Texto de Maria Domingas Carvalhosa, CEO da Wisdom Consulting
Na minha área profissional, de consultoria de comunicação e public affairs, tenho habitualmente como interlocutores, pelo lado do cliente, os mais altos quadros das empresas, os líderes. E, invariavelmente, 98% dos mesmos são homens.
Não é necessário fazer um estudo muito aprofundados para saber que o território da liderança está praticamente todo ocupado por homens. Basta, por exemplo, almoçar num dos chamados ‘restaurantes de negócios’ para encontrar, sentados à mesa, oitenta homens e quatro mulheres. Quem os frequenta sabe que é assim.
Poderíamos pensar que a razão estaria no facto de uma mulher considerar que um almoço de negócios, de três horas, é uma perda de tempo, o que não seria mentira, mas na verdade o caso é mais complexo
Embora a situação tenha vindo a mudar, ligeiramente, com os anos, é um facto que a partir de um certo patamar de liderança a mulher não desenvolve. Com os mais de 25 anos de experiência de trabalho, este facto tem-me vindo a intrigar pelo que já gastei algum tempo a pensar sobre o tema. Cheguei a algumas conclusões, pessoais, que partilho.
Nas PME’s, cujo número de mulheres líderes é superior, em termos relativos, ao setor das grandes empresas, não tenho dúvidas de que uma boa parte destas lideranças foram conquistadas através do empreendedorismo. É o meu caso e o de muitas mulheres que conheço. Sou líder porque criei empresas.
Por outro lado, as multinacionais, na sua grande maioria, prezam muitíssimo o mérito profissional, pelo que o número de multinacionais lideradas por mulheres é relevante.
A questão da falta de liderança feminina sente-se essencialmente nas grandes empresas nacionais, mormente, nas que integram o PSI 20.
Mas a questão da liderança das mulheres nas empresas só é relevante se considerarmos este fator principal: a vontade da mulher a ascender a um cargo de liderança já que, assim como qualquer homem, uma mulher pode não querer ou não considerar relevante desenvolver-se profissionalmente a partir de um certo nível. Se não é essa a sua vontade, esta deve ser respeitada.
Mas se pelo contrário a sua vontade é a de crescer profissionalmente até ao topo e se merece esse lugar, as oportunidades devem ser iguais. Não faz sentido que uma mulher de grande competência e dedicação que aspira a uma boa evolução profissional não a veja chegar pelo facto de ser mulher. E nestes casos, não tenho dúvidas, que existirão vários atropelos ao mérito. Se existem tantas mulheres que chegam ao topo nas universidades, porque não o atingem nas empresas.
A causa maior é, sem sombra de dúvida o conservadorismo social português que teima em mudar. Daí que, ao contrário do que sempre preguei na minha vida, hoje, seja a favor de legislação que proteja o mérito das mulheres. Deverá ser uma medida transitória que dê um empurrão para a mudança.
Mas existe outro fator que não devemos desconsiderar que tem a ver com a própria postura das mulheres nas empresas. Do alto dos meus cinquenta e quatro anos atrever-me-ia a dizer que a mulher portuguesa ocupa muito pouco espaço no território profissional. Devia ocupar mais. Devia intervir sempre que considere que o deve fazer, deve ocupar mais espaço nas mesas de reunião, deve afirmar firmemente as suas qualidades profissionais como elas são, e não construir características clonadas de comportamentos masculinos. A liderança feminina é necessariamente diferente da liderança masculina e é por isso que é valiosa.
O facto de ainda sermos mães, avós, cuidadoras e mulheres não nos deve diminuir, mas sim fortalecer e orgulhar. Temos características que nos permitem ocupar competentemente muito espaço nas várias vertentes da nossa vida. E com sucesso, em todas elas. Pensem bem… é uma questão de ocupar mais espaço.
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