Nasceu numa aldeia perto de Fátima, numa família que sempre lhe permitiu ser o que quisesse. Aos 28 anos, Cristina Fonseca já tinha criado e deixado para trás uma empresa digital que pode vir a tornar–se num unicórnio (avaliada em mais de mil milhões de dólares) para “ter tempo para fazer outras coisas”. Não precisou de nascer na América para viver o sonho americano, mas precisou de ir à América para realizar o sonho de fazer algo com impacto.
Quando, em 2010, terminou o mestrado em Engenharia de Telecomunicações e Informática, no Instituto Superior Técnico, não ambicionava uma carreira numa grande empresa. Uma semana internada numa unidade de cuidados intensivos ajudou-a a perceber que desejava fazer algo que deixasse marca. Queria agir e não apenas reagir. E foi assim que, durante mais de um ano, se envolveu em vários projetos com o colega Tiago Paiva, sempre à procura de construir “algo grande”.
Depois de algumas ideias que iam dando para viver, mas não tinham grande potencial de crescimento, no verão de 2011 criaram a Talkdesk. A ideia, que surgiu para se candidatarem a um concurso que tinha como prémio um computador, foi a de criar um software que permite criar um call center na internet em cinco minutos. Trabalharam dia e noite, durante dez dias, o que lhes valeu o computador, o acesso às aceleradoras de Silicon Valley e aos milhões de dólares dos venture capitalists americanos que acreditaram na ideia. Em janeiro de 2016, os dois empreendedores integraram a lista Forbes 30 under 30, que identifica os jovens com menos de 30 anos que estão a mudar as empresas de tecnologia, e em 2017 a Talkdesk estava na lista Cloud 100, da Forbes, como uma das startups que se destacam a resolver alguns dos problemas das grandes empresas. Hoje, emprega 300 pessoas e estima-se que está avaliada em 500 milhões de euros.
No dia em que comunicámos a última ronda de investimento [21 milhões de dólares] cheguei a casa às onze e tal da noite e acabei a jantar douradinhos com espaguete, que era a única coisa que havia no frigorífico.
Crescer duas, três, quatro vezes por ano, como tem sido o caso da Talkdesk, não se faz sem esforço. Durante quatro anos, Cristina Fonseca foi o braço armado da startup em Portugal, a contratar e a manter a estrutura a funcionar, enquanto Tiago Paiva era o rosto do negócio nos Estados Unidos, embora sempre presente no dia a dia da empresa. O excesso de trabalho recordou-a de que estava, novamente, a reagir em vez de agir, e a opção foi deixar a empresa que criara e ajudara a crescer. Hoje continua ligada ao empreendedorismo, através de um fundo que investe em startups. Cristina conhece bem os venture capitalists, sabe qual o seu modus operandi e até onde se deve ir em troca dos seus milhares ou milhões de dólares.
Leia a entrevista com Cristina Fonseca no livro O Sucesso Não Cai do Céu, de Isabel Canha e Maria Serina. Compre-o aqui.