Carla Baltazar é managing director responsável pela área de Operations da Accenture Portugal. Licenciada em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico, tem mais de 18 anos de experiência profissional em consultoria de tecnologias de informação para clientes nacionais e internacionais. Entrou na Accenture em 2001 e nos últimos anos especializou-se na gestão de serviços e outsourcing de processos de negócio com componentes inovadoras como automatização.
Licenciou-se em Engenharia Química e iniciou a carreira na consultoria. Quais as razões que a levaram a tomar estas duas decisões, aparentemente dissonantes?
A escolha pela Engenharia Química surgiu naturalmente, na sequência do gosto que fui desenvolvendo pela matemática e pela química. Já na faculdade, optei pelo ramo de processos por oposição à química aplicada por gostar de entender as várias etapas que decompõem um processo produtivo a nível industrial. Foi nesta altura que comecei a ter mais presente que, independentemente do processo ou da área a que me dedicasse, o que gostava era deste processo de “decompor” algo grande em várias partes, perceber as suas sequências e transformações em cada fase.
Quando vi um anúncio de recrutamento num jornal para a Andersen Consulting (recorte que guardo até hoje), que dizia “procuramos criatividade, dinâmica e vontade de aprender [..] para ajudar os seus clientes a construírem o seu futuro”, fiquei intrigada e decidi experimentar. Consciente que era um percurso diferente das carreiras possíveis para a minha formação, impus a mim mesma o prazo de um ano, no máximo, para avaliar se regressaria para a Engenharia Química. A verdade é que, muito antes desse prazo estar concluído, já tinha chegado à conclusão que estava apaixonada pela consultoria e que seria esse o meu futuro.
Mais do que pelo seu conteúdo, a minha formação dotou-me de uma metodologia de trabalho estruturada e, ao mesmo tempo, flexível para qualquer área de especialização.
O que trouxe da sua formação académica que lhe tem sido mais útil ao longo da sua carreira?
O curso de Engenharia caracteriza-se por ter uma componente horizontal sólida, baseada em matemática e em conhecimentos transversais de física, química e gestão. É esta base que me tem sido muito útil ao longo da carreira: a postura positiva ao abordar as situações complexas e a capacidade de decompor situações difíceis em componentes menores e de fácil resolução. Mais do que pelo seu conteúdo, a minha formação dotou-me de uma metodologia de trabalho estruturada e, ao mesmo tempo, flexível para qualquer área de especialização. A especialização em química, por exemplo, acabei por revivê-la num projeto onde redesenhámos os processos produtivos e seus sistemas de apoio, que incluíam uma fábrica, e foi bastante gratificante voltar a trabalhar com os conceitos aprendidos.
Quais é que considera serem os prós e os contras de trabalhar numa consultora?
Trabalhar numa consultora é muito positivo, uma vez que esta oferece a possibilidade de estar envolvida numa grande diversidade de projetos e de mudar de áreas de trabalho. Existe também uma motivação constante que estimula o desenvolvimento dos colaboradores. No entanto, a consultoria é uma área muito exigente. O trabalho é muito intenso, onde enfrentamos adversidades frequentes. Estar constantemente preparada para estas adversidades e para a intensidade inerente ao trabalho de uma consultora é muito desafiante.
Como tem conseguido manter-se sempre em evolução na sua carreira?
Trabalhar em consultoria requer uma atualização constante. É importantíssimo ter um espírito curioso e uma vontade de aprender continuamente, bem como uma grande capacidade de adaptação para que consigamos acompanhar a evolução (das indústrias, do mercado e das próprias formas de trabalho). Ser resiliente é também fulcral, pois, todos os dias, há obstáculos a superar e problemas a resolver.
O meu trabalho [como gender lead] passa por assegurar que existe uma cultura de igualdade na Accenture e esse é, indubitavelmente, um grande desafio diferente das minhas restantes experiências em projetos de consultoria.
Tendo já trabalhado em várias áreas dentro da Accenture, qual foi o seu maior desafio profissional?
Considero que o maior desafio e um dos mais gratificantes que tive na Accenture é o role de gender lead, no qual sou responsável por analisar a situação em que a empresa e a sociedade estão relativamente à diversidade de género e, consequentemente, desenvolver um plano e ações que ajudem a diminuir a gap existente entre a percentagem de mulheres e de homens no mercado. O meu trabalho passa por assegurar que existe uma cultura de igualdade na Accenture e garantir que o melhor talento não tem como obstáculo questões de género, e esse é, indubitavelmente, um grande desafio diferente das minhas restantes experiências em projetos de consultoria.
Quais os principais desafios que a sua área enfrenta atualmente?
A minha área, como tantas outras, encontra o seu maior desafio em manter-se continuamente à frente das tendências de mercado e em manter a relevância junto dos clientes, num momento em que os mercados são cada vez mais rápidos e não segmentados com limites claros de negócio e as necessidades dos clientes são cada vez mais exigentes.
Quais considera serem as competências críticas para ser um bom líder na sua área?
Acredito que, em qualquer área, um bom líder tem de ter um perfil humano. Na era da automatização, valorizar esse aspeto mais humano e as soft skills de cada um é cada vez mais importante. Na Accenture, as pessoas são o nosso melhor ativo e são o que nos permite oferecer um serviço único aos nossos clientes.
É também muito importante sentirmo-nos gratos diariamente, com as pequenas coisas do quotidiano, e apreciar as coisas boas da vida. O sucesso (também) é feito disto.
O que faz no seu dia a dia em prol da igualdade de género? E na Accenture, que medidas adotou, ou tem tentado adotar, para acelerar a chegada de mais mulheres à liderança?
Na Accenture, lido muito com o recrutamento. Procuro estabelecer medidas e práticas que celebrem o sucesso e motivem as mulheres a continuar a sua carreira e a evoluir, o que é conseguido também por verem outras mulheres a ocupar posições de liderança. A nível de sociedade, procuramos contribuir para combater os estereótipos de género e , em paralelo, destacaria também as iniciativas nas escolas e que queremos alargar para as camadas mais jovens da sociedade. É nessas idades que se instalam algumas ideias e preconceitos que, infelizmente, ainda são obstáculos para garantir um mundo mais equitativo.
Que hábitos diários contribuem para o seu sucesso?
Procuro descansar bastante (uma noite bem tranquila é essencial), ter uma alimentação saudável é muito importante, dando-me muita energia para lidar com a intensidade do trabalho, e procuro manter uma vida familiar estável, onde a cumplicidade é um aspeto chave. Para mim, é também muito importante sentirmo-nos gratos diariamente, com as pequenas coisas do quotidiano, e apreciar as coisas boas da vida. O sucesso (também) é feito disto.
Que conselhos daria a uma jovem no início de carreira?
Manter-se genuína. Empresas como a Accenture valorizam a diversidade de cada um e a sua identidade. E acreditamos que o caminho é este, para todas as empresas e profissionais. Mantenham-se curiosos, esforçados e disponíveis para aprender. A capacidade de adaptar-se a novas realidades ao longo do percurso profissional é importante para uma carreira de sucesso.