como surgiu e deu forma a esta ideia.
Existe uma Tatiana antes da criação da Emblazer. Como foi o seu percurso até chegar aqui?
Sou formada em Economia com mestrado em Gestão de Design e trabalhei durante oito anos no retalho, num grupo italiano de referência no setor que me permitiu fazer um percurso dinâmico e diversificado no País inteiro. Sempre assumi cargos de liderança, que envolveram gestão de equipas, definição de objectivos comerciais e controlo de stock e estratégicas de marketing e comunicação. Não só pelo o crescimento a nível profissional mas também pela forma activa como sempre me envolvi no associativismo académico, percebi desde cedo que me identificava com a ideia de motivar e gerir equipas que levassem a cabo ações com propósitos claros que estimulassem o espírito crítico, a criatividade e que tivessem um forte impacto social.
Como surgiu a ideia da Emblazer?
Desde cedo que tive o privilégio de crescer com dois exemplos de liderança, os meus pais. Liderança na forma como ativamente viviam a vida e equilibravam tão bem tanto a pessoal com a profissional. Ambos foram engenheiros e, por isso, para mim, a competência nunca teve um barómetro baseado no género. Eram ambos presentes e ativos na minha educação e como mulher, olhando para a minha mãe a longo prazo, sempre senti que uma carreira bem sucedida não impedia que fosse boa companheira e boa mãe. Mas, olhando em meu redor, desde a escola, faculdade e até quando ingressei no mercado de trabalho, fui-me apercebendo que não era uma realidade comum às outras: a igualdade não era um direito e, sim, ainda um posto para ser conquistado. Desta forma decidi criar a Emblazer para, não só mostrar, como inspirar através dos meus role models que o empoderamento do outro e das mulheres deve ser feito e celebrado diariamente.
O processo para me tornar empresária surgiu como resultado da minha ambição de empoderar as mulheres através de algo criado e idealizado por mim, com o culminar de oito anos de experiência em fast fashion, num cargo de liderança que já me dava o conforto suficiente para sentir vontade de abraçar um novo estímulo e desafio. Desta forma, querendo quebrar não só o paradigma de que o blazer é associado a um produto na sua origem masculino, mas também querendo inovar através de uma solução que contribua para uma economia cada vez mais circular, quis diferenciar a Emblazer pelo seu foco em design exclusivo, qualidade e pequena escala, feita a partir de deadstock de grandes produções têxteis portuguesas.
One woman show
Como montou o negócio?
A Emblazer foi criada com fundos próprios e é neste momento um one woman show, no que respeita às funções core da marca. Sou eu que crio e idealizo os produtos, faço toda a gestão da estratégia da marca a nível comercial e de comunicação, bem como a seleção e contacto de todos os fornecedores a confecionadores.
Como conquistou os primeiros clientes?
Os primeiros clientes surgiram pelo marketing word of mouth e através da presença em feiras de moda B2B e B2C, a nível nacional e internacional.
Quais os principais trabalhos desenvolvidos?
Destaco, como mais diferenciadores, a criação de blazers personalizados, por encomenda, visto que o processo criativo tem como ponto de partida os excedentes de tecidos disponíveis de grandes produções da nossa indústria têxtil.
Quais os principais desafios que teve de enfrentar ?
Diria que os mesmos se prendem com a conquista da confiança na marca junto dos consumidores, pois o fator novidade questiona sempre a qualidade de uma marca desconhecida e para isso é preciso resiliência, clareza e transparência na comunicação e presença da marca no mercado.
Que aprendizagens fez enquanto empresária e que erros não voltaria a cometer?
Considero que a principal aprendizagem se relaciona com o medo. O medo de falhar e de não corresponder às expectativas por nós criadas, muitas vezes, contribuem para o adiar de tomadas de decisão que, se tivessem sido feitas anteriormente, dariam mais margem para se testar, amadurecer e receber feedback de estratégias a implementar numa nova versão já melhorada.
Por isso, confiar mais no processo e arriscar mesmo com medos é algo determinante para que a curva de aprendizagem enquanto empreendedora seja mais célere e acentuada.
Quais os sonhos para o futuro?
Ser uma marca top of mind de blazers no mercado nacional e europeu e conseguir ter um impacto social tangível na vida de mulheres que ainda desacreditam nas suas capacidades por crenças sociais e culturais enraizadas e sentidas como irreversíveis. Até lá, a Emblazer procura ser um boost de confiança para quem a vestir.